OS ESSÊNIOS E OS EVANGELHOS
Veremos
aqui, nesse capítulo como a seita dos essênios, pode ter influenciado os
primeiros cristãos e consequentemente os seus escritos. Em razão disso, várias
são as passagens encontradas nos fragmentos dos Manuscritos do Mar Morto da
região de Qumran, que coincidem em muito, com a Bíblia, não só com o Velho
Testamento, mais também com o Novo. Como exemplo citaremos alguns trechos que
sustentam essa idéia se comparados com os textos do Mar Morto. Os Manuscritos
do Mar Morto, num texto chamado de o “Manual
da Disciplina”, contém regras de procedimento e uma sutil determinação de
cargos na ordem, identificando quem pode falar e quando, durante as reuniões
gerais do grupo, ressaltando que todos deveriam estar em estado de pureza para
dirigir os cultos.(Manual da Disciplina, 6, 11-12)
”É uma assembléia de congregação, ninguém falará sem o consentimento da
congregação ou, na verdade, do Guardião
da Congregação.”
Essa espécie de hierarquia nas assembléias, aparece
várias vezes no Novo Testamento.
FILIPENSES CAP.1, V.1
“Paulo e Timóteo, servos de Jesus Cristo, a todos os santos em Jesus
Cristo , que se acham em Filipos, juntamente com os bispos
e diáconos”.
I TIMÓTEO CAP. 3, VS. 1 a
7
“Eis uma coisa certa: Quem aspira ao episcopado, saiba que esta desejando uma função sublime.
Porque o bispo tem o dever de ser
irrepreensível, casado uma só vez, sóbrio, prudente, regado no seu proceder,
hospitaleiro, capaz de ensinar. Não deve ser dado a bebidas, nem violento, mas
condescendente, pacífico, desinteressado; deve saber governar bem a sua casa,
educar o seu filhos na obediência e na castidade. Pois, quem não sabe
governar a sua própria casa, como terá cuidado da Igreja de Deus? Não pode ser
um recém-convertido, para não acontecer que, ofuscado pela vaidade, venha a
cair na mesma condenação que o demônio. Importa outrossim, que goze de boa
consideração por parte dos de fora, para que não se exponha ao desprezo e caia
assim nas ciladas diabólicas.”
TITO CAP. 1, VS.7 e 8
Porquanto, é
mister que o bispo seja irrepreensível,
como administrador que é posto por
Deus. Não arrogante, nem colérico, nem intemperante , nem violento,
nem cobiçoso. Ao contrário seja hospitaleiro, amigo do bem, prudente, justo,
piedoso, continente.
Muito
Embora não se tenha encontrado cópias reais dos livros do Novo Testamento em
Qumran, ao que tudo indica, parte de alguns destes textos podem ter sido
copiadas ou mesmo adaptadas, desse documentos essênios. Consideremos a passagem
descrita em II Coríntios
cap. 6, vs. 14 e 15:
“Não vos coloqueis em jugo desigual com os infiéis. Porquanto, que a sociedade
pode haver entre a justiça e a
iniquidade? E que comunhão da luz
com as trevas? Que harmonia entre
Cristo e Belial? Ou que união do crente
com o infiel?”
Não se pode provar que esse
texto de Paulo de Tarso, seja essênio , mas o apóstolo dos gentios utiliza uma
linguagem conhecida somente nos textos de Qumran. O mesmo raciocínio utilizamos
ao analisarmos o “Sermão da Montanha” o qual, inclui várias expressões que podem
ser encontradas em Qumran que é o lugar aonde notadamente vivia a comunidade
dos essênios. Por exemplo em Mateus cap.5, v.7 ; a expressão “pobres
de espírito”; Mateus cap.5,v.3; menção a guerra apocalíptica dos “Filhos
da Luz” contra os “Filhos das Trevas”, é a mesma
expressão utilizada entre os essênios; A determinação para que o cristão evite fazer
juramentos em Mateus cap.5,vs.33 a 37, podemos encontrar uma referência
no próprio “Manual da Disciplina”, denominando os essênios de “Comunidade
da Verdade”, acrescentando que o historiador Flávio Josefo, diz que os
essênios eram dispensados de fazer o juramento de lealdade ao rei Herodes, isso
porque tinham sempre uma conduta ilibada. A própria expressão de Jesus de
voltar a outra face mediante a uma agressão (Mateus cap.5, vs. 38 e 39) é
encontrada no Manual da Disciplina de Qumran(10,17-18). Finalmente encontramos
mesmas expressões essênias, utilizadas nos textos dos Evangelhos, como nas diversas antíteses verificadas no Sermão
da Montanha.(“Ouviste isso que foi
dito.., eu porém, vos digo...”Nós pensamos/Dizemos...”).
O
Evangelho de João cap.8, v.12, cita as palavras de Jesus ”Eu sou a luz do mundo; quem
me segue não andará nas trevas, pelo
contrário terá a luz da vida”.
Assim como nos textos de Qumran, o apóstolo usa o contraste luz/trevas, não em
sentido literal, mas no sentido ético, e assim como nos Manuscritos o
Evangelista, evidencia o conflito existente entre os reinos da luz e das trevas.
