terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Mito e Mitologia


MITO E MITOLOGIA


                        O mito é a racionalização de uma certa realidade que nos chega sempre através de uma história, e que geralmente é utilizada para identificar, justificar e explicar  uma determinada situação ou algum acontecimento, cuja origem se perde na noite dos tempos. Mito é a representação simbólica contínua verbal ou mental com vários significados e níveis. Geralmente o mito acontece pela intervenção de entidades sobrenaturais, registrando através da ação direta, o momento e a forma com que uma realidade passou a existir no mundo material. Esta suposta explicação geralmente é narrada e transmitida por inúmeras gerações que as aceitam sem maiores questionamentos. Joseph Campbell escreve: “O mito é a abertura secreta pela qual forças inexauríveis energia dos cosmos penetram na manifestação cultural humana. As religiões, as filosofias, as artes, as formas sociais do homem primitivo e histórico, as descobertas fundamentais da ciência e d tecnologia, os próprios sonhos que povoam o sono, tudo emerge do poder mágico do mito.”


Thor


Desta forma, muitas culturas narram seus mitos sempre na tentativa de explicar a origem do universo, dos homens, dos elementos e de quase tudo que as cerca e as circunda. Estudar um mito e  tentar decodifica-lo, é sobretudo tentar conhecer  a si mesmo e as origens das coisas. As fábulas, as lendas, os contos, guardam sempre por um lado um fragmento de uma realidade que a princípio foi mal entendida, mal interpretada ou mal direcionada; por outro, pode estar representando por meio de uma alegoria um grande ensinamento ou mesmo em alguns casos retratando fatos absolutamente verídicos. É importante ressaltar, que o mito não destroi o fato, ele na realidade surge como interpretação e através da imaginação, tenta-se entender e  conceber  a essência do fato. A medida que a inteligência se desenvolve ao longo dos séculos, surge então a pesquisa e a interpretação lógica dos acontecimentos substitui a imaginação que da origem das mitologias e superstições. Importante frisar que o fato sempre existiu, a interpretação é que modifica ao longo dos tempos.
Camille Flammarion, destacado astrônomo, em seu livro intitulado, “O Desconhecido e os Problemas Psíquicos”, descreve-nos alguns fatos que achamos conveniente relatarmos para um entendimento maior do que seja mitologia e como ela pode nascer. Narra o ilustre astrônomo e escritor que se lêssemos em Herótodo ou Plínio, (grandes historiadores da antigüidade), que existiu uma mulher que possuía uma mama na coxa esquerda, com a qual amamentava o seu filho, rir-nos-íamos a bom rir. Entretanto, esse fato foi determinado pela Academia de Ciências de Paris, em sessão de 25 de junho de 1827. E ainda se nos virem falar de uma homem que trazia, conforme o comprovou a autópsia, uma criança no interior de seu corpo; que essa criança era um irmão gêmeo encerrado em seu organismo, e que esta criança envelhecera e adquirira barba, consideraríamos a história como uma fábula, uma lenda, um mito. Entretanto, narra Flammarion, ter visto com os seus próprios olhos este fato extraordinário, um nascido-morto de 56 anos. Chegamos mesmo a ver um interessante documentário sobre gêmeos, no qual uma mulher de idade adulta abrigava suspenso pelo pescoço em seu ventre o corpo de um irmão gêmeo, apresentando mais ou menos ¼  do seu tamanho. A partir desses casos verídicos de anomalias genéticas, podemos entender que muitas histórias da mitologia, tenham se originado desses fatos bizarros, constantes em todas as épocas da humanidade. Outro exemplo de que a mitologia pode nascer de um fato real, foi a incrível descoberta das cidades de Tróia e de Micenas, pelo arqueólogo alemão Henrique Schlemann (1922-1890), por volta de  1870, utilizando como referência apenas os relatos dos dois  grandes épicos de Homero; “A  Ilíada” e “A Odisséia”, escritos no século V, a.C. que muitos consideravam lendários. Fato similar aconteceu anteriormente, com as descobertas, meio que ao acaso, das cidades romanas  de Herculano em 1719 e Pompeio em 1748, ambas soterradas pelo vulcão Vesúvio, no ano 79 a.C. 



