terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Umbanda


A UMBANDA  NO  BRASIL


                        A palavra umbanda é originária do sankristo e significa a Mente Universal, Deus, Zambi e Bandha, que significa laço, vinculação. Seu significado é a ligação com Deus. O início desta religião começa com o advento do tráfico de escravos mais especificamente das tribos africanas dos bantus e sudaneses, que trazem suas crenças, sua mitologia e seu politeísmo africano para as terras brasileiras. Portanto, as origens da Umbanda e seu início no Brasil acontece mais precisamente em meados do século XVI, através do sincretismo que começa a se formar por ocasião da catequese realizada pelas missões portuguesas que chegaram ao Brasil com a missão de estabelecer o Catolicismo como religião oficial das terras recém descobertas. Portanto ocorreu por parte dos negros africanos a associação das suas divindades com os chamados Santos Católicos, surgindo assim a  o sincretismo religioso no Brasil através da Umbanda.


DEUSES OU DEMÔNIOS


       As origens dessa aparentemente nova concepção religiosa remontam a mais remota antigüidade, recuando-se no tempo encontramos na antiga Mesopotânea cerca de 4.000 anos antes de Cristo, um culto aos demônios, que na realidade era o culto aos espíritos, pois a palavra demônio significa espírito, em que com o tempo foi tomando a idéia de entidade maléfica. No “Evangelho Segundo o Espiritismo”, Allan Kardec,  na sua introdução, esclarece que a palavra daimon, da qual fizeram o termo demônio, não era na antigüidade, tomada à má parte, como nos tempos modernos. Não designava exclusivamente seres malfazejos, mas todos os Espíritos, em geral, dentre os quais destacavam-se os Espíritos superiores, chamados deuses, e os menos elevados, ou demônios propriamente ditos que comunicavam-se, como ainda se comunicam, diretamente com os homens. Segundo a doutrina de Socrates e de Platão, diziam que após a morte, o gênio(daimon, demônio), que nos fora designado durante a vida, levava-nos a um lugar aonde se reúnem todos os que tem de ser conduzidos ao Hades(terra dos mortos), para serem julgados. As almas depois de haverem estado no Hades o tempo necessário, são reconduzidas a esta vida em múltiplos e longos períodos através das reencarnações. Na própria Bíblia vemos alusões aos demônios que nesse caso eram  espíritos impuros e imundos como as próprias escrituras mencionam, os quais Jesus com sua moral elevada os repreendia e os expulsava. A idéia do demônio como personificação do mal pensamento influenciou muitos povos da antigüidade, como os Hebreus, Gregos, Egípcios, Romanos Cristãos e os Africanos, sobrevivendo até os dias atuais. A demoniologia do passado nada mas era do que o trato com espíritos desencarnados, originando os ritos tidos como satânicos dos dias atuais, dado a ignorância de se compreender mais profundamente as questões que envolvem o mundo espiritual. As catástrofes eram atribuídas aos demônios, e acreditava-se que só os bruxos, feiticeiros e Magos, teriam o poder para combater as forças extrafísicas, acalmando com inúmeros rituais a ira implacável dos deuses. Por essa razão, deveriam conhece-los intimamente, desta forma nomearam muitos demônios em listas intermináveis,  associando-os a uma diversidade enorme de acontecimentos. Na Umbanda estes mesmos “demônios” são denominados Exús, entre outros, e nada mais são do que Espíritos dos homens que viveram na Terra e agora se encontram no mundo espiritual, os quais pela sua ignorância mantém contato estreito com os homens muitas das vezes hipnotizados por algozes no plano espiritual, aprisionados por vingança na maioria das vezes, obrigam esses Espíritos a se passarem por essas entidades, como também a se apresentarem nos Centros Espíritas de uma forma geral, ou mesmos na Igrejas que permitam intencionalmente a sua manifestação para desse modo possam provar aos seus crentes a realidade do demônio tal como entendem, provocando cenas magníficas  de exorcismo em nome de Jesus. Pastores e ovelhas  intimidam as entidades ignorantes e sofredoras com uma forte corrente fluídica direcionada pelo pensamento e a vontade que objetivam simplesmente  a expulsão do espírito imundo do indivíduo. Fatos como esses no passado, mal entendidos levaram inúmeros inocentes a morte, acusados de estarem possuídos pelo diabo, foram queimados vivos em espetáculos hediondos nas fogueiras da inquisição. Nessa mesma idade média os demônios geralmente se subdividiam em um grupo de 7(sete), os textos antigos apontam também que eram de origem masculina e feminina, como não poderia ser de forma diferente, sendo Espíritos desencarnados ainda ligados ao plano de encarnação no orbe terrestre guardavam os traços, preferências e aparência de sua última encarnação na Terra. A própria Igreja católica em razão disso, os denominou de íncubus a forma masculina e súcubos a forma feminina dos demônios que a noite vinham copular com os humanos, causando-lhes enormes pesadelos e transtornos. Outros por sua vez, eram híbridos, consumiam sangue humano e adoravam sacrifícios, mesmo sendo de animais. A Bíblia por seu turno descreve inúmeras passagens que identificam o culto aos demônios(espíritos) em um longo espaço de tempo na vida dos antigos hebreus. Seriam os grandes patriarcas bíblicos umbandistas? Nas passagens selecionadas as quais transcrevemos com os devidos destaques, percebemos uma correspondência muito grande com os elementos do  judaísmo praticado no tempo dos patriarcas bíblicos com os rituais afro-brasileiros da atualidade:

