A UMBANDA NO BRASIL
A
palavra umbanda é originária do sankristo e significa a Mente Universal, Deus,
Zambi e Bandha, que significa laço, vinculação. Seu significado é a ligação com
Deus. O início desta religião começa com o advento do tráfico de escravos mais
especificamente das tribos africanas dos bantus e sudaneses, que trazem suas
crenças, sua mitologia e seu politeísmo africano para as terras brasileiras.
Portanto, as origens da Umbanda e seu início no Brasil acontece mais
precisamente em meados do século XVI, através do sincretismo que começa a se
formar por ocasião da catequese realizada pelas missões portuguesas que
chegaram ao Brasil com a missão de estabelecer o Catolicismo como religião
oficial das terras recém descobertas. Portanto ocorreu por parte dos negros
africanos a associação das suas divindades com os chamados Santos Católicos,
surgindo assim a o sincretismo religioso
no Brasil através da Umbanda.
DEUSES OU DEMÔNIOS
As
origens dessa aparentemente nova concepção religiosa remontam a mais remota
antigüidade, recuando-se no tempo encontramos na antiga Mesopotânea cerca de
4.000 anos antes de Cristo, um culto aos demônios, que na realidade era o culto
aos espíritos, pois a palavra demônio significa espírito, em que com o tempo
foi tomando a idéia de entidade maléfica. No “Evangelho Segundo o Espiritismo”, Allan Kardec, na sua introdução, esclarece que a palavra
daimon, da qual fizeram o termo demônio, não era na antigüidade, tomada à má
parte, como nos tempos modernos. Não designava exclusivamente seres malfazejos,
mas todos os Espíritos, em geral, dentre os quais destacavam-se os Espíritos
superiores, chamados deuses, e os menos elevados, ou demônios propriamente
ditos que comunicavam-se, como ainda se comunicam, diretamente com os homens.
Segundo a doutrina de Socrates e de Platão, diziam que após a morte, o
gênio(daimon, demônio), que nos fora designado durante a vida, levava-nos a um
lugar aonde se reúnem todos os que tem de ser conduzidos ao Hades(terra dos
mortos), para serem julgados. As almas depois de haverem estado no Hades o
tempo necessário, são reconduzidas a esta vida em múltiplos e longos períodos
através das reencarnações. Na própria Bíblia vemos alusões aos demônios que
nesse caso eram espíritos impuros e
imundos como as próprias escrituras mencionam, os quais Jesus com sua moral
elevada os repreendia e os expulsava. A idéia do demônio como personificação do
mal pensamento influenciou muitos povos da antigüidade, como os Hebreus,
Gregos, Egípcios, Romanos Cristãos e os Africanos, sobrevivendo até os dias
atuais. A demoniologia do passado nada mas era do que o trato com espíritos
desencarnados, originando os ritos tidos como satânicos dos dias atuais, dado a
ignorância de se compreender mais profundamente as questões que envolvem o
mundo espiritual. As catástrofes eram atribuídas aos demônios, e acreditava-se
que só os bruxos, feiticeiros e Magos, teriam o poder para combater as forças
extrafísicas, acalmando com inúmeros rituais a ira implacável dos deuses. Por
essa razão, deveriam conhece-los intimamente, desta forma nomearam muitos
demônios em listas intermináveis,
associando-os a uma diversidade enorme de acontecimentos. Na Umbanda
estes mesmos “demônios” são
denominados Exús, entre outros, e nada mais são do que Espíritos dos homens que
viveram na Terra e agora se encontram no mundo espiritual, os quais pela sua
ignorância mantém contato estreito com os homens muitas das vezes hipnotizados
por algozes no plano espiritual, aprisionados por vingança na maioria das
vezes, obrigam esses Espíritos a se passarem por essas entidades, como também a
se apresentarem nos Centros Espíritas de uma forma geral, ou mesmos na Igrejas
que permitam intencionalmente a sua manifestação para desse modo possam provar
aos seus crentes a realidade do demônio tal como entendem, provocando cenas
magníficas de exorcismo em nome de
Jesus. Pastores e ovelhas intimidam as
entidades ignorantes e sofredoras com uma forte corrente fluídica direcionada
pelo pensamento e a vontade que objetivam simplesmente a expulsão do espírito imundo do indivíduo.
