terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Jesus e os Esenios


JESUS E OS ESSÊNIOS


                        Para muitos, Jesus era essênio ou viveu entre eles, onde nessa comunidade, teria crescido, estudado e aprimorado os seus conhecimentos. O médium  Edgard Cayce, afirma que  muitos essênios ajudaram na viagem da família sagrada ao Egito, pois conheciam enormemente os caminhos e os perigos do deserto. Pesquisando sobre o assunto, verificamos que muitas literaturas insistem em apregoar, que Jesus era um essênio, mas após estudos mais aprofundados, esse ponto de vista parece não coadunar-se com algumas atitudes de Jesus e suas advertências, principalmente se comparar-mos com a doutrina pregada pelos essênios. Vale apenas aqui, uma colocação com relação a esse impasse, e uma pergunta surge como ponto de partida para as nossas investigações. Será  que tudo que está escrito nos Evangelhos é a descrição perfeita dos acontecimentos e dos fatos ocorridos? Pois, como sabemos foram escritos em média 30 anos após a morte de Jesus, e isso significa dizer que as analogias da figura de Jesus com os documentos encontrados dos essênios, como vimos no capítulo precedente, podem estar diretamente ligadas a aceitação de Jesus por parte dessa seita, como o próprio “Mestre da Justiça”, que teria retornado, e que segundo os próprios textos dos essênios teria inicialmente surgido em 586 antes de Cristo, na chamada “Idade da Ira”, sendo primeiramente martirizado e consequentemente  morto, (assim como Jesus),  prometendo um dia retornar para livrar o povo de Israel de toda a opressão.  Jesus então seria a própria reencarnação do “Mestre da Justiça”. Uma vez que parte dos essênios aceitaram Jesus como o verdadeiro messias, uma vez que o próprio João Batista, que era essênio, o tinha aceitado e reconhecido, fica muito mais fácil entender que a base dos evangelhos tenha alicerçado seus pilares nesses documentos. Cabendo-nos ressaltar que, a razão pela qual motivou os essênios a edificarem a comunidade no deserto, estão em consonância,  para eles, com o propósito da vinda de Jesus a  terra. Sendo assim, ao meu ver a comunidade do cristianismo primitivo envolveu-se com os essênios, ao ponto de identificar Jesus, com o tão esperado Mestre da Justiça dos essênios.



Não podemos ainda nos esquecer, de que os judeus de uma maneira geral, também esperavam um messias redentor. Porquanto, todas as ideologias israelenses naquela época dentro dos seus pontos de vista, aguardavam de alguma maneira um salvador, que retirasse o  povo da opressão. Pesquisando-se mais profundamente a vida dos essênios e seu comportamento através dos Manuscritos do Mar Morto, documento encontrado em Qumran por pastores beduínos por volta de 1946-47, e comparando-os com o que nos diz os Evangelhos, percebemos que Jesus não concordava com muitas atitudes que dizem pertencer aos essênios. O Mestre Jesus, muitas vezes em seus ensinamentos aos apóstolos e discípulos, insurgia-se contra o excesso de pureza praticada não só pelos fariseus, mas ao que tudo indica também quanto aos essênios, muito embora a Bíblia não os cite, mais nas entrelinhas podemos identificar esse comportamento nas suas pregações, a partir de comparações com os Manuscritos do Mar Morto.
O fato dos essênios aparentemente não serem mencionados na Bíblia, faz  muita gente naturalmente pensar, que Jesus seria uma essênio ou teria se criado entre esse povo, aludindo que no período dos 12 aos 30 anos, por não haverem menções bíblicas a esse intervalo, muitos acreditam que  Jesus teria passado esse período no monastério dos essênios que localizava-se no deserto na região da  Judéia. Fato é, que como a Bíblia mesmo nos informa, em Lucas cap.2 vs.46 a 52, que Jesus permaneceu três dias no templo de Jerusalém por ocasião da Páscoa, interrogando e ouvindo os doutores e sábios que lá se encontravam:Todos os que o ouviam ficavam maravilhados da sabedoria de suas respostas.”, fica patente aqui, que Jesus já possuía grandes conhecimentos, capazes de admirar as mentes mais brilhantes da época, e isso com apenas 12 anos de idade. Além disso o evangelista ainda revela que quando sua mãe Maria, retorna ao templo e o encontra, (pois para ela ele havia se perdido) Jesus em sua clareza espiritual, a repreende; respondendo-lhe: “Não sabeis que devo ocupar-me das coisas de meu Pai”. Isto posto, fica aqui bem claro que o conhecimento que Jesus possuía não foi conquistado nos monastérios essênios, ou mesmo em alguma outra parte, como na Índia ou no Egito, o que não impede que Jesus em algum período da sua vida ter visitado ou mesmo vivido nesses lugares. Outro relato que elucida-nos bastante a esse respeito é a narrativa do evangelhista Mateus no cap. 11 v.19, onde descreve um comportamento de Jesus ao qual era motivo de condenação entre os essênios: “Veio o filho do homem que come e bebe, e dizem: Eis um glutão e bebedor de vinho.” Percebemos que Jesus e o Essênios utilizaram de meios parecidos para interpretar as sagradas escrituras fazendo que muitos pensassem que Jesus estaria ligado diretamente a seita essênica. Eles lêem sob a orientação do Espírito e assegurando as promessas de Deus e  ambos, Jesus e os Essênios foram escatologicamente orientados, compartilhando o princípio da hermenêutica, e compreensão esotérica sobre o significado das sagradas escrituras. Insistiram que os profetas falaram sobre o fim dos tempos e que este tempo futuro era agora e em sua própria comunidade. Muito embora a Bíblia não cite os essênios diretamente, é bem provável que Jesus tenha se referido a  eles apreciativamente no dito sobre os eunucos em Mateus cap. 19, vs 11 e 12.