Artefatos

ÊXODO CAP. 27, VS. 3 e 4
Farás para  este  altar  cinzeiros, pás, bacias, garfos, e braseiros: todos estes utensílios serão feitos de bronze em forma gelosia, e porás nos seus quatro argolas de bronze.

Paramentos

ÊXODO CAP. 28, V. 2
Farás para teu irmão Aarão vestes sagradas em sinal de dignidade de ornato.

Incensos

ÊXODO CAP.30, V.1
Construirás um altar para queimares sobre ele o incenso, falo-ás de madeira de acácia.

Sacrifícios de animais e rituais de sangue

GÊNESIS CAP. 8,V.20 e 21
E Noé levantou um altar ao Senhor:  tomou de todos os animais puros e de todas as aves puras, e ofereceu-os em holocausto ao Senhor sobre o altar. O Senhor respirou um agradável odor, e disse em seu coração: “Doravante, não mais amaldiçoarei a terra por causa do homem  porque os pensamentos do seu coração são maus desde a sua juventude, e não ferirei mais todos os seres vivos, como o fiz.” 

ÊXODO CAP. 29, V. 1 a 3, 19 e 20, 36 e 37
Heis como procederás para consagrá-los como sacerdotes a meu serviço. Tomarás um novilho e dois carneiros sem defeito; pães sem fermento, bolos sem fermento amassados com azeite, bolachas sem fermento untadas com azeite, tudo feito de flor de farinha de trigo. Pô-los-ás em uma cesta e os oferecerás ao mesmo tempo que o novilho e os dois carneiros.Tomarás em seguida o segundo carneiro, e Aarão e seus filhos imporão suas mãos sobre sua cabeça. Degolá-lo-ás e tomarás o seu sangue para metê-lo na extremidade da orelha direita de seus filhos sobre os dedos polegares de suas mãos direitas e sobre os dedos polegares de seus pés direitos.  Depois derramarás o resto do sangue em volta do altar.Cada dia imolarás um novilho em sacrifício expiatório pelo pecado; por este sacrifício expiatório tirarás o pecado do altar, e far-lhe-ás uma unção para o consagrar. A expiação do altar se fará durante sete dias; e consagrarás este altar que se tornará cisa santíssima, e tudo que tocar será consagrado.

ÊXODO CAP. 29, V. 41
Entre  as  duas tardes oferecerás o segundo cordeiro, acompanhado de uma oferta e de uma libação semelhantes às da manhã. Isto é um sacrifício de agradável odor consumido pelo fogo em honra do Senhor.

LEVÍTICO CAP.1, VS. 14 e 15
Se sua oferta ao Senhor for um holocausto tirado dentre as aves, oferecerá rolas ou pombinhos. O sacerdote meterá a ave sobre o altar, depois de haver espremido o seu sangue contra a parede do altar.

