terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Calvino e a Predestinação


CALVINO E A PREDESTINAÇÃO


                        A doutrina da Predestinação, surge no final da idade média, com o francês João Calvino (1509-1564), e para desenvolve-la, baseia-se nos princípios de Lutero e como não poderia ser diferente nas epístolas de Paulo de Tarso, as quais servem de estrutura para esta obtusa teoria, que perdura em diversas instituições religiosas até os dias de hoje. A diferença fundamental entre Calvino e Lutero é que o primeiro, suprimia a questão do “livre arbítrio”, Deus é quem controla a vontade humana. Calvino negava os direitos de consciência e da liberdade pessoal. As idéias calvinistas propagam-se com sucesso por vários países da Europa, apoiadas quase que totalmente pela burguesia européia, por estarem em concordância com o capitalismo. Calvino entendia que somente os eleitos pelo Senhor conseguem vencer na vida. Para a burguesia “vencer na vida” significava acumular cada vez mais capital, portanto a burguesia se identificava muito mais as idéias calvinistas  do que com as luteranas. Calvino esquece-se portanto das advertências de Jesus ao jovem rico em Mateus cap.19,v.21: ”Respondeu Jesus: “Se queres ser perfeito,vai,vende teus bens, dá-os aos pobres, e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me”; e no Sermão da Montanha, em Mateus cap.6,v.19: “Não ajunteis para vós tesouros na terra, onde a ferrugem e as traças corroem, onde os ladrões furam e roubam. Ajuntai para vós tesouros  no céu, onde não os consomem nem as traças nem a ferrugem, e os ladrões não furam e não roubam.” Para o reformador o destino do homem já está decretado e selado ao nascer por Deus. Da  felicidade celestial ao sofrimento nos infernos abismais, não estão absolutamente atrelados a uma relação de méritos ou deméritos. A doutrina calvinista como a luterna espalhou-se rapidamente pela Europa, e na França foram conhecidos os calvinistas por hugueontes, os quais foram perseguidos incansavelmente pelos Católicos. Dentre as inúmeras perseguições, uma marcou em definitivo a história religiosa do protestantismo, durou aproximadamente 48 horas e iniciou-se no dia 24 de agosto de 1524, culminando em um massacre hediondo, aonde centenas de reformistas juntamente com suas famílias foram assassinados de uma forma arbitrária, pelas ordens da remida rainha Catarina de Médicis. Esse insensato episódio, ficou conhecido nos anais da história como a “Noite de São Bartolomeu” por ter acontecido justamente no dia em que foi reservado pela Igreja para se homenagear esse Santo.


Voltemos ao reformador, Calvino por sua vez, considera a Divindade como autora do mal, ele argumenta que o homem mau e até mesmo o “diabo” nada podem fazer senão pela vontade secreta de Deus. Como elucidação e sustentação a esta colocação, refere-se ao livro, I Reis cap.22,vs. 20 e 23, do Antigo Testamento, aonde lê-se: “O Senhor disse: “Quem seduzirá Acab, que ele suba e pereça em Ramot  de Galaad”, a partir daí o “diabo”, oferece os seus préstimos a Deus e é enviado pelo próprio criador para executar a tarefa. No versículo 23 lemos: “O Senhor pôs um espírito de mentira, atuando pela boca de todos os profetas.” Outro exemplo clássico que a Bíblia nos apresenta é o do profeta Jó, no capítulo 2, v.6, do seu livro: “O Senhor disse a Satanás:”Pois bem, ele(Jó) está em seu poder, poupa-lhe apenas a vida”. Dentro desse pensamento sugerido pelo livro de Jó, Deus é quem comanda as ações do próprio “diabo”, a vontade e a determinação do próprio demônio vem primeiramente de Deus. Em outro trecho do Antigo Testamento vemos: “Absalão, manchando com um incesto o leito de seu pai, perpetrou um crime detestável; contudo Deus declara ser isso obra sua.” Já o profeta Jeremias, ensinava que todas as crueldades que os Caldeus praticavam na Judéia, eram obra de Deus. Reportando-se ainda a narrativa de Esaú e Jacó, Calvino afirma que Jacob sem nenhum mérito adquirido por suas boas obras, tornou-se objeto de graça. Calvino chega mesmo declarar em sua famosa obra “Institutos” que segundo a sua doutrina, a Predestinação, somente