Fatos como esses no passado, mal entendidos levaram inúmeros inocentes a morte,
acusados de estarem possuídos pelo diabo, foram queimados vivos em espetáculos
hediondos nas fogueiras da inquisição. Nessa mesma idade média os demônios
geralmente se subdividiam em um grupo de 7(sete), os textos antigos apontam
também que eram de origem masculina e feminina, como não poderia ser de forma
diferente, sendo Espíritos desencarnados ainda ligados ao plano de encarnação
no orbe terrestre guardavam os traços, preferências e aparência de sua última
encarnação na Terra. A própria Igreja católica em razão disso, os denominou de
íncubus a forma masculina e súcubos a forma feminina dos demônios que a noite
vinham copular com os humanos, causando-lhes enormes pesadelos e transtornos. Outros
por sua vez, eram híbridos, consumiam sangue humano e adoravam sacrifícios,
mesmo sendo de animais. A Bíblia por seu turno descreve inúmeras passagens que
identificam o culto aos demônios(espíritos) em um longo espaço de tempo na vida
dos antigos hebreus. Seriam os grandes patriarcas bíblicos umbandistas? Nas
passagens selecionadas as quais transcrevemos com os devidos destaques,
percebemos uma correspondência muito grande com os elementos do judaísmo praticado no tempo dos patriarcas
bíblicos com os rituais afro-brasileiros da atualidade:
Artefatos
ÊXODO CAP. 27, VS. 3 e 4
Farás para este
altar cinzeiros, pás, bacias,
garfos, e braseiros: todos estes utensílios
serão feitos de bronze em forma gelosia, e porás nos seus quatro argolas de
bronze.
Paramentos
ÊXODO CAP. 28, V. 2
Farás para teu irmão Aarão vestes
sagradas em sinal de dignidade de ornato.
Incensos
ÊXODO CAP.30, V.1
Construirás um altar para
queimares sobre ele o incenso, falo-ás de madeira de
acácia.
Sacrifícios de animais e rituais de sangue
GÊNESIS CAP.
8,V.20 e 21
E Noé levantou
um altar ao Senhor: tomou de todos os animais puros e de todas as aves puras, e ofereceu-os
em holocausto ao Senhor sobre o altar. O Senhor respirou um agradável odor,
e disse em seu coração: “Doravante, não mais amaldiçoarei a terra por causa do
homem porque os pensamentos do seu
coração são maus desde a sua juventude, e não ferirei mais todos os seres
vivos, como o fiz.”
ÊXODO CAP. 29, V. 1 a
3, 19 e 20, 36 e 37
Heis como procederás para consagrá-los como sacerdotes a meu serviço.
Tomarás um novilho e dois carneiros sem defeito; pães sem fermento, bolos sem
fermento amassados com azeite, bolachas sem fermento untadas com azeite, tudo
feito de flor de farinha de trigo. Pô-los-ás
em uma cesta e os oferecerás ao mesmo tempo que o novilho e os dois carneiros.Tomarás
em seguida o segundo carneiro, e Aarão e seus filhos imporão suas mãos sobre
sua cabeça. Degolá-lo-ás e tomarás o seu
sangue para metê-lo na extremidade da orelha direita de seus filhos sobre
os dedos polegares de suas mãos direitas e sobre os dedos polegares de seus pés
direitos. Depois derramarás o resto do
sangue em volta do altar.Cada dia
imolarás um novilho em sacrifício expiatório pelo pecado; por este
sacrifício expiatório tirarás o pecado do altar, e far-lhe-ás uma unção para o
consagrar. A expiação do altar se fará durante sete dias; e consagrarás este
altar que se tornará cisa santíssima, e tudo que tocar será consagrado.