LEVÍTICO CAP.4,VS. 1 a 7
O Senhor disse a Moisés: “Fala aos israelitas. Diz-lhes: Quando um homem tiver pecado involuntariamente contra uma prescrição do Senhor, fazendo uma das coisas que ele proibiu: se aquele que tiver pecado for um sacerdote ungido, de maneira que o povo se torne culpado, oferecerá ao Senhor por sua transgressão um novilho sem defeito como sacrifício de expiação. Levará o novilho diante do Senhor, à entrada da Tenda de Reunião, porá a mão sobre a cabeça do touro e o imolará diante do Senhor. O sacerdote ungido tomará o sangue do touro e o levará à Tenda de Reunião; mergulhará o seu dedo no sangue, e fará sete aspersões diante do Senhor, diante do véu do Santuário. Em seguida, porá o sangue dos cornos do altar dos perfumes aromáticos que está diante do Senhor na Tenda de Reunião; e derramará o resto do sangue do touro ao pé do altar dos holocaustos que está à entrada da Tenda de Reunião.

Na umbanda muitos aspirantes a sacerdotes ou sacerdotisas, entenda-se mães e pais de santo, deitam-se em um quarto por determinados dias, raspam a cabeça e são acessorados por pais ou mães de santo, havendo também várias restrições alimentares e comportamentais. Da mesma forma verificamos similaridades a essa forma de ritual:

NÚMEROS CAP. 6 VS 18 e 19
 “Então o Nazireu à porta da tenda da congregação rapará a cabeça do seu nazierado e tomará o cabelo da cabeça do seu nazierado e o porá sobre o fogo esta debaixo do sacrifício pacífico. Depois o sacerdote tomará a espádua cozida do carneiro, e um pão ázimo do cesto  um coscorão ázimo, e os porá nas mãos do nazireu, depois de haver radado a cabeça do seu nazierado.”

No tempo em que Jesus esteve entre nós, certos tipos de demônios ou exus(espíritos) habitavam os cemitérios, freqüentavam túmulos e controlando certas passagens e lugares, as quais muitas pessoas tinham medo de transitar.(Marcos cap. 5, vs 1 a 10) Dentro de uma visão Umbandista e Espírita, entendemos que existem espíritos sofredores , assim como espíritos mais evoluídos que tem a incumbência de velar por esses, funcionando como uma espécie de guardiões dos cemitérios. Os Exus segundo a Umbanda são os guardiões dos caminhos de uma forma geral, eles são os soldados dos chamados, Pretos Velhos e Caboclos, que segundo a visão Umbandista na Terra desempenham o papel de emissários dos Orixás entre os homens. A Umbanda classifica os Exús em sete classes principais, sendo que cada um deles comandam mais outros sete, sempre seguindo a uma ordem hierárquica e a uma detalhada classificação. Os Orixás são considerados entidades evoluidíssimas e vivem no plano “Astral Superior” denominado “Aruanda”, estes aqui na Terra representam as forças da natureza. Oxum é a manifestação das águas doces, Iemanjá das águas salgadas; Iansã os ventos e chuvas; Xangô a força do trovão e dos relâmpagos, etc. Cada um destes é associado a uma personalidade e pela natureza do tipo de comportamento humano, diante do mundo e da vida de relação,  nós mortais somos identificados como seus filhos e segundo essa doutrina, somos protegidos incondicionalmente por eles. Os Orixás dentro do culto Umbandista, não são incorporados, o que se vê na realidade nos centros de Umbanda é a manifestação dos chamados “falangeiros” dos Orixás, Espíritos de grande luz que vem trabalhar sob suas ordens.  Os “falangeiros”, incorporam em seus médiuns ”cavalos” e mostram sua presença e sua força em nome de um determinado Orixá. Estes por seu turno comandam os Espíritos que são classificados em diversas classes como: Pretos Velhos, Cablocos, Boiadeiros, Marinheiros, Baianos, Crianças, Povo da água, Povo do Mar, Povo do Oriente, como também os Exús, naturalmente. Os Orixás sempre segundo a mitologia da Umbanda, em um passado muito remoto, teriam entrado em contato direto com os seres humanos, passando dessa forma, seus ensinamentos e mostrando-se sob a forma humana.



Logo após esta estada na Terra, em Espírito, retornaram a terra de Aruanda, astral superior, mas na Terra deixaram sua essência através das forças da natureza. Então segundo a Umbanda as forças da natureza são uma expressão dos Orixás que comandam e dirigem a Terra. Assim sendo, os Orixás foram correlacionados com os Santos do Catolicismo, sendo a palavra Orixá de origem sanskrita e significa luz e em Orubá, cabeça.


