terça-feira, 31 de janeiro de 2012

João Batista e os Essenios


JOAO BATISTA E OS ESSÊNIOS


            Nos “Manuscritos do Mar Morto” encontramos um extraordinário retrato contemporâneo de uma seita judaica que vivia  no deserto, com opiniões, práticas ritualísticas e leis muito similares as de João Batista. Conforme nos informa os Evangelhos, O Batista se encontrava no limiar do Reino, ele por sua vez, simboliza a transição entre o judaísmo e o cristianismo primitivo. Os Evangelhos retratam João Batista como um profeta que saiu do deserto da Judéia, para anunciar o Reino de Deus e para pregar o arrependimento. Não podemos questionar que o seu ministério foi coroado de êxito, promovendo o batismo pela água, batizando teoricamente somente aqueles que se arrependiam. Os Evangelhos retratam João como o percursor de Jesus, sendo que o próprio Jesus proclama a sua grandeza em Mateus cap.11,v.11 “Em verdade vos digo: entre os filhos nascidos de mulher, ninguém apareceu maior que João Batista”. Dirigindo-se a multidão que sempre o seguia, Jesus diz que João é “mais do que profeta”, em Mateus cap.11, v.  9  e  Lucas cap.5, v.26, logo após em Mateus cap.11, v. 14, Jesus assevera que ele é a reencarnação do profeta Elias, “ele é Elias que estava para vir”. Apesar de Jesus não ter batizado ninguém, Jesus aceitou ser batizado por João Batista  como nos conta (Mateus cap. 3, vs 13 a 17; Marcos cap. 1 vs. 9 a 11; Lucas cap.3 vs 21 e 22). Os Evangelhos asseveram que o povo de Israel considerava o Batista como um verdadeiro profeta como vemos em Mateus cap.21 v 16; Marcos cap.1, v32; Lucas cap. 20, v.6. Recorremos  mais uma vez ao grande historiador Flávio Josefo, aonde nos informa que João “era um bom homem e havia pregado para que os judeus levassem uma vida virtuosa”. Sua doutrina foi difundida não só para os judeus, mais para todas as circunvizinhanças. Anos após a morte de Jesus, Paulo de Tarso(Atos dos Apóstolos cap.18, v 25 e cap. 19 v.3), encontrou um homem na longínqua Êfeso, na Ásia Menor, que “conhecia somente o batismo de João.




Os essênios viveram em Qumran ao mesmo tempo em que João pregava e batizava as margens do rio Jordão, região que aliás encontra-se muito próxima dessa comunidade. Tudo nos indica que os essênios se fixaram no deserto pelas mesmas orientações das escrituras que motivaram a vida e o ministério de João. A comunidade de Qumran, a qual viviam os essênios, se localizava exatamente na região de Jericó, local onde as tradições e os próprios Evangelhos narram ter havido as atividades de João Batista. O relato do nascimento do profeta por Lucas, encerra com uma grande pista sobre a própria infância de João Batista; assim narra as Escrituras em Lucas cap.1, v.80:  “ O menino crescia e se fortalecia em espírito, e viveu nos desertos até o dia que se apresentou a Israel.“ A partir dessas revelações indagamos - Como poderia um menino de pais idosos, crescer na deserto? A única comunidade naquele tempo que vivia nas proximidades era a essênia, e lá vivam numa espécie de monastério. Segundo ainda o historiador Flávio Josefo, que a propósito  na sua juventude vivera entre os essênios, esse observara que os essênios costumavam acolher os filhos de outras pessoas quando eram ainda jovens e podiam ser instruídos, cuidando deles como se fossem seus próprios filhos e os educando dentro dos preceitos que acreditavam e isso pode muito bem ter acontecido com João Batista. Na realidade existem muitos pontos em comum entre a vida de João Batista e a comunidade de Qumran. O Batismo pregado por João deveria se dar assim mesmo como nos informa o Evangelista Marcos no cap.1, v.4, ao qual constituía apenas como um sinal exterior da realidade do arrependimento e da plena certeza do perdão divino. Mas se o arrependimento não fosse autêntico, o batismo nada servia, portanto era vital e absolutamente necessário, que o indivíduo que fosse candidato ao batismo, já deveria estar totalmente purificado. É isso que vemos em Mateus cap.3, v.8.