ÊXODO CAP. 29, V. 41
Entre as duas tardes oferecerás o segundo cordeiro,
acompanhado de uma oferta e de uma libação semelhantes às da manhã. Isto é um sacrifício de agradável odor
consumido pelo fogo em honra do Senhor.
LEVÍTICO CAP.1, VS. 14 e 15
Se sua oferta ao Senhor for um holocausto tirado dentre as aves,
oferecerá rolas ou pombinhos. O
sacerdote meterá a ave sobre o altar, depois de haver espremido o seu sangue
contra a parede do altar.
LEVÍTICO CAP.4,VS. 1 a
7
O Senhor disse a Moisés: “Fala aos israelitas. Diz-lhes: Quando um
homem tiver pecado involuntariamente contra uma prescrição do Senhor, fazendo
uma das coisas que ele proibiu: se aquele que tiver pecado for um sacerdote
ungido, de maneira que o povo se torne culpado, oferecerá ao Senhor por sua transgressão um novilho sem defeito como
sacrifício de expiação. Levará o novilho diante do Senhor, à entrada da
Tenda de Reunião, porá a mão sobre a cabeça do touro e o imolará diante do
Senhor. O sacerdote ungido tomará o
sangue do touro e o levará à Tenda de Reunião; mergulhará o seu dedo no sangue,
e fará sete aspersões diante do Senhor, diante do véu do Santuário. Em
seguida, porá o sangue dos cornos do altar dos perfumes aromáticos que está
diante do Senhor na Tenda de Reunião; e derramará o resto do sangue do touro ao
pé do altar dos holocaustos que está à entrada da Tenda de Reunião.
Na umbanda muitos aspirantes
a sacerdotes ou sacerdotisas, entenda-se mães e pais de santo, deitam-se em um
quarto por determinados dias, raspam a cabeça e são acessorados por pais ou
mães de santo, havendo também várias restrições alimentares e comportamentais.
Da mesma forma verificamos similaridades a essa forma de ritual:
NÚMEROS CAP. 6 VS 18 e 19
“Então o Nazireu à porta da tenda da congregação rapará a cabeça do seu
nazierado e tomará o cabelo da cabeça do seu nazierado e o porá sobre o
fogo esta debaixo do sacrifício pacífico. Depois o sacerdote tomará a espádua cozida do carneiro, e um pão ázimo do
cesto um coscorão ázimo, e os porá nas
mãos do nazireu, depois de haver radado a cabeça do seu nazierado.”
No tempo
em que Jesus
esteve entre nós, certos tipos de demônios ou exus(espíritos) habitavam os
cemitérios, freqüentavam túmulos e controlando certas passagens e lugares, as
quais muitas pessoas tinham medo de transitar.(Marcos cap. 5, vs 1 a 10) Dentro de uma visão
Umbandista e Espírita, entendemos que existem espíritos sofredores , assim como
espíritos mais evoluídos que tem a incumbência de velar por esses, funcionando
como uma espécie de guardiões dos cemitérios. Os Exus segundo a Umbanda são os
guardiões dos caminhos de uma forma geral, eles são os soldados dos chamados,
Pretos Velhos e Caboclos, que segundo a visão Umbandista na Terra desempenham o
papel de emissários dos Orixás entre os homens. A Umbanda classifica os Exús em
sete classes principais, sendo que cada um deles comandam mais outros sete,
sempre seguindo a uma ordem hierárquica e a uma detalhada classificação. Os
Orixás são considerados entidades evoluidíssimas e vivem no plano “Astral Superior” denominado “Aruanda”,
estes aqui na Terra representam as forças da natureza. Oxum é a manifestação
das águas doces, Iemanjá das águas salgadas; Iansã os ventos e chuvas; Xangô a
força do trovão e dos relâmpagos, etc. Cada um destes é associado a uma
personalidade e pela natureza do tipo de comportamento humano, diante do mundo
e da vida de relação, nós mortais somos
identificados como seus filhos e segundo essa doutrina, somos protegidos
incondicionalmente por eles. Os Orixás dentro do culto Umbandista, não são incorporados,
o que se vê na realidade nos centros de Umbanda é a manifestação dos chamados “falangeiros” dos Orixás, Espíritos de
grande luz que vem trabalhar sob suas ordens.