O SINCRETISMO NA UMBANDA


          Os escravos que saíram traficados das áreas de contingência árabe no continente africano, transportaram para o Brasil muito das práticas religiosas, que por sua vez eram fusões de outras seitas e compreenções mais antigas. Em Khan no Egito,  os Templos eram construídos segundo princípios Cósmicos e telúricos, obedecendo aos conceitos da "Geografia Sagrada" , e sua estrutura estava de acordo com a anatomia oculta do ser humano. Lugar onde era lei, principalmente por parte da classe Sacerdotal, a elaboração dos três círculos energéticos de proteção contra emanações de polaridade negativas oriundas não só de pessoas com forte poder mental, mas também dos Afrits (larvas, miasmas e demônios de grande poder do astral inferior). Os hebreus utilizavam o sangue do cordeiro para a confecção desses mesmo círculos diante do altar, em sua cerimônia de purificação. Observamos que nos terreiros de Umbanda é comum fazerem círculos, objetivando  mesma finalidade, então deduzimos que essa prática adotada pelos egípcios e posteriormente pelos hebreus, foi adaptada pelas religiões afro-brasileiras, através do sincretismo. A própria figura do  "Contra-egum", objeto dos cultos "Afro" (Candomblé, Umbanda, etc.), consiste num pequeno cordame colocado um pouco abaixo do umbigo e nos braços era um adereço comumente utilizado por grande parte dos Sacerdotes e Faraós egípcios, que através desses  pequenos cintos e braceletes colocados em áreas estratégicas do corpo, acreditavam serem emanadores de um campo energético.