uma parte do mundo pertence realmente a Deus. Chega a esse termo, apoiado nas supostas palavras do próprio Cristo, descritas em João cap.27.v.9: “Eu não oro pelo mundo, mas por aqueles que tu me destes.” Calvino não crê que o amor de Deus ou a imitação do Cristo sejam bastante o suficiente para se alcançar a tão almejada salvação, devemos portanto temê-lo. Para Calvino só poderemos obter a salvação pela crença em Jesus, e  este sentimento, se traduz na plena e firme certeza que a própria salvação já nasce com o indivíduo, ou seja, é inata. Portanto, aqueles que de uma forma ou de outra foram predestinados a salvação, já o foram, antes mesmo da sua de sua criação como interpreta Paulo em carta aos Romanos, cap.9,vs. 10 a 13, lemos: “...pois bem, antes de haverem nascido e quando não haviam praticado nem bem nem mal, para que se mantivesse a liberdade da escolha divina que depende não das obras, mas do que chama, foi dito a Rebeca: o maior servirá ao menor como diz a escritura: Amei a Jacó e odiei a Esaú.”. E estes somente serão salvos pelo sacrifício voluntário do cordeiro de Deus no Gólgota. Pois, se Jesus não tivesse vindo a Terra e perecido na cruz, segundo Calvino e Lutero, a humanidade só conheceria o inferno eterno. Este pensamento de alguma forma revive o pensamento equivocado e egoísta do povo hebreu, aonde a milênios atrás asseveravam que o Deus do Universo, era o Deus somente de Israel, condicionando assim, um privilégio e uma Predestinação que os hebreus conferiam ao seu povo. Observemos que na história bíblica de Esaú e Jacó, existe notadamente aí, uma distinção e uma acentuada preferência com relação a Jacó, que já se estabelece no momento do seu nascimento, pois como mesmo a Bíblia nos relata em Gênesis, cap.25, vs. 25; Esaú, apesar de ser o primogênito dos gêmeos, não tinha uma aparência muito boa, a Bíblia diz que ele era vermelho e todo peludo, já o segundo era de aspecto normal ao que tudo indica. Jacó na realidade se encontra como o preferido e predestinado, caindo nas graças de Deus e dos pais. É portanto por intermédio de Jacó através de sua descendência, mais precisamente os seus doze filhos é que formaram-se as doze tribos tão afamdas de Israel, a Esaú, através da sua descendência, ficou a missão da constituição do povo edomita. A idéia da predestinação apregoada por Calvino interpretando as epístolas de Paulo de Tarso, na realidade é o planejamento que é preestabelecido no plano espiritual, que acontece antes da encarnação ou melhor da reencarnação. Este planejamento é o que irá nortear as ações dos Espíritos em linhas gerais enquanto estiverem reencarnados aqui na Terra e essas ações dependerão diretamente do uso do livre arbítrio de cada espírito reencarnante. Desse modo, Rebeca pergunta ao Senhor sobre o futuro dos filhos amados e tão desejados, e o Espírito comunicante responde aos seus apelos em Gênesis cap.25, v.19, traçando em linhas gerais o que deverá acontecer no porvir em relação a vida dos gêmeos. Esse episódio se analisado dentro do entendimento espírita, significa a encarnação de dois espíritos antagônicos que tinham como finalidade a harmonização, e foi isso, o que realmente aconteceu conforme a Bíblia mesmo relata em Gênesis cap.33, v.4, lemos: “Mas Esaú correu-lhe ao encontro e beijou-o; ele(Jacó) atirou-se ao pescoço e beijou-o; e puseram-se a chorar”. Sendo o atributo principal da reencarnação o da evolução do Espírito na Terra, necessário é que os Espíritos aqui exemplifiquem as leis de Deus e do amor ao próximo, aparando as arestas e corrigindo os erros da própria vida ou de encarnações passadas. Foi exatamente o que se sucedeu na história de Esaú e Jacó, no final como vimos, eles se harmonizam. A Predestinação, agora, cabe também a Esaú, pois para Deus e seus prepostos, todos nós estamos fadados a  felicidade, e o que as vezes se apresenta como privilégio nada são do que bônus que provavelmente foram conquistados em outras existências através das “obras da fé”, como nos dizia o apóstolo Tiago, que é justamente o trabalho incessante no bem e no amor ao próximo. Portanto nossa atual posição evolutiva na Terra, é reflexo