Os “falangeiros”, incorporam
em seus médiuns ”cavalos” e mostram
sua presença e sua força em nome de um determinado Orixá. Estes por seu turno
comandam os Espíritos que são classificados em diversas classes como: Pretos
Velhos, Cablocos, Boiadeiros, Marinheiros, Baianos, Crianças, Povo da água,
Povo do Mar, Povo do Oriente, como também os Exús, naturalmente. Os Orixás sempre
segundo a mitologia da Umbanda, em um passado muito remoto, teriam entrado em
contato direto com os seres humanos, passando dessa forma, seus ensinamentos e
mostrando-se sob a forma humana.
Logo após esta estada na Terra, em Espírito, retornaram a terra de Aruanda, astral superior, mas na Terra deixaram sua essência através das forças da natureza. Então segundo a Umbanda as forças da natureza são uma expressão dos Orixás que comandam e dirigem a Terra. Assim sendo, os Orixás foram correlacionados com os Santos do Catolicismo, sendo a palavra Orixá de origem sanskrita e significa luz e em Orubá, cabeça.
Logo após esta estada na Terra, em Espírito, retornaram a terra de Aruanda, astral superior, mas na Terra deixaram sua essência através das forças da natureza. Então segundo a Umbanda as forças da natureza são uma expressão dos Orixás que comandam e dirigem a Terra. Assim sendo, os Orixás foram correlacionados com os Santos do Catolicismo, sendo a palavra Orixá de origem sanskrita e significa luz e em Orubá, cabeça.
O SINCRETISMO NA UMBANDA
Os escravos que saíram
traficados das áreas de contingência árabe no continente africano,
transportaram para o Brasil muito das práticas religiosas, que por sua vez eram
fusões de outras seitas e compreenções mais antigas. Em Khan no Egito, os Templos eram construídos segundo
princípios Cósmicos e telúricos, obedecendo aos conceitos da "Geografia Sagrada" , e sua
estrutura estava de acordo com a anatomia oculta do ser humano. Lugar onde era
lei, principalmente por parte da classe Sacerdotal, a elaboração dos três
círculos energéticos de proteção contra emanações de polaridade negativas
oriundas não só de pessoas com forte poder mental, mas também dos Afrits
(larvas, miasmas e demônios de grande poder do astral inferior). Os hebreus
utilizavam o sangue do cordeiro para a confecção desses mesmo círculos diante
do altar, em sua cerimônia de purificação. Observamos que nos terreiros de
Umbanda é comum fazerem círculos, objetivando
mesma finalidade, então deduzimos que essa prática adotada pelos
egípcios e posteriormente pelos hebreus, foi adaptada pelas religiões
afro-brasileiras, através do sincretismo. A própria figura do "Contra-egum",
objeto dos cultos "Afro"
(Candomblé, Umbanda, etc.), consiste num pequeno cordame colocado um pouco
abaixo do umbigo e nos braços era um adereço comumente utilizado por grande
parte dos Sacerdotes e Faraós egípcios, que através desses pequenos cintos e braceletes colocados em
áreas estratégicas do corpo, acreditavam serem emanadores de um campo
energético.