Terra de Aruanda onde vivem os Orixás



            O ato de apaziguamento e de submissão realizado em quase todas as partes do mundo, envolvendo sacrifícios de sangue de homens e de animais, eram obrigatórios, variando segundo as cerimônias e o temperamento mais ou menos brutal ou fanático dos oficiantes. Os próprios cânones mosaicos como os conhecemos, estabeleceram esses sacrifícios sangrentos para o uso dos hebreus e o Talmuld, mais tarde, ratificou a tradição dizendo: “que o pecado original não podia ser apagado senão com sangue”. Nos rituais de Quimbanda o sangue de animais e a queima de pólvora advém  de práticas de defesa das tribos africanas e no meio religioso tornaram-se práticas maléficas, dirigidas contra desafetos e rivais. Muitos trabalhos direcionados para o mal realizados hoje em dia por cultos afro-barsileiros são muito similares as práticas de vodu largamente praticadas no Haiti, que lá surgiu com o advento da cana-de-açúcar nas Antilhas e o tráfico de escravos africanos. A Macumba na realidade é um instrumento de sopro, geralmente de bambu, que se toca para chamar os espíritos do mato, e o despacho, ao contrário do que geralmente se pensa, não é oferenda de comidas e bebidas que se coloca nas encruzilhadas e nas esquinas de ruas(adaptação urbana do rito selvagem), mas o envio de espíritos inferiores para atacar as pessoas visadas. A oferenda é a paga que assegura a eficácia do ataque. Os espíritos agressivos, embora não possam comer os manjares e tomar as bebidas, aspiram as suas emanações, como os deuses mitológicos faziam e como o próprio Iavé da Bíblia, o deus judaico, também fazia, como se vê nos relatos bíblicos. Na descrição do Dilúvio, no Gênese bíblico cap. 8 v. 20, vemos que Noé fez um altar no Monte Ararat para dar graças a Iavé pela salvação da sua família. No altar foram colocados alimentos de carne fumegante e Iavé compareceu para aspirar as emanações dos alimentos.
           Sabe-se que os magos e sacerdotes caldeus, influenciaram enormemente os israelitas no período em que os mesmo estiveram em cativeiro na Babilônia, e a partir desse período iniciou-se em Israel a fitoterapia, uma ciência médica que empregava aromas e ervas aromáticas tanto na cura, como nos cultos de adoração ao Senhor.  Pouco a pouco essa nova medicina, sacerdotal foi substituindo as antigas práticas mágicas dos prelados babilônicos. A  “saúde do corpo e da alma” (Juizes cap. 9 v.13), foi largamente difundida entre os sacerdotes hebreus os quais se utilizavam da mãe natureza e de seus frutos como importante ingrediente no tratamento dos indivíduos. “Os frutos para nutrir e as folhas para curar”, asseverava o profeta Ezequiel cap.47, v. 2. A exemplo das oferendas egípcias, as primeiras colheitas eram comumente oferecidas a Jeová sob a forma de espigas de milho ou fina farinha sobre a qual derramava-se óleo aromatizado de incenso. Os cereais eram objeto de oferendas, segundo os ritos sagrados não só a Jeová, mas para todos os deuses da antigüidade. As espigas torradas ou  grãos de trigo amassados, sob forma de galletes, uma espécie de bolo redondo e chato, era distribuído a população na festa da Páscoa, como nos relata Moisés no Êxodo cap. 13: “Durante sete dias, comereis pães sem levedo, pois toda pessoa que dele comer desaparecerá de Israel”. Num paralelo impressionante percebemos que a Umbanda e o Candomblé, muito se utilizam de incensos com a finalidade de perfumar não só o ambiente, como também os participantes dos cultos. Desta forma, constatadamente as plantas e as ervas são largamente receitadas pelos seus guias espirituais que em dias festivos, ofertam bolinhos de arroz ou de feijão, frutas, objetivando a purificação do corpo e da alma, funcionando como uma espécie de hóstia entre os adeptos. A natureza atua nas religiões afro-brasileiras praticamente da  mesma maneira que atuava no judaísmo dos tempos dos grandes patriarcas bíblicos.
            As religiões afro-brasileiras estão repletas de rituais, holocaustos de animais, paramentos, altares, que foram agregados de diversos cultos e de diversas origens compreendendo a mais remota antigüidade e que por tradição ou mesmo ignorância perduram em algumas religiões e inúmeras seitas até os nosso dias. Estas concepções classificadas como sincretismo religioso afro-brasileiro, apresentam-nos resquícios que ainda podemos distinguir, através de comparações com outras práticas religiosas, certos procedimentos que hoje vigoram nas religiões afros, apresentam  aspectos bem marcantes do Catolicismo, do Islamismo, do Judaísmo, e até mesmo Indígenas e do passado ancestral como Animismo e Totenismo. Indagamos ao leitor, de onde vem o uso do turbante, a vestimenta branca com expressão sacerdotal, o hábito de tirar os sapatos, senão da recuada comunicação muçulmana nos cultos africanos. Existem “terreiros” aonde se mescla a “Estrela de David” com elementos do feiticismo remoto, onde ainda sobrevivem oferendas e símbolos que rememoram vestígios de elementos judaicos. A própria origem do costume de muitos centros de Umbanda, serem chamados de “Tendas espíritas”,  está em Êxodo cap. 40 v. 2, onde os hebreus comandados por Moisés entravam em contato com a divindade.O catolicismo na época da escravidão participou de uma forma bem marcante com altares, imagens, nomes de santos, peças em seu ritual, e sacerdotes, que de igual forma influenciaram os cultos africanos praticados no Brasil.
Apresentamos abaixo um quadro onde podemos observar as correspondências:

DIVINDADE
SINCRETISMO
EXÚ
SANTO ANTÔNIO
IANSÃ
SANTA BÁRBARA
IBEJI
COSME E DAMIÃO
IEMANJA
NOSSA SENHORA DA GLÓRIA
NANÃ
NOSSA SENHORA DE SANTANA
OBA
JOANA D’ARC/SANTA CATARINA
OBALUAYÊ
SÃO ROQUE
OGUM
SÃO JORGE
OMULU
SÃO LÁZARO
OXALÁ
JESUS CRISTO
OXOSSI
SÃO SEBASTIÃO
OXUM
NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO
OXUMARÉ
SÃO BARTOLOMEU
XANGÔ
SÃO GERÔNIMO


DIVINDADE
ATRIBUTO
EXU
DIVINDADE DA MORTE
OBALUAÉ
DIVINDADE DA TERRA
OGUM
DIVINDADE DA GUERRA
OXOSSI
DIVINDADE DA CAÇA
OXUMARÉ
DIVINDADE  DA CHUVA E DO  FOGO


