terça-feira, 31 de janeiro de 2012

A Origem dos Essênios


A ORIGEM DOS ESSÊNIOS


                        A palavra grega essaioi ou essenoi, esseni em latim, está relacionada com a palavra hebraica Hazah, “ele teve visões”, e com “Asa”; “ele curou” ou “aqueles que curam”. Desta forma, a seita de Qumran, localizada no Mar Morto, a qual faziam parte os essênios, foi uma comunidade sólida estabelecida a 200 anos antes do Cristo. Esse grupo não se restringia somente a  região de Qumran,  espalhava-se em acampamentos e povoações por todas as aldeias da Judéia. Sua própria literatura era imensa, exercendo considerável influência sobre as literaturas e seitas posteriores, incluindo o cristianismo primitivo e o catolicismo. A comunidade  dos essênios, referia-se aos seus sacerdotes como “filhos de Zadoque”, que na realidade eram membros de uma antiga linhagem de sumos sacerdotes estabelecida nas Escrituras. Estes, condenavam diretamente os maus sacerdotes de Jerusalém, que alegam ser ilegítimos. Essa divergência existente entre os sacerdotes de Qumran e o poder religioso da Judéia, não existia somente por diferenças doutrinárias, havia uma disputa acirrada pelo poder, entre as castas de sumos sacerdotes em Israel. Os essênios, ao que tudo indica, em minoria, retiraram-se para o deserto, aonde fundaram no exílio, uma comunidade que se intitulava o verdadeiro Israel, dirigida por sacerdotes contestadores, que de maneira alguma concordavam que as práticas sacerdotais observadas pelos judeus de Jerusalém. Acreditavam que quem quisesse viver nessa comunidade deveria comportar-se sempre em perfeito estado de pureza, assim como prescreve  a lei do Levítico (cap. 19 v.2):Sede santos, porque eu, Javé vosso Deus, sou santo. Dessa maneira, o acampamento essênio no deserto, encontrou o seu protótipo no acampamento mosaico de Números(cap.2, vs.4 e 9; cap.15, vs. 10 e 28). Ao que tudo nos indica, os judeus descontentes com o procedimento dos sacerdotes,  partiram para o deserto,  inspirados em Isaías cap. (40 v. 3), com a finalidade de “preparar o Caminho do Senhor” , e lá formaram a comunidade dos essênios. Da mesma forma que as Escrituras Sagradas aludem para o famoso pacto no deserto,  os essênios  rescreviam a nova aliança mediante o seu retorno as terras áridas e de igual forma que as tribos de Judá, encontravam-se no deserto preparando-se para a chamada Guerra Santa, os essênios se preparariam para o Armagendon, a batalha final, que se daria pelo confronto entre as forças do bem e do mal. Distanciados do Templo de Jerusalém, lugar de culto do Judaísmo, reportaram-se a profecia de Ezequiel (cap. 44 v.15), considerando-se totalmente independente de Jerusalém. Nessas comunidades-templo, tornava-se necessário viver em estado constante de pureza, por isso, valorizavam os rituais purificatórios a base de água, a qual desempenhava um papel de importância vital, na vida dessa comunidade. As descobertas arqueológicas atestam a existência de cisternas e piscinas nas ruínas do templos essênios. Em síntese os essênios, eram celibatários e messiânicos condenavam a sociedade privada, eram vegetarianos e viviam no deserto a espera do Juízo Final.