Terra de Aruanda onde vivem os Orixás
O ato de apaziguamento e de submissão realizado em quase
todas as partes do mundo, envolvendo sacrifícios de sangue de homens e de
animais, eram obrigatórios, variando segundo as cerimônias e o temperamento
mais ou menos brutal ou fanático dos oficiantes. Os próprios cânones mosaicos
como os conhecemos, estabeleceram esses sacrifícios sangrentos para o uso dos
hebreus e o Talmuld, mais tarde, ratificou a tradição dizendo: “que o pecado original não podia ser apagado
senão com sangue”. Nos rituais de Quimbanda o sangue de animais e a queima
de pólvora advém de práticas de defesa
das tribos africanas e no meio religioso tornaram-se práticas maléficas,
dirigidas contra desafetos e rivais. Muitos
trabalhos direcionados para o mal realizados hoje em dia por cultos
afro-barsileiros são muito similares as práticas de vodu largamente praticadas
no Haiti, que lá surgiu com o advento da cana-de-açúcar nas Antilhas e o
tráfico de escravos africanos. A Macumba na realidade é um instrumento
de sopro, geralmente de bambu, que se toca para chamar os espíritos do mato, e
o despacho, ao contrário do que geralmente se pensa, não é oferenda de comidas
e bebidas que se coloca nas encruzilhadas e nas esquinas de ruas(adaptação
urbana do rito selvagem), mas o envio de espíritos inferiores para atacar as
pessoas visadas. A oferenda é a paga que assegura a eficácia do ataque. Os
espíritos agressivos, embora não possam comer os manjares e tomar as bebidas,
aspiram as suas emanações, como os deuses mitológicos faziam e como o próprio
Iavé da Bíblia, o deus judaico, também fazia, como se vê nos relatos bíblicos.
Na descrição do Dilúvio, no Gênese bíblico cap. 8 v. 20, vemos que Noé fez um
altar no Monte Ararat para dar graças a Iavé pela salvação da sua família. No
altar foram colocados alimentos de carne fumegante e Iavé compareceu para
aspirar as emanações dos alimentos.
Sabe-se que os magos e sacerdotes caldeus,
influenciaram enormemente os israelitas no período em que os mesmo estiveram em
cativeiro na Babilônia, e a partir desse período iniciou-se em Israel a
fitoterapia, uma ciência médica que empregava aromas e ervas aromáticas tanto
na cura, como nos cultos de adoração ao Senhor.
Pouco a pouco essa nova medicina, sacerdotal foi substituindo as antigas
práticas mágicas dos prelados babilônicos. A
“saúde do corpo e da alma”
(Juizes cap. 9 v.13), foi largamente difundida entre os sacerdotes hebreus os
quais se utilizavam da mãe natureza e de seus frutos como importante
ingrediente no tratamento dos indivíduos. “Os
frutos para nutrir e as folhas para curar”, asseverava o profeta Ezequiel
cap.47, v. 2. A
exemplo das oferendas egípcias, as primeiras colheitas eram comumente
oferecidas a Jeová sob a forma de espigas de milho ou fina farinha sobre a qual
derramava-se óleo aromatizado de incenso. Os cereais eram objeto de oferendas,
segundo os ritos sagrados não só a Jeová, mas para todos os deuses da
antigüidade. As espigas torradas ou
grãos de trigo amassados, sob forma de galletes, uma espécie de bolo
redondo e chato, era distribuído a população na festa da Páscoa, como nos
relata Moisés no Êxodo cap. 13: “Durante
sete dias, comereis pães sem levedo, pois toda pessoa que dele comer
desaparecerá de Israel”. Num paralelo impressionante percebemos que a
Umbanda e o Candomblé, muito se utilizam de incensos com a finalidade de
perfumar não só o ambiente, como também os participantes dos cultos. Desta
forma, constatadamente as plantas e as ervas são largamente receitadas pelos
seus guias espirituais que em dias festivos, ofertam bolinhos de arroz ou de
feijão, frutas, objetivando a purificação do corpo e da alma, funcionando como
uma espécie de hóstia entre os adeptos. A natureza atua nas religiões
afro-brasileiras praticamente da mesma
maneira que atuava no judaísmo dos tempos dos grandes patriarcas bíblicos.
As
religiões afro-brasileiras estão repletas de rituais, holocaustos de animais,
paramentos, altares, que foram agregados de diversos cultos e de diversas
origens compreendendo a mais remota antigüidade e que por tradição ou mesmo
ignorância perduram em algumas religiões e inúmeras seitas até os nosso dias.
