A ORIGEM DOS ESSÊNIOS
A palavra grega essaioi ou essenoi, esseni em
latim, está relacionada com a palavra hebraica Hazah, “ele teve visões”, e com “Asa”;
“ele curou” ou “aqueles que curam”. Desta forma, a seita de Qumran, localizada
no Mar Morto, a qual faziam parte os essênios, foi uma comunidade sólida
estabelecida a 200 anos antes do Cristo. Esse grupo não se restringia somente
a região de Qumran, espalhava-se em acampamentos e povoações por
todas as aldeias da Judéia. Sua própria literatura era imensa, exercendo
considerável influência sobre as literaturas e seitas posteriores, incluindo o
cristianismo primitivo e o catolicismo. A comunidade dos essênios, referia-se aos seus sacerdotes como
“filhos de Zadoque”, que na realidade
eram membros de uma antiga linhagem de sumos sacerdotes estabelecida nas
Escrituras. Estes, condenavam diretamente os maus sacerdotes de Jerusalém, que alegam ser ilegítimos. Essa divergência existente entre
os sacerdotes de Qumran e o poder religioso da Judéia, não existia somente por
diferenças doutrinárias, havia uma disputa acirrada pelo poder, entre as castas
de sumos sacerdotes em
Israel. Os essênios, ao que tudo indica, em minoria,
retiraram-se para o deserto, aonde fundaram no exílio, uma comunidade que se
intitulava o verdadeiro Israel, dirigida por sacerdotes contestadores, que de
maneira alguma concordavam que as práticas sacerdotais observadas pelos judeus
de Jerusalém. Acreditavam que quem quisesse
viver nessa comunidade deveria comportar-se sempre em perfeito estado de
pureza, assim como prescreve a lei do
Levítico (cap. 19 v.2): “ Sede santos, porque eu, Javé vosso Deus, sou
santo”. Dessa maneira, o acampamento essênio no deserto,
encontrou o seu protótipo no acampamento mosaico de Números(cap.2, vs.4 e 9;
cap.15, vs. 10 e 28). Ao que tudo nos indica, os judeus descontentes com o
procedimento dos sacerdotes, partiram
para o deserto, inspirados em Isaías cap. (40 v. 3),
com a finalidade de “preparar o Caminho do Senhor” , e lá
formaram a comunidade dos essênios. Da mesma forma que as Escrituras Sagradas
aludem para o famoso pacto no deserto,
os essênios rescreviam a nova
aliança mediante o seu retorno as terras áridas e de igual forma que as tribos
de Judá, encontravam-se no deserto preparando-se para a chamada Guerra Santa,
os essênios se preparariam para o Armagendon, a batalha final, que se daria
pelo confronto entre as forças do bem e do mal. Distanciados do Templo de Jerusalém, lugar de culto do Judaísmo,
reportaram-se a profecia de Ezequiel (cap. 44 v.15), considerando-se totalmente
independente de Jerusalém. Nessas comunidades-templo, tornava-se necessário
viver em estado constante de pureza, por isso, valorizavam os rituais
purificatórios a base de água, a qual desempenhava um papel de importância
vital, na vida dessa comunidade. As descobertas arqueológicas atestam a
existência de cisternas e piscinas nas ruínas do templos essênios. Em síntese
os essênios, eram celibatários e messiânicos condenavam a sociedade privada,
eram vegetarianos e viviam no deserto a espera do Juízo Final.