O LADO ESPIRITUAL DOS EXUS


                        Para entendermos alguns aspectos da Umbanda e de algumas entidades que a ela se vinculam, transcrevemos algumas passagens recebidas mediunicamente por Divaldo Pereira Franco, através do Espírito Manoel Philomeno de Miranda, que quando esteve encarnado era médico e espírita. Segundo nos relata, o Espírito Manoel P. Miranda, tinha profunda curiosidade como espírita praticante, ou seja, seguidor do preceitos de Kardec, entender os aspectos espirituais e os mistérios, até então para ele, que envolviam as sessões nos centros de Umbanda, como também desejava ele a partir desse estudo, traçar-nos um perfil das entidades que por ela, também se pronunciavam. Desse manancial de informações surgiu o livro “Loucura e Obsessão”, do qual destacamos alguns trechos, que penso eu, certamente farão luz ao leitor sobre estas questões que muitas vezes causam diversas dúvidas e controvérsias, seja no meio espírita ou fora dele. Vejamos:

Pág. 103


“Não é de causar estranheza o fenômeno em tela, no sincretismo religioso do Brasil, quando nações supercivilizadas na Europa e na América do Norte, multiplicam igrejas e agremiações para cultuar os demônios, que não passam de Espíritos embrutecidos e vingadores que se auto-hipnotizaram, tomando ilusoriamente, nas mãos, a adaga do que chamam justiça, para intentar-lhe a aplicação arbitrária e apaixonada, esquecidos da Justiça que funciona com equidade e sabedoria reeducando e corrigindo, ao invés de punir, seviciar e desgraçar... Naqueles países, esses seres assumem personificações demoníacas e diabólicas, conforme se denominam, enquanto nos cultos afro-brasileiros  fazem-se conhecer por Exus e outras designações, que em nada alteram a sua louca realidade... A Mentora silenciou, circunvagou o olhar pelo recinto onde notávamos Entidades diversas, algumas de aparência grotesca e extravagante, e outras sofredoras de várias nuances morais, perturbadoras e ociosas, sob controle ignoravam, e adiu: “A hipnose, e a auto-hipnose por fixação degenerativa, funcionam em larga escala, em ambas as faixas vibratórias da vida; no corpo ou fora dele. Em nossa esfera de ação com muito mais intensidade, em razão dos processos mentais de sintonia e identificação moral entre os despojados do corpo somático. Aí estão, diante de nossos olhos, muitos infelizes irmãos assumindo personificações mitológicas ridículas, por auto-hipnose ; número largo, crendo-se seres de exceção na ordem universal, por efeito da auto sugestão demorada, desde a Terra, quando se permitiam construções mentais nesse campo; outros ainda, ainda vitimados por zoantropias de diferentes procedências e, por fim, aqueles se reconstruíram ideoplasticamente , incorporando os desvarios dos poderes mentirosos, que se atribuem possuir, seja como Orixás, na eterna ação protetora da Natureza e dos homens, seja na de Exus, supostamente criados para o mal, dotados de força para tal execução, afundando-se cada vez mais no desgoverno, até o momento que funcionem as Leis de correção e reequilíbrio que existem no Cosmo...A questão é muitíssimo mais complexa; no entanto, detenhamo-nos aqui, a esse respeito. O querido Valdemar , caindo sempre e intoxicando-se de vibrações deletérias, perdeu-se, por algum tempo, sendo recolhido pelos anteriores comparsas que o hipnotizaram e o adestraram em técnicas de obsessão, de vampirismo, de exploração de outros Espíritos, assim como, e principalmente, dos homens...Tomou, desse modo, a personificação parasitária de uma deidade maléfica, que se auto-intitulou Exu, com a especialidade de ação em determinado campo de sua preferência. Impôs-se a postura de dominador, conforme acontece com os outros, da mesma vibração, e submeteu mentes ignorantes e primitivas à sua governança espiritual recebendo homenagens e oferendas com que se comprazia e nutria...”