Estas concepções classificadas como sincretismo religioso afro-brasileiro,
apresentam-nos resquícios que ainda podemos distinguir, através de comparações
com outras práticas religiosas, certos procedimentos que hoje vigoram nas
religiões afros, apresentam aspectos bem
marcantes do Catolicismo, do Islamismo, do Judaísmo, e até mesmo Indígenas e do
passado ancestral como Animismo e Totenismo. Indagamos ao leitor, de onde vem o
uso do turbante, a vestimenta branca com expressão sacerdotal, o hábito de
tirar os sapatos, senão da recuada comunicação muçulmana nos cultos africanos.
Existem “terreiros” aonde se mescla a
“Estrela de David” com elementos do
feiticismo remoto, onde ainda sobrevivem oferendas e símbolos que rememoram
vestígios de elementos judaicos. A própria origem do costume de muitos centros
de Umbanda, serem chamados de “Tendas
espíritas”, está em Êxodo cap. 40 v.
2, onde os hebreus comandados por Moisés entravam em contato com a divindade.O
catolicismo na época da escravidão participou de uma forma bem marcante com
altares, imagens, nomes de santos, peças em seu ritual, e sacerdotes, que de
igual forma influenciaram os cultos africanos praticados no Brasil.
Apresentamos abaixo um
quadro onde podemos observar as correspondências:
DIVINDADE
|
SINCRETISMO
|
EXÚ
|
SANTO ANTÔNIO
|
IANSÃ
|
SANTA BÁRBARA
|
IBEJI
|
COSME E DAMIÃO
|
IEMANJA
|
NOSSA SENHORA DA GLÓRIA
|
NANÃ
|
NOSSA SENHORA DE SANTANA
|
OBA
|
JOANA D’ARC/SANTA CATARINA
|
OBALUAYÊ
|
SÃO ROQUE
|
OGUM
|
SÃO JORGE
|
OMULU
|
SÃO LÁZARO
|
OXALÁ
|
JESUS CRISTO
|
OXOSSI
|
SÃO SEBASTIÃO
|
OXUM
|
NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO
|
OXUMARÉ
|
SÃO BARTOLOMEU
|
XANGÔ
|
SÃO GERÔNIMO
|
DIVINDADE
|
ATRIBUTO
|
EXU
|
DIVINDADE DA MORTE
|
OBALUAÉ
|
DIVINDADE DA TERRA
|
OGUM
|
DIVINDADE DA GUERRA
|
OXOSSI
|
DIVINDADE DA CAÇA
|
OXUMARÉ
|
DIVINDADE DA CHUVA E DO FOGO
|
O LADO ESPIRITUAL DOS EXUS
Para
entendermos alguns aspectos da Umbanda e de algumas entidades que a ela se
vinculam, transcrevemos algumas passagens recebidas mediunicamente por Divaldo
Pereira Franco, através do Espírito Manoel Philomeno de Miranda, que quando
esteve encarnado era médico e espírita. Segundo nos relata, o Espírito Manoel
P. Miranda, tinha profunda curiosidade como espírita praticante, ou seja,
seguidor do preceitos de Kardec, entender os aspectos espirituais e os
mistérios, até então para ele, que envolviam as sessões nos centros de Umbanda,
como também desejava ele a partir desse estudo, traçar-nos um perfil das
entidades que por ela, também se pronunciavam. Desse manancial de informações
surgiu o livro “Loucura e Obsessão”,
do qual destacamos alguns trechos, que penso eu, certamente farão luz ao leitor
sobre estas questões que muitas vezes causam diversas dúvidas e controvérsias,
seja no meio espírita ou fora dele. Vejamos:
Pág. 103
“Não é de
causar estranheza o fenômeno em tela, no sincretismo religioso do Brasil,
quando nações supercivilizadas na Europa
e na América do Norte, multiplicam igrejas e agremiações para cultuar os
demônios, que não passam de Espíritos embrutecidos e vingadores que se
auto-hipnotizaram, tomando ilusoriamente, nas mãos, a adaga do que chamam
justiça, para intentar-lhe a aplicação arbitrária e apaixonada, esquecidos da
Justiça que funciona com equidade e sabedoria reeducando e corrigindo, ao invés
de punir, seviciar e desgraçar... Naqueles
países, esses seres assumem personificações demoníacas e diabólicas, conforme
se denominam, enquanto nos cultos afro-brasileiros fazem-se conhecer por Exus e outras
designações, que em nada alteram a sua louca realidade... A Mentora
