O GNOSTISMO
O termo gnose, advém do grego “gnosis”, e representa o conhecimento,
que os místicos atribuíam as eternas verdades espirituais e sobretudo a sua
maneira de se relacionar mais intimamente com Deus. O místico portanto, deve percorrer o caminho da purificação e da
iluminação, até o encontro final com Deus
interior. Esse caminho que visa a auto-realização, possui
muitos estágios e muitas vezes inclui o ascetismo, experiências
respiratórias e técnicas de meditação. Desta forma o místico é absorvido em
Deus, se perde em Deus, ou desaparece em Deus. Apesar da
literatura gnóstica mais conhecida, estar escrita inicialmente em copta ou
grego, é na antiga Índia que surgiu o Jnana ou Gnan, sendo parte essencial do
Gupta Vidya, que tem por significado “conhecimento
secreto”. Tempos mais tarde, esse conhecimento migrou para Grécia
convertendo-se em Gnôzis. O
sagrado Livro do Grande Invisível, conhecido como “Evangelho dos Egípcios”, foi escrito pelos terapeutas, a escola
essênia egípcia de agentes de cura e de
médicos que preservou grande parte da sabedoria hermética do antigo Egito e a
transmitiu para os gnósticos. A gnose, por sua vez, na antigüidade era conhecida como a ciência
superior dos magos e dos altos sacerdotes, e era considerada a grande detentora
do conhecimento sagrado. Todas as controvérsias que surgiram nos primeiros
séculos do cristianismo foram geradas, justamente pelo fato de a Gnose designar
conhecimento profundo das verdades espirituais em contraposição as verdades
dogmáticas que eram apresentadas aos fiéis por parte do clero. Algumas formas mais
conhecidas da Gnose ao longo dos tempos foram: O Hermetismo ou Mistérios de
Hermes, A Gnose Cristã, A Alquimia, Os Ensinamentos dos Templários, entre
outros.
Desta forma, a gnose, tornou-se um vigoroso movimento
religioso, difundindo-se para o ocidente
através das excursões guerreiras de Alexandre; O Grande, e que se consolidaram
através dos contatos com os sistemas teogônicos e religiosos do oriente que
começaram a se infiltrar no ocidente, tendo a Grécia como ponto de partida,
alcançando depois, todo o império Romano. A gnose se manifesta ao homem como
revelação através de mensagens, doutrinas secretas ou arcanas que são
transmitidas e confiadas aos iniciados ou eleitos. Os livros Herméticos, no
antigo Egito, eram uma coletânea dessas revelações que Hermes recebeu da
divindade e transmitiu para os iniciados como foi de seu discípulo Asclepíades.
Sabe-se, que o gnostismo não foi um movimento unificado, e que teve o seu
apogeu por volta dos séculos II e III. Na realidade existiam uma grande
variedade de gnósticos em vários movimentos religiosos e em épocas diferentes.
Cristãos, judeus, e pagãos comungavam dos mesmos princípios, e aplicavam esse
conhecimento dentro de suas doutrinas. Cabe-nos ressaltar, que muitos escritos considerados apócrifos pela Igreja
tem uma linguagem eminentemente gnóstica, sendo essa filosofia muito difundida
nos primórdios do cristianismo. Alguns gnósticos proeminentes faziam
parte da Igreja primitiva e ocupavam posições de destaque nas comunidades
cristãs, especialmente em Alexandria no Egito, como os dois grandes Patriarcas
da Igreja; Clemente e Orígenes de Alexandria. Os gnósticos pretendiam não
somente conhecer a sua origem divina, mas alcançar a união com Deus. Para os
gnósticos a busca do conhecimento e da sabedoria conduziam a vida eterna,
enquanto a ignorância eqüivalia a estar escravizado a morte. No Evangelho
místico e enigmático, do Apóstolo João, Jesus é apresentado como gnóstico e
esotérico, ao declarar cap.8, v.32, “se conhecêssemos a verdade ela nos
libertaria”, da mesma forma no cap.10, v.34, reafirma a passagem descrita
no Salmos, “Vós sois deuses”. Essas
colocações de Jesus, estão perfeitamente em sintonia com alguns preceitos
do gnostismo.
