AS
DIVERGÊNCIAS ENTRE PAULO E TIAGO
Aproximadamente,
vinte cinco anos após a morte de Jesus Cristo, o movimento liderado por ele se
dividiu em duas fações, as quais tinham opiniões bem diferentes a respeito da
identidade da mensagem de seu líder. Após a disputa pelo poder a facção
liderada por Paulo de Tarso, tornou-se vencedora. Mas tarde essa facção
escreveria sua versão sobre Jesus nos Evangelhos do Novo Testamento. Já a outra
facção dos Nazarenos mais misteriosa deixou apenas fragmentos de sua crença e
desapareceu, restando-nos no entanto algumas controvérsias ideológicas geradas
entre as facções, aonde algumas delas encontram-se nos próprios evangelhos.
Essas divergências foram proferidas pelas próprias pessoas que viveram
e partilharam da intimidade de Jesus, ou seja, sua família e seus apóstolos e
seus discípulos. Indagamos se eles tivessem vencido essa disputa qual seria a
verdadeira versão sobre alguns aspectos da vida de Jesus e de sua missão.
Tiago, o justo, irmão de Jesus, era a
pessoa mais importante no movimento cristão logo após a morte do Mestre e por
conseguinte era completamente diferente de Paulo de Tarso. Tiago era pobre e um
judeu extremamente austero sob sua liderança, Pedro e João, assim como aqueles
que simpatizam pela sua idéias, continuavam a considerar-se judeus, a estudar a
Torá e a freqüentar o Templo de Jerusalém, cumprindo todos os rituais
prescritos na lei mosaica. Para eles a circuncisão continuava sendo condição
indispensável, para quem almejasse torna-se seguidor de Jesus. Em outras
palavras, antes de ser cristão , o postulante teria que aderir ao judaísmo
propriamente dito. A percepção de Paulo era contrária a de Tiago e as
discordâncias eram fundamentais e basilares, as quais incluíam desde o
nascimento, a sua mensagem, sua divindade e a extinção do Torá.
Para Paulo, Jesus era o filho
de Deus, que morreu na cruz para salvar a humanidade. Sendo assim, a disputa
ideológica começou, porque Paulo acreditava ter recebido a revelação da verdade
absoluta do verdadeiro Jesus; o póstumo, aquele que vencera a própria morte.
Tiago, assim como Pedro, João e os outros apóstolos, consideravam Paulo um intruso na sua comunidade e em seu
meio. Para Paulo os judeus que se convertiam ao cristianismo primitivo, não
precisavam mais da Torá, necessitavam apenas seguir os ensinos de Jesus. A Torá
para Paulo já estava obsoleta. O Espírito Emmanuel, em “Paulo e Estevão”, psicografia de Francisco Cândido Xavier, pág.446,
Ed. Feb., ressalta a divergência entre Tiago e Paulo, chegando a afirmar na
pág. 446, “que Tiago sempre se colocara
em posição antagônica à Paulo.” Na
página 379, dessa mesma obra, com sua palavra conciliadora, expõe-nos, não a
divergência propriamente dita, mas a necessidade da própria divergência para a
implantação do evangelho de Jesus naquele contexto, e no capítulo intitulado “Lutas pelo Evangelho”, escreve-nos:
“De um lado estava Tiago,
cumprindo elevada missão junto ao judaísmo; de suas atitudes conservadoras
surgiam incidentes felizes para a manutenção da Igreja de Jerusalém, erguida
como ponto inicial para a cristianização do mundo; de outro lado estava a
figura poderosa de Paulo, o amigo
desassombrado dos gentios, na execução de uma tarefa sublime; de seus atos
heróicos, derivava toda uma torrente
de iluminação para os povos idólatras.”
Tiago sendo apóstolo e irmão do
Cristo, achava-se no direito de conduzir a nova religião. Para ele, Jesus
nascera de parto normal em Nazaré, não havendo nenhum recenseamento como o
descrito no evangelho de Lucas, discípulo de Paulo, que tentava associar Jesus com a predição da vinda do messias pelo
profeta Miquéias, no Antigo Testamento,
mais precisamente no cap.5, vs. 1
a 4, que assevera
que Jesus nasceria em
Belém. Mas para a facção de Paulo, que incluída o Evangelista
Marcos e Lucas, ambos companheiros de viagem, era extremamente importante,
conciliar a figura de Jesus com as profecias do Antigo Testamento, justamente
para dar credibilidade a nova doutrina, e assegurar a confiabilidade nas
Escrituras. Desta forma, Lucas “inventa”
um recenseamento que verdadeiramente não existiu na época do nascimento do
Cristo. Primeiro que durante o reinado de Herodes nunca houve nenhum censo e se houvesse, os
censos romanos baseavam-se na propriedade, então José de maneira alguma ter-se-ia que deslocar-se para Belém, pois morava em Nazaré. Historicamente ,
o censo que se tem notícia aconteceu cerca de dez anos após a morte de Herodes,
já no reinado de Augusto. Na concepção de Paulo, Jesus era realmente o Filho de
Deus, pois sua certeza não se baseava em relatos, e sim pela própria
experiência vivenciada na estrada a caminho de Damasco, e por uma série de
contados com o Mestre Jesus em Espírito, como a própria Bíblia nos relata.
Assim, dentro dessa estratégia a liderança de Paulo, com o apoio dos demais evangelistas superou a
facção de Tiago, até porque os Evangelistas tinham um fator preponderante o
conhecimento e o preparo cultural e intelectual, que os ermitiriam levar a
diante as palavras do Mestre e sua filosofia, de maneira mais enfática, mesmo
dentro dos seus preceitos e interpretações.
Nenhum comentário:
Postar um comentário