O Manual da Disciplina, um dos documentos que compõe a Bíblia dos essênios  informa que a limpeza do corpo deve ser acompanhada da limpeza da alma. E isso é justamente o que João pregava! Muito embora os essênios pregassem o batismo, percebemos que sua origem encontra seus fundamentos nas religiões ancestrais dos cananeus, bem como na antiga Índia, onde nas águas do rio Ganges, os fiéis se purificaram de todo o pecado. Essa idéia largamente difundida na antigüidade,  passou para o Egito, através do sagrado rio Nilo, chegando de alguma forma a comunidade dos essênios que incorporaram essa  prática em suas crenças, cabendo séculos mais tarde São Cipriano estabelecer o dogma do Batismo de Água, no catolicismo. Mas voltemos aos essênios - João Batista como sabemos, teve a missão de anunciar o messias, e os essênios por sua vez, também aguardavam um messias, os quais levavam uma vida casta, dentro dos preceitos que acreditavam. Portanto nas comunidades do deserto  não haviam  mulheres, não haviam bebidas e não ingeriam certos tipos de comidas. Vemos nos próprios evangelhos, mas especificamente em Mateus cap.11, v.18, que João Batista “não comia nem bebia “, alimentava-se de gafanhotos e mel silvestre que encontrava naturalmente no deserto que era o seu habitat, conforme bem nos relata, Marcos no cap.1, v.6. João acreditava que com esses procedimentos criaria uma certa independência da civilização a qual ele considerava impura e perdida. Sabia-se que João e seus discípulos costumavam jejuar, vemos isso em Marcos cap.2 v.18, além disso recitavam preces especiais como nos conta Lucas no cap. 11, v.1.


Essas duas atividades exercidas por João e seus discípulos, ao que agora se sabe, eram bastante rotineiras na comunidade de Qumran. Algumas características e similaridades encontramos também com o tipo de pregação e linguagem exercida por João Batista, com os membros da comunidade de Qumran, a qual viviam os essênios. João comumente se utilizava de fórmulas proféticas de censura e ameaça, isso vemos perfeitamente em Mateus cap.3, vs 3 a 7. Aos hipócritas que não se purificavam devidamente para serem batizados, ele os chamava de “raça de víboras”, como nos narra Mateus no cap.3 v7. Esse termo significa na tradução original, “criaturas da serpente”, isto eqüivale a dizer: “filhos do demônio”. Essa é uma típica expressão que ocorre sempre nos Hinos de Ação de Graças de Qumran. Ainda nos fica uma dúvida. - Como uma comunidade fechada como a dos essênios poderia permitir que um de seus membros ou vários deles, e aí refiro-me aos discípulos de João Batista entre outros, poderiam transitar livremente pelos lugares pregando os seus valores e seus pontos de vistas sem se tornar impuros?




 Para respondermos a essa questão, recorremos mais uma fez ao historiador Josefo, que nos relata que nem todos os essênios levavam uma vida monástica no deserto da Judéia e muitos membros daquela sociedade se comportavam, como João Batista, saíam com a missão de pregar a proximidade do reino de Deus. Por essas tantas coincidências, acreditamos que João Batista foi  essênio. Os preceitos e conceitos desta seita, foram por ele difundidos de uma forma tão abrangente que sem dúvida nenhuma influenciou a nova comunidade do cristianismo primitivo, que naquela época estava nascendo e se estruturando. Muitos seguidores de João Batista, a exemplo da maioria dos judeus, não consideraram Jesus como o messias, simplesmente o negaram, outros  tomaram o próprio João Batista como o verdadeiro messias e fundaram uma religião, o mandeísmo, que ainda nos dias de hoje existe no Irã e na Turquia.      

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