direto do somatório das nossas atitudes e dos nossos procedimentos nas vidas e ações pregressas. Para uma maior fixação e solidificação  desse pensamento examinemos a vida do grande rei Salomão, que era tido como o homem mais sábio que já vivera na terra nos tempos antigos, e isso a Bíblia relata em I Reis, cap.4,v.31. Ora pela teoria da predestinação, Deus teria privilegiado  o rei Salomão, em detrimento a outras criaturas. Mas percorrendo as páginas da própria Bíblia encontramos a resposta para essa suposta Predestinação, quando vemos em Sabedoria, cap.8, vs.19 e 20, parte do Antigo Testamento que trata de assuntos pertinentes a vida do rei em questão. Lemos: “Eu era menino vigoroso e dotado de uma alma excelente, ou antes, como era bom, eu vim a um corpo intacto.” Ora a Predestinação aqui entendida como uma escolha unilateral de Deus, por Calvino, desta feita conferida ao famoso rei Salomão, nessa passagem, aparece e se expressa como uma subordinação direta aos seus atos em uma encarnação passada. A sua bondade e a pureza de seus pensamentos o condicionaram a ter uma estrutura mental que o permitia ter uma supremacia de raciocínio e um cabedal de conhecimentos superior a outros espíritos encarnados da época. Esclarecemos portanto, que alguns textos bíblicos representam o pensamento daqueles homens, ainda bastante materializados e rudes, que naquela época escreveram, o que não entendiam mais claramente, não representando necessariamente o pensamento de Deus e sim a forma com que eles os homens o entendiam e se relacionavam com a divindade. A Bíblia ostenta em suas páginas, mitos, lendas como também histórias reais, compreendendo a saga do povo hebreu, ao passo que muitas, como já vimos em capítulos precedentes, foram de uma certa forma adaptadas de outros povos. Da mesma forma que o povo judeu na Bíblia, outras civilizações escreveram e imortalizaram suas histórias em seus próprios livros sagrados que também exprimiam o seu modo de pensar e a maneira como entendiam esta mesma divindade. Um dos grandes problemas na interpretação dos textos bíblicos, é entende-los, aceitando-os como a palavra direta de Deus aos homens. Desta forma e através desse pensamento a Bíblia se unifica. Por exemplo: As palavras de Jesus tem para muitos, principalmente entre os protestantes, o mesmo peso das epístolas(cartas) de Paulo e do Velho Testamento, ressaltando que a velha escritura ainda suscita interpretações por parte dos crentes, que o consideram como bússola orientadora, sugerindo procedimentos que ainda devem ser seguidos, apesar do próprio Jesus, ter lançado uma nova versão da lei mosaica,(Mateus,cap.5,v.17 e Hebreus, cap. 8, v.7) através dos seus ensinos, enquanto esteve na Terra. Muitos tentam justificar as suas idéias colocando o velho jargão mosaico ”está escrito na Bíblia”, e os leigos na sua maioria são os cegos guiados por cegos, como bem já nos orientava o Cristo de Deus, esses mesmos cegos que ainda não possuem olhos de ver, colocam os seus arcaicos pontos de vista, modificando-os completamente o sentido, opondo-se radicalmente o que na realidade os textos intentam em nos dizer.
Por outro lado, existem passagens na própria Bíblia, que exprimem o pensamento literal, ou seja, querem dizer exatamente aquilo o que está escrito. E daí, que a Bíblia diz em certas passagens como por exemplo em Hebreus cap.27,v.9: aonde lemos: “E como aos homens está ordenado morrerem uma vez vindo depois o juízo.”, muitos contrários a reencarnação e adeptos do juízo final, se utilizam dessas palavras e desse momento de Paulo de Tarso, para  asseverarem, que a reencarnação não existe, apesar das inúmeras advertências do próprio Mestre Jesus em diversas oportunidades como no diálogo com Nicodemos, quando procurado por aquele ancião a noite, Jesus segundo a narrativa bíblica, é tomado por uma enorme perplexidade ao perceber que como Nicodemos, um homem considerado mestre em Israel, um religioso seguidor das tradições judaicas, desconhecia, ou mesmo colocava em dúvida a transmigração das almas, ou seja, o processo reencarnatório, demonstrado tão categoricamente na Cabala hebraica de Henoc?