O Apóstolo João, parece estar bastante familiarizado com esse vocabulário,
no cap. 1 v .5, escreve:
”A luz resplandece nas trevas, mas as trevas não prevaleceram contra ela.” Mais adiante o apóstolo
amado de Jesus no cap.12, vs. 35 e 36, o autor nos diz: “Ainda por um pouco a luz
estará convosco. Andai enquanto tendes
luz, para que as trevas não vos
apanhem; e quem anda nas trevas não
sabe aonde vai. Enquanto tendes luz,
crede na luz, para que vos troneis filhos da luz”.(ver também João
cap.3 vs. 19 e 20; I João cap.1, vs 6, e cap.2 vs. 9 e 10).
Portanto os seguidores de
Jesus, assim como os membros de Qumran, se intitulavam a si próprios como: “os filhos da luz”. Sendo assim, se
verificarmos as práticas e rituais e o messianismo dos essênios e compararmos
com as comunidades que envolviam o cristianismo primitivo, chegamos a conclusão
de que são praticamente idênticas. Podemos observar esse ponto de vista, nos
eventos descritos em Atos dos Apóstolos, logo após o primeiro Pentecostes, que ocorreu depois da morte de Jesus, no qual
relata-nos bem claramente que os bens de alguns membros da cristianismo
primitivo, foram naturalmente partilhados entre os elementos da comunidade dos
cristãos.
ATOS DOS APÓSTOLOS cap.2, vs.44 e 45; cap.4,v.32;
“E todos os que acreditavam estar juntos e tinham todas as coisas em comum, e vendiam sua propriedades e bens,
distribuindo o produto entre todos, na medida de suas necessidades”.
Cabe-nos somente
enfatizarmos, que essa prática já existia na comunidade dos essênios. Paulo de
Tarso, escreve em I
Coríntios cap.16, v.2, dando-nos a entender que os membros das Igrejas que haviam fundado
tinham meios particulares para ajudar os necessitados. O Manual da Disciplina, que direcionava a
conduta dos essênios, várias vezes alude à incorporação das propriedades
particulares dos membros às posses do grupo. Já as Ceias que os apóstolos
realizavam juntamente com Jesus correspondem as ceias sagradas dos essênios.
Existe apenas uma divergência na apresentação da Ceia, entre os três
Evangelistas e João. Para Mateus, Marcos e Lucas a última Ceia foi uma refeição
de Pêssah, completa com pão e vinho. Para João foi realizada na noite anterior
do Pêssah, e nem o pão nem o vinho foram mencionados. Os textos de Qumran
também descrevem uma refeição especial, na qual entravam como elementos básicos
o pão e o vinho. O Manual da Disciplina 6, 4 a 6; refere-se às refeições que na realidade
alcançavam um significado sacramental, assim como o sentido atribuído pelos
evangelistas, Mateus, Marcos e Lucas. Assim nos diz o documento essênio:
”E estando a
mesa preparada para refeição, e o vinho novo para ser bebido, o sacerdote será o primeiro a estender
sua mão para abençoar as primícias do pão e do vinho novo”.
Vejam aqui as incríveis
semelhanças com o Novo Testamento, em Mateus cap.26, vs. 26 a 29;
“Enquanto comiam, tomou Jesus um pão e, partiu-o e o deu aos discípulos, dizendo: “Tomai,
comei; isto é o meu corpo”.
A seguir tomou um cálice e tendo dado graças,
deu-os os discípulos, dizendo:
“Bebei dele,
todos vós; porque isto é meu sangue da nova
aliança, derramado em favor de muitos, para
a remissão dos pecados. E vos digo que, desta hora em diante, não beberei
desse fruto da videira, até aquele dia em que hei de beber, novo, convosco no
reino de meu Pai.”
Paulo
em I Coríntios
cap.11, vs 27 a
29, estabelece esta prática cerimonial somente para aqueles que se encontravam
totalmente puros, assim como os essênios:
“Portanto,
todo aquele que comer o pão ou beber o
cálice do Senhor indignadamente, será culpável do Corpo e do Sangue do Senhor.
Que cada um se examine a si mesmo, e
assim coma deste pão e beba deste cálice.”
Em Mateus
cap.26,v.28, vemos:
“porque isso é o meu sangue, o sangue da Nova Aliança, derramado por muitos homens em remissão dos pecados”, verificar também em Marcos cap.14 v.24 e
Lucas cap.22 v.20.
Desta forma, encontramos
diversos pontos em que observamos a influência dos essênios nos evangelhos,
poderíamos até sugerir que o apóstolo João foi fortemente influenciado por
eles, assim como Paulo de Tarso. Repudiavam
o judaísmo convencional em favor de uma forma de dualismo gnóstico praticavam
curas e eram altamente considerados por sua
habilidade com técnicas terapêuticas. Eram ascetas rigorosos e
facilmente distinguível pela sua vestimenta branca. Terminaremos esse capítulo
com a relação dos manuscritos pertencentes a biblioteca dos essênios.
DOCUMENTO
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CÓDIGO
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A SEDUTORA
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BENÇÃO DE JACÓ
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CÂNTICOS DO SÁBIO
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CÂNTICOS PARA O HOLOCAUSTO
DE SÁBADO
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4Q407/11Q5-11Q6
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COMENTÁRIOS SOBRE A LEI
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EXORTAÇÃO PARA A BUSCA DA
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HINOS DE AÇÃO DE GRAÇAS
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HORÓSCOPOS
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LAMENTAÇÕES
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MALDIÇÕES DE SATANÁS E
SEUS PARTIDÁRIOS
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MELCHISEDEC, O PRÍNCIPE
CELESTE
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O TRIUNFO DA RETIDÃO
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ORAÇÃO LITÚRGICA
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