terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Os Essenios e os Evangelhos


OS ESSÊNIOS E OS EVANGELHOS


            Veremos aqui, nesse capítulo como a seita dos essênios, pode ter influenciado os primeiros cristãos e consequentemente os seus escritos. Em razão disso, várias são as passagens encontradas nos fragmentos dos Manuscritos do Mar Morto da região de Qumran, que coincidem em muito, com a Bíblia, não só com o Velho Testamento, mais também com o Novo. Como exemplo citaremos alguns trechos que sustentam essa idéia se comparados com os textos do Mar Morto. Os Manuscritos do Mar Morto, num texto chamado de o “Manual da Disciplina”, contém regras de procedimento e uma sutil determinação de cargos na ordem, identificando quem pode falar e quando, durante as reuniões gerais do grupo, ressaltando que todos deveriam estar em estado de pureza para dirigir os cultos.(Manual da Disciplina, 6, 11-12)

É uma assembléia de congregação, ninguém falará sem o consentimento da congregação ou, na verdade, do Guardião da Congregação.”



Essa espécie de hierarquia nas assembléias, aparece várias vezes no Novo Testamento.

FILIPENSES CAP.1, V.1

 “Paulo e Timóteo, servos de Jesus Cristo, a todos os santos em Jesus Cristo, que se acham em Filipos, juntamente com os bispos e diáconos”.

I TIMÓTEO CAP. 3, VS. 1 a 7

“Eis uma coisa certa: Quem aspira ao episcopado, saiba que esta desejando uma função sublime. Porque o bispo tem o dever de ser irrepreensível, casado uma só vez, sóbrio, prudente, regado no seu proceder, hospitaleiro, capaz de ensinar. Não deve ser dado a bebidas, nem violento, mas condescendente, pacífico, desinteressado; deve saber governar bem a sua casa, educar o seu filhos na obediência e na castidade. Pois, quem não sabe governar a sua própria casa, como terá cuidado da Igreja de Deus? Não pode ser um recém-convertido, para não acontecer que, ofuscado pela vaidade, venha a cair na mesma condenação que o demônio. Importa outrossim, que goze de boa consideração por parte dos de fora, para que não se exponha ao desprezo e caia assim nas ciladas diabólicas.”

TITO CAP. 1, VS.7 e 8

Porquanto, é mister que o bispo seja irrepreensível, como administrador que é posto  por  Deus. Não arrogante, nem colérico, nem intemperante , nem violento, nem cobiçoso. Ao contrário seja hospitaleiro, amigo do bem, prudente, justo, piedoso, continente.

            Muito Embora não se tenha encontrado cópias reais dos livros do Novo Testamento em Qumran, ao que tudo indica, parte de alguns destes textos podem ter sido copiadas ou mesmo adaptadas, desse documentos essênios. Consideremos a passagem descrita em II Coríntios cap. 6, vs. 14 e 15:

 “Não vos coloqueis em jugo desigual com os infiéis. Porquanto, que a sociedade pode haver entre a justiça e a iniquidade? E que comunhão da luz com as trevas?  Que harmonia entre Cristo e Belial? Ou que união do crente com o infiel?

Não se pode provar que esse texto de Paulo de Tarso, seja essênio , mas o apóstolo dos gentios utiliza uma linguagem conhecida somente nos textos de Qumran. O mesmo raciocínio utilizamos ao analisarmos o “Sermão da Montanha” o qual, inclui várias expressões que podem ser encontradas em Qumran que é o lugar aonde notadamente vivia a comunidade dos essênios. Por exemplo em Mateus cap.5, v.7 ; a expressão “pobres de espírito”; Mateus cap.5,v.3; menção a guerra apocalíptica dos “Filhos da Luz” contra os “Filhos das Trevas”, é a mesma expressão utilizada entre os essênios; A determinação para que o cristão  evite fazer  juramentos em Mateus cap.5,vs.33 a 37, podemos encontrar uma referência no próprio “Manual da Disciplina”, denominando os essênios de “Comunidade da Verdade”, acrescentando que o historiador Flávio Josefo, diz que os essênios eram dispensados de fazer o juramento de lealdade ao rei Herodes, isso porque tinham sempre uma conduta ilibada. A própria expressão de Jesus de voltar a outra face mediante a uma agressão (Mateus cap.5, vs. 38 e 39) é encontrada no Manual da Disciplina de Qumran(10,17-18). Finalmente encontramos mesmas expressões essênias, utilizadas nos textos dos Evangelhos, como  nas diversas antíteses verificadas no Sermão da Montanha.(“Ouviste isso que foi dito.., eu porém, vos digo...”Nós pensamos/Dizemos...”).
                        O Evangelho de João cap.8, v.12, cita as palavras de Jesus ”Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará nas trevas, pelo contrário terá a luz da vida”. Assim como nos textos de Qumran, o apóstolo usa o contraste luz/trevas, não em sentido literal, mas no sentido ético, e assim como nos Manuscritos o Evangelista, evidencia o conflito existente entre os reinos da luz e das trevas. O Apóstolo João, parece estar bastante familiarizado com esse vocabulário, no  cap. 1 v .5, escreve:

