JOAO BATISTA E OS ESSÊNIOS
Nos
“Manuscritos do Mar Morto”
encontramos um extraordinário retrato contemporâneo de uma seita judaica que
vivia no deserto, com opiniões, práticas
ritualísticas e leis muito similares as de João Batista. Conforme nos informa
os Evangelhos, O Batista se encontrava no limiar do Reino, ele por sua vez,
simboliza a transição entre o judaísmo e o cristianismo primitivo. Os
Evangelhos retratam João Batista como um profeta que saiu do deserto da Judéia,
para anunciar o Reino de Deus e para pregar o arrependimento. Não podemos
questionar que o seu ministério foi coroado de êxito, promovendo o batismo pela
água, batizando teoricamente somente aqueles que se arrependiam. Os Evangelhos
retratam João como o percursor de Jesus, sendo que o próprio Jesus proclama a
sua grandeza em Mateus cap.11,v.11 “Em
verdade vos digo: entre os filhos nascidos de mulher, ninguém apareceu maior que João Batista”. Dirigindo-se a
multidão que sempre o seguia, Jesus diz que João é “mais do que profeta”, em Mateus cap.11, v. 9
e Lucas cap.5, v.26, logo após em
Mateus cap.11, v. 14, Jesus assevera que ele é a reencarnação do profeta Elias,
“ele
é Elias que estava para vir”. Apesar de Jesus não ter batizado ninguém,
Jesus aceitou ser batizado por João Batista
como nos conta (Mateus cap. 3, vs 13 a 17; Marcos cap. 1 vs. 9 a 11; Lucas cap.3 vs 21 e
22). Os Evangelhos asseveram que o povo de Israel considerava o Batista como um
verdadeiro profeta como vemos em Mateus cap.21 v 16; Marcos cap.1, v32; Lucas
cap. 20, v.6. Recorremos mais uma vez ao
grande historiador Flávio Josefo, aonde nos informa que João “era
um bom homem e havia pregado para que os judeus levassem uma vida virtuosa”.
Sua doutrina foi difundida não só para os judeus, mais para todas as
circunvizinhanças. Anos após a morte de Jesus, Paulo de Tarso(Atos dos
Apóstolos cap.18, v 25 e cap. 19 v.3), encontrou um homem na longínqua Êfeso,
na Ásia Menor, que “conhecia somente o batismo de João”.
Os essênios viveram em Qumran
ao mesmo tempo em que João
pregava e batizava as margens do rio Jordão, região que aliás encontra-se muito
próxima dessa comunidade. Tudo nos indica que os essênios se fixaram no deserto
pelas mesmas orientações das escrituras que motivaram a vida e o ministério de
João. A comunidade de Qumran, a qual viviam os essênios, se localizava
exatamente na região de Jericó, local onde as tradições e os próprios
Evangelhos narram ter havido as atividades de João Batista. O relato do
nascimento do profeta por Lucas, encerra com uma grande pista sobre a própria
infância de João Batista; assim narra as Escrituras em Lucas cap.1, v.80: “ O
menino crescia e se fortalecia em espírito, e viveu nos desertos até o dia que se apresentou a Israel.“ A
partir dessas revelações indagamos - Como poderia um menino de pais idosos,
crescer na deserto? A única comunidade naquele tempo que vivia nas proximidades
era a essênia, e lá vivam numa espécie de monastério. Segundo ainda o
historiador Flávio Josefo, que a propósito
na sua juventude vivera entre os essênios, esse observara que os
essênios costumavam acolher os filhos de outras pessoas quando eram ainda
jovens e podiam ser instruídos, cuidando deles como se fossem seus próprios
filhos e os educando dentro dos preceitos que acreditavam e isso pode muito bem
ter acontecido com João Batista. Na realidade existem muitos pontos em comum
entre a vida de João Batista e a comunidade de Qumran. O Batismo pregado por
João deveria se dar assim mesmo como nos informa o Evangelista Marcos no cap.1,
v.4, ao qual constituía apenas como um sinal exterior da realidade do
arrependimento e da plena certeza do perdão divino. Mas se o arrependimento não
fosse autêntico, o batismo nada servia, portanto era vital e absolutamente
necessário, que o indivíduo que fosse candidato ao batismo, já deveria estar
totalmente purificado. É isso que vemos em Mateus cap.3, v.8.