silenciou, circunvagou o olhar pelo recinto onde notávamos Entidades diversas,
algumas de aparência grotesca e extravagante, e outras sofredoras de várias
nuances morais, perturbadoras e ociosas, sob controle ignoravam, e adiu: “A
hipnose, e a auto-hipnose por fixação degenerativa, funcionam em larga escala,
em ambas as faixas vibratórias da vida; no corpo ou fora dele. Em nossa esfera
de ação com muito mais intensidade, em razão dos processos mentais de sintonia
e identificação moral entre os despojados do corpo somático. Aí estão, diante de nossos olhos, muitos
infelizes irmãos assumindo personificações mitológicas ridículas, por
auto-hipnose ; número largo,
crendo-se seres de exceção na ordem universal, por efeito da auto sugestão
demorada, desde a Terra, quando se permitiam construções mentais nesse campo;
outros ainda, ainda vitimados por zoantropias de diferentes procedências e, por
fim, aqueles se reconstruíram ideoplasticamente , incorporando os desvarios dos poderes mentirosos, que se atribuem
possuir, seja como Orixás, na eterna ação protetora da Natureza e dos homens,
seja na de Exus, supostamente criados para o mal, dotados de força para tal
execução, afundando-se cada vez mais no desgoverno, até o momento que
funcionem as Leis de correção e reequilíbrio que existem no Cosmo...A questão é
muitíssimo mais complexa; no entanto, detenhamo-nos aqui, a esse respeito. O
querido Valdemar , caindo sempre e intoxicando-se de vibrações deletérias,
perdeu-se, por algum tempo, sendo recolhido pelos anteriores comparsas que o
hipnotizaram e o adestraram em técnicas de obsessão, de vampirismo, de
exploração de outros Espíritos, assim como, e principalmente, dos homens...Tomou, desse modo, a personificação
parasitária de uma deidade maléfica, que se auto-intitulou Exu, com a
especialidade de ação em determinado campo de sua preferência. Impôs-se a
postura de dominador, conforme acontece com os outros, da mesma vibração, e
submeteu mentes ignorantes e primitivas à sua governança espiritual recebendo
homenagens e oferendas com que se comprazia e nutria...”
Págs. 138 e 139
“A Diretora
Espiritual, que se encontrava no centro do círculo em movimento, chamou uma das
médiuns e, segurando-lhe a cabeça, soprou-lhes aos ouvidos. Tratava-se de uma
jovem de aparência pálida, porém dotada de grande sensibilidade. A o receber o
jato de ar, aturdiu-se e teve ligeira convulsão, sendo atendida carinhosamente.
Percebi então, que da rede saiu um espírito Exu, como se houvesse conseguido
romper a defesa, e sem delonga, incorporou-a de forma brusca, contorcendo-se
com o olhar esgazeado, como se caísse numa armadilha. A união fluídica era de
tal forma que parecia ter havido uma quase fusão, ser-a-ser, que se
harmonizavam. O rosto pálido da médium adquiriu um tom vermelho- escuro,
conseqüência da aceleração sangüínea, e uma transfiguração modelou-lhe um quase
símile do comunicante. Quando pôde, a voz rouquenha, semi-audível, passou para
um vocabulário para mim incompreensível, na verbalização de que se utilizava,
evocando a língua mãe e nela se expressando. Captávamos a idéia, a
forma-pensamento, carregada de horror, na qual expelia ódio selvagem, em tal
dose, que me surpreendi. A irmã Emerenciana, que prosseguia contendo a médium
em transe, dialogou no mesmo dialeto, com inusitado vigor, e girando-se
repentinamente, como se a desenovelasse de ataduras fortes que a cobriam,
parou-a de chofre e aplicou-lhe movimentos longitudinais, impondo sua vontade
firme. Os ritmos aumentaram, e com a cantoria fizeram-se ensurdecedores. Nesse
clima, ordenou, no mesmo palavreado que nós compreendíamos em razão da forma
mental plasmadora: “Volte ao normal!
