terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Gnostismo


O GNOSTISMO

                        O termo gnose, advém do grego “gnosis”, e representa o conhecimento, que os místicos atribuíam as eternas verdades espirituais e sobretudo a sua maneira de se relacionar mais intimamente com Deus. O místico portanto, deve percorrer o caminho da purificação e da iluminação, até o  encontro final com Deus interior. Esse caminho que visa a auto-realização,  possui  muitos estágios e muitas vezes inclui o ascetismo, experiências respiratórias e técnicas de meditação. Desta forma o místico é absorvido em Deus, se perde em Deus, ou desaparece em Deus. Apesar da literatura gnóstica mais conhecida, estar escrita inicialmente em copta ou grego, é na antiga Índia que surgiu o Jnana ou Gnan, sendo parte essencial do Gupta Vidya, que tem por significado “conhecimento secreto”. Tempos mais tarde, esse conhecimento migrou para Grécia convertendo-se em Gnôzis. O sagrado Livro do Grande Invisível, conhecido como “Evangelho dos Egípcios”, foi escrito pelos terapeutas, a escola essênia egípcia  de agentes de cura e de médicos que preservou grande parte da sabedoria hermética do antigo Egito e a transmitiu para os gnósticos. A gnose, por sua vez,  na antigüidade era conhecida como a ciência superior dos magos e dos altos sacerdotes, e era considerada a grande detentora do conhecimento sagrado. Todas as controvérsias que surgiram nos primeiros séculos do cristianismo foram geradas, justamente pelo fato de a Gnose designar conhecimento profundo das verdades espirituais em contraposição as verdades dogmáticas que eram apresentadas aos fiéis por parte do clero. Algumas formas mais conhecidas da Gnose ao longo dos tempos foram: O Hermetismo ou Mistérios de Hermes, A Gnose Cristã, A Alquimia, Os Ensinamentos dos Templários, entre outros.





 Desta forma, a gnose, tornou-se um vigoroso movimento religioso,  difundindo-se para o ocidente através das excursões guerreiras de Alexandre; O Grande, e que se consolidaram através dos contatos com os sistemas teogônicos e religiosos do oriente que começaram a se infiltrar no ocidente, tendo a Grécia como ponto de partida, alcançando depois, todo o império Romano. A gnose se manifesta ao homem como revelação através de mensagens, doutrinas secretas ou arcanas que são transmitidas e confiadas aos iniciados ou eleitos. Os livros Herméticos, no antigo Egito, eram uma coletânea dessas revelações que Hermes recebeu da divindade e transmitiu para os iniciados como foi de seu discípulo Asclepíades. Sabe-se, que o gnostismo não foi um movimento unificado, e que teve o seu apogeu por volta dos séculos II e III. Na realidade existiam uma grande variedade de gnósticos em vários movimentos religiosos e em épocas diferentes. Cristãos, judeus, e pagãos comungavam dos mesmos princípios, e aplicavam esse conhecimento dentro de suas doutrinas. Cabe-nos ressaltar, que muitos escritos considerados apócrifos pela Igreja tem uma linguagem eminentemente gnóstica, sendo essa filosofia muito difundida nos primórdios do cristianismo. Alguns gnósticos proeminentes faziam parte da Igreja primitiva e ocupavam posições de destaque nas comunidades cristãs, especialmente em Alexandria no Egito, como os dois grandes Patriarcas da Igreja; Clemente e Orígenes de Alexandria. Os gnósticos pretendiam não somente conhecer a sua origem divina, mas alcançar a união com Deus. Para os gnósticos a busca do conhecimento e da sabedoria conduziam a vida eterna, enquanto a ignorância eqüivalia a estar escravizado a morte. No Evangelho místico e enigmático, do Apóstolo João, Jesus é apresentado como gnóstico e esotérico, ao declarar cap.8, v.32,  “se conhecêssemos a verdade ela nos libertaria”, da mesma forma no cap.10, v.34, reafirma a passagem descrita no Salmos, “Vós sois deuses”. Essas colocações de Jesus, estão perfeitamente em sintonia com alguns preceitos do  gnostismo.
 Para os gnósticos que viveram no tempo de Cristo, sua ressurreição fora puramente espiritual, e é exatamente isso que Paulo de Tarso, descreve em sua carta aos Coríntios, razão pela qual muitos entenderem que ele era filiado a essa filosofia.  Uma das vertentes do gnostismo lideradas por Cerinto, acreditavam que o corpo de Jesus era fluidico, essa concepção,  abalou todas as Igrejas da Ásia, afirmando que Jesus e Cristo eram duas entidades distintas. Desse movimento de Cerinto batizado por  “Docetismo”, novas versões se formaram  ao longo dos tempos, principalmente na Europa, como os “Apolinaristas” no quarto século, foram seguidos pelo  “Catarismo”,  “Valdenses”, “Albigenses”, “Irmãos Pobres”, e no sec. XIX, o “Roustanismo”, a qual perdura até os dias atuais.  Essa seita, desprezava fundamentalmente a carne, que para eles era um veículo meramente transitório, um invólucro necessário somente para a purificação do espírito. Vários Evangelhos descobertos na antigüidade,  que antes da descoberta dos “ Manuscritos do Mar Morto”, eram considerados sem autenticidade ou apócrifos, verificamos esse pensamento. No de Felipe por exemplo, o autor chega até mesmo ridicularizar os cristãos que acreditavam ter Jesus ressuscitado em corpo material. No Apócrifo de João, Jesus em espírito manifesta-se consolando o apóstolo amado. Fenômenos similares são narrados na Carta de Pedro, dirigida a Felipe e na Sabedoria de Jesus Cristo, ambos encontrados em Qunram. Jesus de uma forma geral, nesse relatos se apresenta assim como na estrada de Damasco, com uma voz que parece provir de um foco luminoso, ou seja, um Espírito comunicante. No Evangelho de Maria de Madalena, Jesus parece comunicar-se com a própria Maria, por intermédio de suas faculdades psíquicas, ou seja, sua mediunidade. No Apocalipse de Pedro, Jesus , comunica-se através de um transe profundo vivenciado pelo apóstolo, fato esse, que se assemelha em muito com a epístola do próprio Pedro, contida nos chamados Evangelhos Canônicos. Além da credibilidade das manifestações espirituais, os gnósticos acreditavam na reencarnação, num texto gnóstico chamado Pistis Sofia, observamos um elaborado sistema de recompensa e punição gerado pelas leis de causa e efeito. O texto nos revela, que um homem que amaldiçoa receberá um corpo com o coração atormentado; Um homem que calunia receberá um corpo que será oprimido; Um ladrão receberá um corpo deformado e cego; Um homem orgulhoso e desdenhoso receberá um corpo aleijado e feio que obviamente todos desprezarão, e assim sucessivamente. Os gnósticos por sua vez, rejeitavam basicamente a hierarquia sacerdotal, apregoando que a redenção é tarefa estritamente pessoal, independente de rituais, sacramentos filiações a esta ou aquela instituição, como a obediência a um determinado grupo sacerdotal, que aliás naquela época insistia em não aceitar as evidências das manifestações espirituais de Jesus, como de todos os que se manifestavam após a morte física. Muitos acreditavam na reencarnação. O que o gnostismo apregoava, que a salvação não requeria a uma associação direta a qualquer Igreja, esse pensamento se tornou herético quando a Igreja começou a se institucionalizar, a partir do concílio de Nicéia, levando a perseguição aqueles que detinham esse tipo de pensamento. 

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