Os
primórdios dessa seita podem ser rastreados
até a chamada “Idade da Ira”, que ocorreu
aproximadamente em 196 antes de Cristo e 390 anos, após a destruição do Templo
de Jerusalém, pelos babilônios, em 586 antes de Cristo. Durante esta “Idade da Ira”, dizem os Manuscritos do
Mar Morto, que as pessoas boas e piedosas buscavam em vão o caminho da justiça,
então um “Mestre da Justiça”,
apareceu, enviado por Deus para guiá-las. Mas em contrapartida, segundo os
próprios manuscritos um poderoso inimigo surgiu também na pessoa do “Homem do Escárnio” para combater os
essênios e eliminar o seu comandante o chamado “Mestre da Justiça”. Em um
comentário fragmentário dos manuscritos, o profeta Oséias, refere-se ao "Leão da Cólera", que seria o
perseguidor do Mestre da Justiça, ou seja o “ Homem do Escárnio”. O "Leão"
e o "Sacerdote" estão evidentemente relacionados aqui por este
jogo de palavras e, como o último
sacerdote (o Sacerdote do Fim) só poderia referir-se ao Messias. A conclusão é
clara de que a vítima do Leão e o Sumo Sacerdote a vir, são uma e a mesma
pessoa. A seita se havia estabelecido em
algum lugar próximo ao vale de Achor ou,
no mesmo vale, o atual Buqeia, situado entre o Mar Morto e Jerusalém. Este lugar
é atualmente mencionado em um de seus
documentos e parece que a seita o considerava como de especial
importância para a história de Israel. Também nas palavras de Oséias
encontramos razões para a eleição de Qumran com sede: "Portanto, Eu a atrairei e a conduzirei ao
deserto, e falarei suavemente. E darei então suas vinhas e o próprio vale de
Achor como porta de esperança; e cantará ali como nos dias de sua juventude,
com no dia que veio do Egito (Oséas cap.2; vs.14-15)." Em
conseqüência dessa perseguição, os essênios fugiram para a Judéia, para a
chamada terra de Damasco ou Babilônia, aonde encontraram refúgio e segurança,
que os possibilitaram desenvolver sua doutrina. Esse povo foi descrito assim
pelo judeu Flávio Josefo, naturalista,
historiador e geógrafo romano, que viveu três anos entre os essênios, nos diz:
“Existem, com efeito, entre os judeus.
Três escolas filosóficas:”os adeptos da primeira são os fariseus; os da
segunda; os sacudeus; os da terceira, apreciam justamente praticar uma vida
venerável, são denominados essênios: são judeus pela raça, mas além disso,
estão unidos entre si por uma afeição mútua maior que a dos outros.”Seu
contemporâneo, o filósofo judeu Filón, e também pelo historiador romano do
século I, Plínio. A identificação da comunidade dos Manuscritos do Mar Morto
como essênia se baseou originariamente por duas espécies de dados: Relatos do
historiador Plínio, o velho (23-79), e o
teor dos próprios Manuscritos. Em sua famosa obra “História Natural” o historiador
menciona o grupo que vivia em Qumran como os essênios. Vejamos:
“No lado ocidental do mar Morto, mas fora do alcance das exalações da costa, vive a tribo solitária dos essênios,
marcadamente diferente de todas as outras tribos do mundo inteiro, pois, não tem mulheres e renunciou a todo desejo
sexual, não usa dinheiro, e tem apenas tamareiras por companhia. Dias após
dia, o agrupamento de refugiados tem o número de seus membros reposto por muitas pessoas que chegam,
cansadas da vida e que para lá foram atiradas pelas vagas da sorte, para adotar seus costumes. Assim,
durante tempos milenares uma raça onde
não há nascimentos vive para sempre, tão grande é, para sorte sua, o número
de homens cansados da vida! “
Na
realidade existem duas versões para o surgimento desta seita, a primeira teoria
diz respeito a origem Palestina, quando o movimento essênio teria se formado a
partir de uma reação de um determinado grupo que era radicalmente contra o
processo de helenização do judaísmo palestino, que começou no ano de 332 a .C. , quando Alexandre
o Grande conquistou a Judéia. Os sacerdotes revoltados com esse processo
fundaram a seita dos essênios, por que absolutamente não concordavam, com a
influencia grega. A segunda teoria, localiza o principio dessa seita na própria
Babilônia ou terra de Damasco, quando o judeus foram deportados a partir da
destruição do primeiro templo de Jerusalém em 586 antes de Cristo. As duas
teorias sobre as origens do povo essênio, apresentam um ponto em comum que era
a perpetuação do judaísmo, sem as influências de outros povos, que eles achavam
um sacrilégio.
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