Você é Espírito criado por Deus. É vivente com um destino para o bem.
Desnude-se e saia dessa situação. José Manuel foi o seu nome no eito do senhor
branco. José Manuel é você. Ouça e acorde! Trouxeram um incensador que foi
movimentado em torno do Espírito, que aspirava o fumo aromatizado e mais se
agitava. Agora volte! __ ordenou-lhe com determinação. Acorde José Manuel! Vimos que a face espiritual passou a sofrer uma
metamorfose, e qual se fora anteriormente plasmada em cera, ora aquecida,
começou a desfazer-se, ao mesmo tempo em que a alegoria que o vestia, gerada
pelas imposições ideoplásticas, passou a experimentar a mesma a mesma
transformação, permitindo quem surgisse um homem de trinta anos, cansado
prematuramente, com marcas de chicote no rosto e nas costas, recordando os
suplícios a que fora submetido.”
Pág 147
“Chegávamos a
um dos momentos-climax, para nós, em relação ao tratamento de Carlos. Naquele
instante, foram trazidos à roda, pela irmã Emerenciana, dois médiuns em estados
de receptividade, enquanto, do recinto em que se encontravam retidas as
Entidades, partiram com agressividade incomum jovem negra, que anatematizava o
rapaz, e um ser Exu, de imediato incorporando-se nos sensitivos que os
aguardavam já em meio transe. A Benfeitora segurava a cabeça da cada médium com
uma da mãos, aguardando o que ia suceder. Ambos em verdadeiro paroxismo,
dominaram as faculdades mediúnicas, num transe de alta agitação, e intentaram
libertar a cabeça da mão que se lhes chumbava poderosamente. Com ímpar
destreza, a Dirigente acompanhava-lhes
os movimentos, enquanto as feições dos médiuns se alteravam, completando
a transfiguração horrenda. Em dialeto banto, gritou, estentórica e cruel, a
mulher: “Eu sou Bombajira(Pombajira)
que o desventurado infelicitou. Venho atrás dos seus passos há anos, e
agora que o encontrei, não haverá misericórdia e compaixão para com ele.
Estacionando no mal que me fez, sou a representação feminina do mesmo mal que
cobra gota a gota o suor do sofrimento experimentado. Nenhum poder me deterá.
Eu sou invencível e movimento as forças do ódio que me nutre... A face do médium refletia com perfeição o
fenômeno transformador, com aspecto da tradição demoníaca, faltando-lhe alguns
detalhes que a comunicante se permitia ao luxo de manter em Espírito.
A cena, se não fosse
pelo trágico de que se revestia, parecia, burlesca, repelente... Quando fez uma
pausa, o outro exclamou, não com o menor estardalhaço, no mesmo dialeto: “Ele é
meu, e ninguém o vai roubar de mim. Quem se atreve? Eu sou o diabo!
Quando enunciou a última frase, carregada de força magnética, vimos que assumiu
características pelas quais o diabo o fez conhecido pelos homens, em razão da
mitologia religiosa ancestral.”
A
partir desses preciosos relatos, podemos ter uma compreensão maior, dos fenômenos
existentes nesse campo desde a mais remota antigüidade, fazendo-nos perceber de
uma maneira mais clara e racional, o que realmente acontece no plano
espiritual, não só nos cultos afro-brasileiros mas nas manifestações dessa
natureza de forma geral.
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