Homero, era cego

Da mesma forma, foram encontradas as ruínas de três cidades egípcias, Herakleidon, Canopus e Menouyhis, conhecidas somente por citações em tragédias gregas. O historiador grego Heródoto, que visitou o Egito, escreveu sobre Herakleidon e seu templo dedicado a Hércules. A mitologia grega por sua vez, faz referência à cidade , dizendo que Menelao, o rei de Esparta, parou em Herakleidon depois de sua volta de Tróia com Helena. Autores como Satrabo descrevem as cidades  e seus ricos estilos de vida, enquanto outros como Sêneca, condenam sua corrupção moral.Para o eminente psicanalista Carl Gustav Yung, o mito se explicaria através do nosso inconsciente coletivo, formado pelos nossos arquétipos, que são as nossas matrizes mais profundas, e essas, são  inerentes a todos seres pensantes. Nelas estão armazenados todos os registros das experiências humanas desde os mais remotos tempos. A partir disso, é natural que os mitos reproduzam relatos similares em todos os povos. A vida de Jesus  e de outros avatares foi cercada por fatos maravilhosos e similares, mais muitos desses mitos, só foram criados depois que eles já haviam crescido ou até morrido. O nascimento de Jesus em local humilde, muito embora possa ter acontecido, possui um profundo significado teológico. Ele repete a saga dos grandes personagens mitológicos, como o deus indiano Skanda-Murugan, correspondente ao deus Dionísio dos gregos, que nasceu entre os caniços do pântano. Do mito, nasce a  mitologia, que é o estudo ou tratado acerca das origens dos mitos, e  através dela que o mito vive ao longo dos tempos, pois a mitologia personifica o mito, e é através dos rituais que o mito se estabelece e se confirma e perdura ao longo dos tempos. O mito por sua vez, corresponde a lembrança ancestral ; o  ritual nesse caso é simplesmente a comemoração desse acontecimento. Ao relembrar o mito em um ritual, o homem recria e aceita inconscientemente o mito. Nas sociedades primitivas, foi o mito o grande sustentáculo das religiões, sendo esse o embasamento que alicerçava os mais profundos questionamentos e simbolismos. O tema principal dos mitos é sempre a busca da essência espiritual do homem, o fato primeiro, o   “big bang”, que originou todo o processo. Em muitos mitos, os deuses se transformam em homens, assim como os homens se transformam em deuses, existe sempre uma dualidade e uma transição, entre a materialidade temporal, e a imaterialidade eterna. O mito portanto, é a razão inconsciente dos homens, na sua busca eterna de entender e decifrar os mecanismos das leis divinas e do mundo que o circunda. O mito intenta a sintonizar as pessoas com os ciclos de sua própria existência, com o ambiente em que vive e com a sociedade a qual faz parte. Os mitos diz Horácio, foram inventados pelos sábios para fortalecer as leis e ensinar as verdades morais.
As mitologias e os sistemas religiosos apresentam as mesmas imagens, os mesmos temas, que por sua vez, assumem roupagens diversificadas com diferentes aplicações e interpretações, conforme cada povo e cada lugar do planeta. A exemplo disso, relacionaremos algumas correspondências entre histórias da Bíblia e a bem conhecida mitologia grega. A geanologia dos Helenos, conhecida como a fabulosa epopéia do rei Deucalião, que segundo a tradição, reinou na Tessália, cerca do ano 1.550 antes do Cristo, na época das migrações, em que teve origem para os gregos a notável narrativa do dilúvio de Deucalião, muito similar a narrativa bíblica do dilúvio de Noé, como também com a narrativa sumeriana cujo herói sobrevivente foi o gigante Gilgamesh. 



Noé  e a Arca

O importante ressaltar, é que em todas as histórias sobre o dilúvio que conhecemos, e são muitas por sinal, sempre existiram sobreviventes, heróis que de alguma forma, foram encarregados da missão de repovoar a terra e conduzir o povo no momento da transição planetária. Por meio dessas histórias, que sem dúvida nenhuma como já vimos, podem naturalmente possuir um fundo de verdade, esses relatos intentam muita das vezes exaltar e eleger um povo, capacitando-o através de seus heróis, a supremacia de sua raça, de sua linhagem, sobre outros povos, originando assim o mito. Os profetas hebreus muito foram influenciados por outras culturas e tradições, Isaías por exemplo cita um dragão voador no (cap. 14 v. 29), e  refere-se a sátiros (cap. 13 v. 21), ambas citações são elementos da  mitologia fenícia e grega respectivamente. Correspondência com a Bíblia encontramos  também na história mitológica de Hércules, figurado na Bíblia por Sansão, que como todos conhecem tinha em seus cabelos a fonte mágica de sua força descomunal. 