O Manual da Disciplina, um dos
documentos que compõe a Bíblia dos essênios
informa que a limpeza do corpo deve ser acompanhada da limpeza da alma.
E isso é justamente o que João pregava! Muito embora os essênios pregassem o
batismo, percebemos que sua origem encontra seus fundamentos nas religiões
ancestrais dos cananeus, bem como na antiga Índia, onde nas águas do rio
Ganges, os fiéis se purificaram de todo o pecado. Essa idéia largamente
difundida na antigüidade, passou para o
Egito, através do sagrado rio Nilo, chegando de alguma forma a comunidade dos
essênios que incorporaram essa prática
em suas crenças, cabendo séculos mais tarde São Cipriano estabelecer o dogma do
Batismo de Água, no catolicismo. Mas voltemos aos essênios - João Batista como
sabemos, teve a missão de anunciar o messias, e os essênios por sua vez, também
aguardavam um messias, os quais levavam uma vida casta, dentro dos preceitos
que acreditavam. Portanto nas comunidades do deserto não haviam
mulheres, não haviam bebidas e não ingeriam certos tipos de comidas. Vemos
nos próprios evangelhos, mas especificamente em Mateus cap.11, v.18, que João
Batista “não comia nem bebia “, alimentava-se de gafanhotos e mel
silvestre que encontrava naturalmente no deserto que era o seu habitat,
conforme bem nos relata, Marcos no cap.1, v.6. João acreditava que com esses
procedimentos criaria uma certa independência da civilização a qual ele
considerava impura e perdida. Sabia-se que João e seus discípulos costumavam
jejuar, vemos isso em Marcos cap.2 v.18, além disso recitavam preces especiais
como nos conta Lucas no cap. 11, v.1.
Essas duas atividades exercidas por João e seus discípulos, ao que agora se sabe, eram bastante rotineiras na comunidade de Qumran. Algumas características e similaridades encontramos também com o tipo de pregação e linguagem exercida por João Batista, com os membros da comunidade de Qumran, a qual viviam os essênios. João comumente se utilizava de fórmulas proféticas de censura e ameaça, isso vemos perfeitamente em Mateus cap.3, vs3 a
7. Aos hipócritas que não se purificavam devidamente para serem batizados, ele
os chamava de “raça de víboras”, como nos narra Mateus no cap.3 v7. Esse termo
significa na tradução original, “criaturas da serpente”, isto
eqüivale a dizer: “filhos do demônio”. Essa é uma típica expressão que ocorre
sempre nos Hinos de Ação de Graças de Qumran. Ainda nos fica uma dúvida. - Como
uma comunidade fechada como a dos essênios poderia permitir que um de seus
membros ou vários deles, e aí refiro-me aos discípulos de João Batista entre outros,
poderiam transitar livremente pelos lugares pregando os seus valores e seus
pontos de vistas sem se tornar impuros?
Essas duas atividades exercidas por João e seus discípulos, ao que agora se sabe, eram bastante rotineiras na comunidade de Qumran. Algumas características e similaridades encontramos também com o tipo de pregação e linguagem exercida por João Batista, com os membros da comunidade de Qumran, a qual viviam os essênios. João comumente se utilizava de fórmulas proféticas de censura e ameaça, isso vemos perfeitamente em Mateus cap.3, vs
Para respondermos a essa questão, recorremos
mais uma fez ao historiador Josefo, que nos relata que nem todos os essênios
levavam uma vida monástica no deserto da Judéia e muitos membros daquela
sociedade se comportavam, como João Batista, saíam com a missão de pregar a
proximidade do reino de Deus. Por essas tantas coincidências, acreditamos que
João Batista foi essênio. Os preceitos e
conceitos desta seita, foram por ele difundidos de uma forma tão abrangente que
sem dúvida nenhuma influenciou a nova comunidade do cristianismo primitivo, que
naquela época estava nascendo e se estruturando. Muitos seguidores de João
Batista, a exemplo da maioria dos judeus, não consideraram Jesus como o
messias, simplesmente o negaram, outros
tomaram o próprio João Batista como o verdadeiro messias e fundaram uma
religião, o mandeísmo, que ainda nos dias de hoje existe no Irã e na
Turquia.
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