Pelo que podemos depreender a doutrina praticada pela comunidade de Qumran e muitos aspectos se assemelhavam em muito ao cristianismo primitivo, isso não há o que negar, mas conhecendo-se mais profundamente o seus pensamentos vemos perfeitamente algumas alusões de Jesus, como que a  repreender diretamente em alguns aspectos a seita do Mar Morto. No Sermão da Montanha, Jesus diz a multidão conforme Mateus cap.5 v.43:  “Ouviste o que foi dito... Odiarás o teu inimigo. Eu porém, vos digo, amai os vossos inimigos”. No Manual da Disciplina, encontrado em Qumran, os essênios se comprometem mediante juramento, amar os Filhos da Luz, que seriam justamente os próprios integrantes da comunidade, e a odiar por toda a total eternidade os Filhos das Trevas. Portanto a referência no Sermão da Montanha, ao que tudo indica era direcionada para os essênios, que pela vida ascética de alguma forma influenciava muitos em Israel, e não estando de acordo com a doutrina de amor incondicional pregada, foi naturalmente combatida por Jesus. Outra passagem aparentemente enigmática  no Novo Testamento, pode agora ser entendida perfeitamente, demonstrando-nos uma postura totalmente anti-essênia por parte de Jesus, a qual encontramos descrita em Marcos cap.8, vs 14 a 21,  pode ser esclarecida pelos próprios Manuscritos do Mar Morto, num dos seus diversos textos, intitulado de “Pergaminho do Templo”. Segundo narra o Novo Testamento através de Marcos, Jesus encontra-se num barco no mar da Galiléia, tendo apenas um pão; ele adverte os seus discípulos: “Guardai-vos do fermento dos fariseus e do fermento de Herodes.” Os discípulos se preocupam com a falta de pão e Jesus os censura: ”Tendo olhos, não vedes? Tendo ouvidos não ouvis? Não vos lembrais?” Então, Jesus lhes recorda o milagre da multiplicação dos pães:

”Quando parti os cinco pães para cinco mil, quanto cestos de pedaços recolhestes? “
“Responderam eles: ”Doze
“E os sete pães para quatro mil, quanto cestos de pedaços recolhestes?”
“Responderam: “Sete.”
Ao que lhes disse Jesus: “Não compreenderam ainda?”