            Os primórdios dessa seita podem ser rastreados  até a chamada  “Idade da Ira”, que ocorreu aproximadamente em 196 antes de Cristo e 390 anos, após a destruição do Templo de Jerusalém, pelos babilônios, em 586 antes de Cristo. Durante esta “Idade da Ira”, dizem os Manuscritos do Mar Morto, que as pessoas boas e piedosas buscavam em vão o caminho da justiça, então um “Mestre da Justiça”, apareceu, enviado por Deus para guiá-las. Mas em contrapartida, segundo os próprios manuscritos um poderoso inimigo surgiu também na pessoa do “Homem do Escárnio” para combater os essênios e eliminar o seu comandante o chamado “Mestre da Justiça”. Em um comentário fragmentário dos manuscritos, o profeta Oséias, refere-se ao "Leão da Cólera", que seria o perseguidor do Mestre da Justiça, ou seja o “ Homem do Escárnio”. O "Leão" e o "Sacerdote" estão evidentemente relacionados aqui por este jogo de palavras e, como o  último sacerdote (o Sacerdote do Fim) só poderia referir-se ao Messias. A conclusão é clara de que a vítima do Leão e o Sumo Sacerdote a vir, são uma e a mesma pessoa.  A seita se havia estabelecido em algum lugar próximo ao  vale de Achor ou, no mesmo vale, o atual Buqeia, situado entre o Mar Morto e Jerusalém. Este lugar é atualmente mencionado em um de seus  documentos e parece que a seita o considerava como de especial importância para a história de Israel. Também nas palavras de Oséias encontramos razões para a eleição de Qumran com sede: "Portanto, Eu a atrairei e a conduzirei ao deserto, e falarei suavemente. E darei então suas vinhas e o próprio vale de Achor como porta de esperança; e cantará ali como nos dias de sua juventude, com no dia que veio do Egito (Oséas cap.2; vs.14-15)." Em conseqüência dessa perseguição, os essênios fugiram para a Judéia, para a chamada terra de Damasco ou Babilônia, aonde encontraram refúgio e segurança, que os possibilitaram desenvolver sua doutrina. Esse povo foi descrito assim pelo judeu Flávio Josefo, naturalista, historiador e geógrafo romano, que viveu três anos entre os essênios, nos diz: “Existem, com efeito, entre os judeus. Três escolas filosóficas:”os adeptos da primeira são os fariseus; os da segunda; os sacudeus; os da terceira, apreciam justamente praticar uma vida venerável, são denominados essênios: são judeus pela raça, mas além disso, estão unidos entre si por uma afeição mútua maior que a dos outros.”Seu contemporâneo, o filósofo judeu Filón, e também pelo historiador romano do século I, Plínio. A identificação da comunidade dos Manuscritos do Mar Morto como essênia se baseou originariamente por duas espécies de dados: Relatos do historiador Plínio, o velho (23-79),  e o teor dos próprios Manuscritos. Em sua famosa obra “História Natural” o historiador  menciona o grupo que vivia em Qumran como os essênios. Vejamos:

“No lado ocidental do mar Morto, mas fora do alcance das exalações da costa, vive a tribo solitária dos essênios, marcadamente diferente de todas as outras tribos do mundo inteiro, pois, não tem mulheres e renunciou a todo desejo sexual, não usa dinheiro, e tem apenas tamareiras por companhia. Dias após dia, o agrupamento de refugiados tem o número de seus membros reposto por muitas pessoas que chegam, cansadas da vida e que para lá foram atiradas pelas vagas da sorte, para adotar seus costumes. Assim, durante tempos milenares uma raça onde não há nascimentos vive para sempre, tão grande é, para sorte sua, o número de homens cansados da vida! “

            Na realidade existem duas versões para o surgimento desta seita, a primeira teoria diz respeito a origem Palestina, quando o movimento essênio teria se formado a partir de uma reação de um determinado grupo que era radicalmente contra o processo de helenização do judaísmo palestino, que começou no ano de 332 a .C. , quando Alexandre o Grande conquistou a Judéia. Os sacerdotes revoltados com esse processo fundaram a seita dos essênios, por que absolutamente não concordavam, com a influencia grega. A segunda teoria, localiza o principio dessa seita na própria Babilônia ou terra de Damasco, quando o judeus foram deportados a partir da destruição do primeiro templo de Jerusalém em 586 antes de Cristo. As duas teorias sobre as origens do povo essênio, apresentam um ponto em comum que era a perpetuação do judaísmo, sem as influências de outros povos, que eles achavam um sacrilégio.

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