Para os gnósticos que viveram no tempo de
Cristo, sua ressurreição fora puramente espiritual, e é exatamente isso que
Paulo de Tarso, descreve em sua carta aos Coríntios, razão pela qual muitos
entenderem que ele era filiado a essa filosofia. Uma das vertentes do gnostismo lideradas por
Cerinto, acreditavam que o corpo de Jesus era fluidico, essa concepção, abalou todas as Igrejas da Ásia, afirmando
que Jesus e Cristo eram duas entidades distintas. Desse movimento de Cerinto
batizado por “Docetismo”, novas versões se formaram ao longo dos tempos, principalmente na
Europa, como os “Apolinaristas” no
quarto século, foram seguidos pelo “Catarismo”, “Valdenses”, “Albigenses”, “Irmãos Pobres”,
e no sec. XIX, o “Roustanismo”, a
qual perdura até os dias atuais. Essa
seita, desprezava fundamentalmente a carne, que para eles era um veículo
meramente transitório, um invólucro necessário somente para a purificação do
espírito. Vários Evangelhos descobertos na antigüidade, que antes da descoberta dos “ Manuscritos do
Mar Morto”, eram considerados sem autenticidade ou apócrifos, verificamos esse
pensamento. No de Felipe por exemplo, o autor chega até mesmo ridicularizar os
cristãos que acreditavam ter Jesus ressuscitado em corpo material. No Apócrifo
de João, Jesus em espírito manifesta-se consolando o apóstolo amado. Fenômenos
similares são narrados na Carta de Pedro, dirigida a Felipe e na Sabedoria de
Jesus Cristo, ambos encontrados em Qunram. Jesus de uma forma geral, nesse relatos
se apresenta assim como na estrada de Damasco, com uma voz que parece provir de
um foco luminoso, ou seja, um Espírito comunicante. No Evangelho de Maria de
Madalena, Jesus parece comunicar-se com a própria Maria, por intermédio de suas
faculdades psíquicas, ou seja, sua mediunidade. No Apocalipse de Pedro, Jesus ,
comunica-se através de um transe profundo vivenciado pelo apóstolo, fato esse,
que se assemelha em muito com a epístola do próprio Pedro, contida nos chamados
Evangelhos Canônicos. Além da credibilidade das manifestações espirituais, os
gnósticos acreditavam na reencarnação, num texto gnóstico chamado Pistis Sofia, observamos um elaborado
sistema de recompensa e punição gerado pelas leis de causa e efeito. O texto
nos revela, que um homem que amaldiçoa receberá um corpo com o coração
atormentado; Um homem que calunia receberá um corpo que será oprimido; Um
ladrão receberá um corpo deformado e cego; Um homem orgulhoso e desdenhoso
receberá um corpo aleijado e feio que obviamente todos desprezarão, e assim
sucessivamente. Os gnósticos por sua vez, rejeitavam basicamente a hierarquia
sacerdotal, apregoando que a redenção é tarefa estritamente pessoal,
independente de rituais, sacramentos filiações a esta ou aquela instituição,
como a obediência a um determinado grupo sacerdotal, que aliás naquela época
insistia em não aceitar as evidências das manifestações espirituais de Jesus,
como de todos os que se manifestavam após a morte física. Muitos acreditavam na
reencarnação. O que o gnostismo apregoava, que a salvação não requeria a uma
associação direta a qualquer Igreja, esse pensamento se tornou herético quando
a Igreja começou a se institucionalizar, a partir do concílio de Nicéia,
levando a perseguição aqueles que detinham esse tipo de pensamento.
Nenhum comentário:
Postar um comentário