            Agora através das informações dos Manuscritos encontrados em Qumran, mais especificamente em um dos seus livros intitulado  “Pergaminho do Templo”, tentaremos clarear o nosso entendimento a partir desse texto aparentemente obscuro. Os doze cestos citados por Jesus são na realidade uma alusão aos fariseus que controlavam o Templo de Jerusalém. A cada semana num ritual, os sacerdotes comiam os doze pães da presença conforme está escrito em Lévítico cap.24, vs. 5 a 9. A segunda passagem diz respeito aos pães herodianos, aqui Jesus refere-se aos sete pães que os essênios utilizavam nos sete dias da cerimônia anual de ordenação dos sacerdotes(Levítico cap.8,v.2). Mas estaríamos nos perguntando, por que os pães dos essênios eram apelidados de pães herodianos ou de Herodes? Simplesmente porque, como nos diz o historiador Flávio Josefo em seu livro “Antigüidades Judaicas”, o rei Herodes era o protetor dos essênios e segundo o historiador mostrava muita simpatia por eles, daí a alusão de Jesus. Em contraste com Jesus, os Essênios desenvolveram regras extensas e rígidas para protege-los das impurezas, para punir aqueles dentre eles que tenham sido violadores , e para restaurar sua momentânea pureza perdida. O Qumranic código penal, que incluía a pena de morte, foi estreitamente alinhada com as regras para pureza entre os essênios, já o conceito de Jesus de pureza esteve categoricamente diferente do Essênios. Para Jesus, impureza não era um perigo, como era para os Essênios. Jesus convivia com os comuns, e até mesmo com leprosos, os proscritos, e mulheres adúlteras; essas ações poderiam teriam sido anátema (amaldiçoado) aos Essênios. Jesus incluiu mulheres em seu  grupo, considerando-as discípulas, ensinando as sagradas escrituras (Lucas cap. 10; vs. 38 a 42), e até mesmo quebrou tabus Judaicos por conversar com uma mulher Gentia da Syrophoenicia e uma mulher de Samaria. Jesus quebrou as formas da família patriarcal em nome de Deus o Pai, e reconhecendo o direito natural das   mulheres para a humanidade igual aos homens. O Essênios, em contraste arrojado com Jesus, considerava segundo o historiador Josefo as mulheres indignas de confiança e sem fé , dessa forma lutaram para separar eles mesmos do contato natural de uma mulher. Dessa forma, um essênio jamais perdoaria uma mulher adúltera, ou mesmo sentaria à mesa com um cobrador de impostos.


Segundo os Manuscritos do Mar Morto, documento pelo qual podemos conhecer mais profundamente o pensamento da seita praticada pelos essênios, no Pergaminho do Templo, documento o qual eles se reportavam, proíbe terminantemente que  todos os leprosos não deveriam entrar na cidade de Jerusalém. Esse pensamento advém, de que naquela época acreditava-se piamente que a lepra se propagava pelo vento. Em Jerusalém existe até hoje a predominância do vento oeste que sopra para o leste, motivo pelo qual, os rabinos proibiam que se caminhasse a leste de um leproso, pois alguém poderia segundo esses preceitos se contaminar. Diz o Pergaminho do Templo, manual de conduta para a vida dos essênios, que os contaminados pela lepra viviam numa colônia a leste da cidade para evitar que a doença penetrasse na cidade levada pelo vento. Desta forma, a cidade de Betânia, situa-se a leste de Jerusalém, mais precisamente na entrada oriental do monte das Oliveiras, e ao que tudo indica era uma aldeia de leprosos. Jesus, segundo informa os Evangelhos (Mateus cap.26, vs. 6 a 13; Marcos cap.14, vs. 3 a 9; João cap.12, vs. 1 a 11), foi a Betânia, antes de entrar na cidade de Jerusalém. Isso constituiu uma enorme ofensa para os rabinos de Jerusalém, assim como  esse procedimento denotava falta grave, segundo os preceitos e a legislação dos essênios, que nesse ponto era muito similar com a dos fariseus que controlavam o Templo de Jerusalém. Sendo assim, esse comportamento por parte de Jesus, pressupõe mais uma vez, que ele não seguida as regras essênias, ou pelo menos aquelas que ele não concordava. Emmanuel em “A Caminho da Luz”,pág. 106, psicografia de Francisco Cândido Xavier, especificamente no capítulo “Cristo e os Essênios” , faz-nos um breve comentário com o qual encerraremos esse capítulo:

“Muitos séculos depois da sua exemplificação incompreendida, há quem veja, entre os essênios, aprendendo as suas doutrinas, antes do seu messianismo de amor e redenção. As próprias esferas mais próximas da Terra, que pela força das circunstâncias se acercam mais das controvérsias dos homens que do sincero aprendizado dos espíritos estudiosos e desprendidos do orbe, refletem as opiniões contraditórias da Humanidade, a respeito do Salvador de todas as criaturas. O Mestre, porém, não obstante a elevada cultura das escolas essênias, não necessitou da sua contribuição. Desde os seus primeiros dias na Terra, mostrou-se qual era, com a superioridade que o planeta lhe conheceu desde os tempos longínquos do princípio.”

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