Págs. 138 e 139


“A Diretora Espiritual, que se encontrava no centro do círculo em movimento, chamou uma das médiuns e, segurando-lhe a cabeça, soprou-lhes aos ouvidos. Tratava-se de uma jovem de aparência pálida, porém dotada de grande sensibilidade. A o receber o jato de ar, aturdiu-se e teve ligeira convulsão, sendo atendida carinhosamente. Percebi então, que da rede saiu um espírito Exu, como se houvesse conseguido romper a defesa, e sem delonga, incorporou-a de forma brusca, contorcendo-se com o olhar esgazeado, como se caísse numa armadilha. A união fluídica era de tal forma que parecia ter havido uma quase fusão, ser-a-ser, que se harmonizavam. O rosto pálido da médium adquiriu um tom vermelho- escuro, conseqüência da aceleração sangüínea, e uma transfiguração modelou-lhe um quase símile do comunicante. Quando pôde, a voz rouquenha, semi-audível, passou para um vocabulário para mim incompreensível, na verbalização de que se utilizava, evocando a língua mãe e nela se expressando. Captávamos a idéia, a forma-pensamento, carregada de horror, na qual expelia ódio selvagem, em tal dose, que me surpreendi. A irmã Emerenciana, que prosseguia contendo a médium em transe, dialogou no mesmo dialeto, com inusitado vigor, e girando-se repentinamente, como se a desenovelasse de ataduras fortes que a cobriam, parou-a de chofre e aplicou-lhe movimentos longitudinais, impondo sua vontade firme. Os ritmos aumentaram, e com a cantoria fizeram-se ensurdecedores. Nesse clima, ordenou, no mesmo palavreado que nós compreendíamos em razão da forma mental plasmadora: “Volte ao normal! Você é Espírito criado por Deus. É vivente com um destino para o bem. Desnude-se e saia dessa situação. José Manuel foi o seu nome no eito do senhor branco. José Manuel é você. Ouça e acorde! Trouxeram um incensador que foi movimentado em torno do Espírito, que aspirava o fumo aromatizado e mais se agitava. Agora volte! __ ordenou-lhe com determinação. Acorde José Manuel! Vimos que a face espiritual passou a sofrer uma metamorfose, e qual se fora anteriormente plasmada em cera, ora aquecida, começou a desfazer-se, ao mesmo tempo em que a alegoria que o vestia, gerada pelas imposições ideoplásticas, passou a experimentar a mesma a mesma transformação, permitindo quem surgisse um homem de trinta anos, cansado prematuramente, com marcas de chicote no rosto e nas costas, recordando os suplícios a que fora submetido.

Pág 147

“Chegávamos a um dos momentos-climax, para nós, em relação ao tratamento de Carlos. Naquele instante, foram trazidos à roda, pela irmã Emerenciana, dois médiuns em estados de receptividade, enquanto, do recinto em que se encontravam retidas as Entidades, partiram com agressividade incomum jovem negra, que anatematizava o rapaz, e um ser Exu, de imediato incorporando-se nos sensitivos que os aguardavam já em meio transe. A Benfeitora segurava a cabeça da cada médium com uma da mãos, aguardando o que ia suceder. Ambos em verdadeiro paroxismo, dominaram as faculdades mediúnicas, num transe de alta agitação, e intentaram libertar a cabeça da mão que se lhes chumbava poderosamente. Com ímpar destreza, a Dirigente acompanhava-lhes  os movimentos, enquanto as feições dos médiuns se alteravam, completando a transfiguração horrenda. Em dialeto banto, gritou, estentórica e cruel, a mulher: “Eu sou Bombajira(Pombajira) que o desventurado infelicitou. Venho atrás dos seus passos há anos, e agora que o encontrei, não haverá misericórdia e compaixão para com ele. Estacionando no mal que me fez, sou a representação feminina do mesmo mal que cobra gota a gota o suor do sofrimento experimentado. Nenhum poder me deterá. Eu sou invencível e movimento as forças do ódio que me nutre... A face do médium refletia com perfeição o fenômeno transformador, com aspecto da tradição demoníaca, faltando-lhe alguns detalhes que a comunicante se permitia ao luxo de manter em Espírito. A cena, se não fosse pelo trágico de que se revestia, parecia, burlesca, repelente... Quando fez uma pausa, o outro exclamou, não com o menor estardalhaço, no mesmo dialeto: “Ele é meu, e ninguém o vai roubar de mim. Quem se atreve? Eu sou o diabo! Quando enunciou a última frase, carregada de força magnética, vimos que assumiu características pelas quais o diabo o fez conhecido pelos homens, em razão da mitologia religiosa ancestral.”

            A partir desses preciosos relatos, podemos ter uma compreensão maior, dos fenômenos existentes nesse campo desde a mais remota antigüidade, fazendo-nos perceber de uma maneira mais clara e racional, o que realmente acontece no plano espiritual, não só nos cultos afro-brasileiros mas nas manifestações dessa natureza de forma geral. 

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