Jesus ressalta ao velho mestre, numa lição inesquecível, descrita em João cap.3, “que necessário é, nascer de novo”. Ainda o Mestre em seus diversos ensinos sobre a reencarnação, esclarece em Mateus, cap.17, aos apóstolos, Pedro, Tiago e João,  logo após a transfiguração, no monte Tabor, aonde Moisés e Elias, dialogam com ele materializados, que João Batista, foi na realidade o profeta Elias. Após tantas provas e fenômenos presenciados pelos apóstolos, a Bíblia diz, que os discípulos compreenderam então e da mesma forma  aceitaram, que João Batista era o profeta Elias reencarnado em missão na Terra. Muitas porém, são as passagens que demonstram a reencarnação nas Escrituras, umas nas entrelinhas, outras se apresentam bem cristalinas e evidentes, como essas advertências diretas que citamos do Mestre, e que ficaram registradas nos Evangelhos, apesar de todas as tentativas das trevas e da ignorância em tentar sufocar essa verdade cósmica e transcendente. A Predestinação pregada por Calvino, não condiz com as leis sacrossantas de Deus, o que temos aqui na Terra, é o cumprimento das leis de causa e efeito se concretizando segundo as obras que nós mesmos efetuamos em nossas diversas estadas no processo de evolução no planeta Terra. Dentro do exposto, podemos ainda contestar este pensamento ou mesmo esta forma de entendimento da teoria da predestinação quando de forma alegórica Jesus, segundo os Evangelhos prediz o seu retorno, enfatizando em Mateus cap.25,v.34 a 36 que “cada um receberá conforme suas obras, já  esse retorno em corpo presente predito pelo catolicismo e protestantismo, é mais uma alegoria, essa volta se concretizará na realidade dentro dos corações dos homens, quando estes aceitarem e praticarem as verdades espirituais contidas não só nos Evangelhos, mais em todos os escritos de todas as religiões da humanidade que ao longo dos séculos, intentam iluminar os homens. Essas orientações foram trazidas a nós pelos próprios mensageiros do Cristo, preparando cada povo de acordo com a sua capacidade e seu entendimento. Para encerramos a questão, transcrevemos a passagem que de uma certa forma constitui a base a teoria da Predestinação e mais adiante devidas explicações para essa colocação de Paulo de Tarso em Efésios cap1, vs. 3 a 12: “Bendito seja Deus e Pai do Nosso Senhor Jesus-Cristo que nos abençoou com toda classe de benções espirituais, nós céus, em Cristo. Porquanto nos elegeu nele antes da criação do mundo, para sermos santos e imaculados em sua presença e em seu amor, elegendo-nos de antemão para sermos seus filhos adotivos por meio de Jesus-Cristo segundo o beneplácito de sua vontade para proclamação da glória de sua graça que nos há prodigalizado sobre nós em toda a sabedoria e inteligência, dando-nos a conhecer o mistério de sua vontade segundo o benevolente desígnio que nele se propôs de antemão para realiza-lo na plenitude dos tempos, fazer que todos tenham o Cristo por Cabeça, o que está nos céus e o que está na Terra, a ele por quem encontramos na herança, eleitos de antemão segundo prévio desígnio do que tudo realiza conforme a decisão de sua vontade para sermos nós proclamação de sua glória, os que já antes esperávamos em Cristo.”
Na realidade o texto acima transcrito na íntegra, é perfeitamente entendido a luz da doutrina espírita, como a grande falange de Espíritos que foram exilados do Sistema de Capela, e que foram recebidos amorosamente por Jesus e seus prepostos em tempos longínquos. Percebemos a inspiração magnífica de Paulo de Tarso, que retrata a finalidade do espírito quando ele mesmo diz:  “para sermos santos e imaculados”, estipulando assim, através da intuição do alto, a meta do processo  evolutivo de todos os seres; a angelização. Na imensa escada simbólica na qual desciam e subiam miríades de anjos, vista por Jacó em seu sonho(Gênesis,cap. 28,v.12), representa-nos o processo evolutivo que todos os seres humanos deverão percorrer ao longo do rosário das encarnações, seja aqui na Terra ou em outros mundos, visando o sublime objetivo: a perfeição relativa,  destino Predestinado por Deus para todos os seres viventes do Universo.

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