Hércules

Na lenda de Árion poeta e músico grego que viveu sete séculos antes de Cristo, que atirado ao mar por piratas, foi salvo por delfins, aos quais ao som de sua lira tinha encantado, observamos um mito equivalente ao relato contido no Antigo Testamento, sobre o profeta Jonas, que caindo no mar foi engolido por um enorme peixe, permanecendo em seu no ventre por três dias e  três noites. Após uma fervorosa oração, Jonas o Árion  bíblico, é literalmente cuspido em uma praia são e salvo, e devidamente apto para pregar a palavra do Senhor.



Jonas


 Desta forma, a história de Decalião que jogou pedras às costas e criou a raça humana, não é mais alegórica do que a história bíblica da mulher de Lot que foi transformada em estátua de sal, essa última uma alusão direta a Medusa grega, que virou pedra logo após Perceu cortar-lhe a cabeça. 



Perseu e a Meduza


A  criação de Adão, por Jeová do barro, não é nada de diferente nem absurda se comparada com a história egípcia do  deus com chifres que fabricou o homem numa roda de oleiro. A lenda de Minerva que veio a luz, após um período de gestação nas coxas do pai, se confunde com a história bíblica da criação da mulher através da costela de Adão(Gênesis cap.2, vs. 21 e 22). 



Minerva

Da  mesma forma luta de Jacó com o anjo(Gênesis cap. 32 vs. 23 a 30), reproduz o duelo dos deuses gregos com os filhos dos deuses chamados semideuses. Assim como em todos os processos mitológicos de criação, verificamos que os próprios deuses eram tirados do corpo de outros deuses, assim como o caso de algumas criaturas humanas, como o episódio muito conhecido da descendência de Brama, na Índia e de Eva nascida da costela de Adão em Israel.




Jacó luta com o Anjo

   A verdade é que nenhum homem grego antigo, egípcio ou babilônico, jamais foi queimado por “santas inquisições” por não aceitá-las literalmente; e, para todos os efeitos, as fábulas pagãs são em geral, diga-se de passagem, muito menos abusurdas do que as que foram impostas aos cristãos, a partir do Velho Testamento. O próprio Paulo de Tarso, Apóstolo dos Gentios, escrevendo aos Coríntios declara que a história de Moisés e dos israelitas era típica(I Coríntios cap.10, v.11), e na sua epístola aos Gálatas afirma que toda a história de Abraão, sua duas esposas e seus filhos são uma alegoria.(Galátas cap.4, vs. 22 a 24).
 O Espírito André Luiz, em “Evolução em dois Mundos” nos apresenta mais uma faceta desse envolvente assunto, o qual destacamos, com a finalidade de entendermos com mais amplitude e discernimento, a origem e a formação de uma mitologia. Na página 135, psicografia de Francisco Cândido Xavier, o repórter da espiritualidade escreve:

“Apareceu então a goecia e a magia negra, à qual as inteligências Superiores opuseram a religião por magia divina, encetando-se a formação da mitologia em todos os setores da vida tribal. Numes familiares, interessados em favorecer as tarefas edificantes para levantar a vida humana a nível mais pobre, foram categorizados à conta de deuses, em diversas faixas da Natureza, e, realmente, através dos instrumentos humanos mobilizáveis, esses gênios tutelares incentivaram, por todas as formas possíveis, o progresso da agricultura e do pastoreio, das indústrias e das artes. A luta entre Espíritos retardados na sombra e os aspirantes da luz encontrou seguro apoio nas almas encarnadas que lhe eram irmãs. Desde essas eras recuadas, empenharam-se o bem e o mal em tremendo conflito que ainda está muito longe de terminar, com bases na mediunidade consciente ou inconsciente, técnica ou empírica.”

            Deduzimos a partir desse relato de André Luiz, que as manifestações dos Espíritos na antigüidade, eram consideradas como intervenção dos deuses na Terra. E ainda nos esclarece o autor espiritual, que nas sociedades tribais os Espíritos desencarnados vivem ainda atrelados ao seu ambiente terrestre, vivendo noutras condições vibratórias, mas ainda sim participando intensamente da vida de relação com os espírito encarnados. É  nesse período e dessa maneira também, que surgiram nos primórdios da humanidade muitas das histórias da nossa mitologia.

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