”A luz resplandece nas trevas, mas as trevas não prevaleceram contra ela.” Mais adiante o apóstolo amado de Jesus no cap.12, vs. 35 e 36, o autor nos diz: “Ainda por um pouco a luz estará convosco. Andai enquanto tendes luz, para que as trevas não vos apanhem; e quem anda nas trevas não sabe aonde vai. Enquanto tendes luz, crede na luz, para que vos troneis filhos da luz”.(ver também João cap.3 vs. 19 e 20; I João cap.1, vs 6, e cap.2 vs. 9 e 10).

Portanto os seguidores de Jesus, assim como os membros de Qumran, se intitulavam a si próprios como: “os filhos da luz”. Sendo assim, se verificarmos as práticas e rituais e o messianismo dos essênios e compararmos com as comunidades que envolviam o cristianismo primitivo, chegamos a conclusão de que são praticamente idênticas. Podemos observar esse ponto de vista, nos eventos descritos em Atos dos Apóstolos, logo após o primeiro Pentecostes,  que ocorreu depois da morte de Jesus, no qual relata-nos bem claramente que os bens de alguns membros da cristianismo primitivo, foram naturalmente partilhados entre os elementos da comunidade dos cristãos.

ATOS DOS APÓSTOLOS cap.2, vs.44 e 45; cap.4,v.32;
 “E todos os que acreditavam estar juntos e tinham todas as coisas em comum, e vendiam sua propriedades e bens, distribuindo o produto entre todos, na medida de suas necessidades”.

Cabe-nos somente enfatizarmos, que essa prática já existia na comunidade dos essênios. Paulo de Tarso, escreve em I Coríntios cap.16, v.2, dando-nos a entender que  os membros das Igrejas que haviam fundado tinham meios particulares para ajudar os necessitados.  O Manual da Disciplina, que direcionava a conduta dos essênios, várias vezes alude à incorporação das propriedades particulares dos membros às posses do grupo. Já as Ceias que os apóstolos realizavam juntamente com Jesus correspondem as ceias sagradas dos essênios. Existe apenas uma divergência na apresentação da Ceia, entre os três Evangelistas e João. Para Mateus, Marcos e Lucas a última Ceia foi uma refeição de Pêssah, completa com pão e vinho. Para João foi realizada na noite anterior do Pêssah, e nem o pão nem o vinho foram mencionados. Os textos de Qumran também descrevem uma refeição especial, na qual entravam como elementos básicos o pão e o vinho. O Manual da Disciplina 6, 4 a 6; refere-se às refeições que na realidade alcançavam um significado sacramental, assim como o sentido atribuído pelos evangelistas, Mateus, Marcos e Lucas. Assim nos diz o documento essênio:

”E estando a mesa preparada para refeição, e o vinho novo para ser bebido, o sacerdote será o primeiro a estender sua mão para abençoar as primícias do pão e do vinho novo”.

Vejam aqui as incríveis semelhanças com o Novo Testamento, em Mateus cap.26, vs. 26 a 29;

 “Enquanto comiam, tomou Jesus um pão e, partiu-o e o deu aos discípulos, dizendo: “Tomai, comei; isto é o meu corpo”.

 A seguir tomou um cálice e tendo dado graças, deu-os os discípulos, dizendo:

Bebei dele, todos vós; porque isto é meu sangue da nova aliança, derramado em favor de muitos, para a remissão dos pecados. E vos digo que, desta hora em diante, não beberei desse fruto da videira, até aquele dia em que hei de beber, novo, convosco no reino de meu Pai.”

            Paulo em I Coríntios cap.11, vs 27 a 29, estabelece esta prática cerimonial somente para aqueles que se encontravam totalmente puros, assim como os essênios:

“Portanto, todo aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor indignadamente, será culpável do Corpo e do Sangue do Senhor. Que cada um se examine a si mesmo, e assim coma deste pão e beba deste cálice.”

Em Mateus cap.26,v.28, vemos:

 “porque isso é o meu sangue, o sangue da Nova Aliança, derramado por muitos homens em remissão dos pecados”, verificar também em Marcos cap.14 v.24 e Lucas cap.22 v.20.

Desta forma, encontramos diversos pontos em que observamos a influência dos essênios nos evangelhos, poderíamos até sugerir que o apóstolo João foi fortemente influenciado por eles, assim como Paulo de Tarso. Repudiavam o judaísmo convencional em favor de uma forma de dualismo gnóstico praticavam curas e eram altamente considerados por sua  habilidade com técnicas terapêuticas. Eram ascetas rigorosos e facilmente distinguível pela sua vestimenta branca. Terminaremos esse capítulo com a relação dos manuscritos pertencentes a biblioteca dos essênios.


DOCUMENTO
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