terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Mistérios na Bíblia


OS MISTÉRIOS NA BÍBLIA

                        Em todas as tradições espirituais é sabido que práticas e rituais , foram concebidas para facilitar, ou mesmo induzir, expansões da consciência e no seu devido tempo, conferem poder psíquico aos seus praticantes. A partir de um certo período na antigüidade cada religião continha em sua formação e estrutura, rituais de iniciação conhecidos por mistérios. Muitos desses “mistérios”, eram na realidade, em parte um aprendizado sistematizado do conhecimento metafísico, que se efetuava  por meios de provas que o iniciante ao conhecimento espiritual mais profundo, deveria submeter-se  para atingir um determinado nível de evolução e assim conseguir o título de sacerdote.



 Filón, o judeu filósofo do século I, da era Cristã, afirmava que os mistérios desvelavam as operações secretas da natureza. Acreditava-se, portanto, que a iniciação era essencial para a continuidade da evolução alma humana, mas também para o desenvolvimento dos seus instrumentos intelectual e emocional, e que pelo menos uma vez na vida , a pessoa pudesse, por meio dela, ter a oportunidade de voltar ao seu lugar de nascimento espiritual. Assim o iniciado poderia perfeitamente encontrar com seu mestre espiritual, como Hermes, Mithras, Anúbis ou Orfeu, que atuaria como seu guia e guardião. Lá, na companhia dos perfeitos ele seria ainda mais purificado e preparado para iniciações ainda mais elevadas.


As iniciações nos Templos de Karnak e Denderah entre outros, no Egito, continham em seu arcabouço experiências projetivas da consciência, apresentação aos cinco elementos; Ether, Fogo, Terra, Ar e Água, e identificação e atuação sobre os espectros e outras formas do Astral. Ao cumprir  as exaustivas provas os poucos vitoriosos ouviam a voz do Harmarkis (Esfinge), e tinham a  permissão para passar pelo 3º portal de Amentis(Plano Astral), no qual alcançavam a iluminação, prestando dessa forma reverencias a Cruz Ansata sob os atentos olhares da trindade egípcia, Horus, Isis e Osíris. Em contrapartida, aqueles que não alcançavam o grau a que se propuseram, na maioria das vezes perdia a própria vida entre as paredes, tanques com água ou fogo, perdido nos corredores e câmaras subterrâneas e labirintos dos Templos e das Pirâmides, nas quais eram realizados os eventos. No romance Semíramis, Ed. Lake, Pág. 25, Camilo Chaves, expõe parte desses rituais que ocorriam no Templo de Amón em Tebas:

“Os sacerdote ciosos das faculdades psíquicas, mantinham-se nas secretas. Arrogavam-se o direito de requisitar pessoas predispostas aos fenômenos, Clausuradas, desenvolviam as aptidões e iniciados nos mistérios tomavam destino, sob juramento, com terríveis imprecações, de manter secreto seus dons. Para os homens, terrificante era o processo da iniciação pela severidade das provas; para as mulheres menor rigor, por exercerem ação mais restrita. Na pata da Esfinge por uma pequena porta, penetrava-se em longo corredor, que ia dar na porta lateral de grande sala subterrânea em forma de T, ...mediante corredores, chegava-se as salas menores, de finalidade especial, nas cerimônias de iniciação. Estas reservavam-se, apenas aos iniciados nos mistérios. O processo de iniciação, um tanto complicado, se revestia de grandes precauções. Trinta e três mestres do esoterismo, escolhidos e convidados, executavam os trabalhos...”




                        De uma certa forma, Antônio Freire em Ciência e Espiritismo nas páginas 52, 53 e 54, complementa essas informações:

“Todas as vezes que o postulante era excluído do acesso a um novo grau iniciático, esta exclusão era formal e categórica, estendendo-se por toda a sua vida, sendo defeso ao recipiendário ultrapassar, em provas, o nível iniciático atingido anteriormente. As repetições das provas, desde os graus inferiores aos superiores, não tinham cabimento e razão de ser dentro do quadro docente dos antigos centros iniciáticos. Compreende-se, pois, a rigorosa exigência de provas necessárias para que fosse ministrada a técnica delicada, complexa e não isenta de graves perigos, inerente à exteriorização e projeção do duplo humano, saída em astral ou bilocação, só acessível na parte final do segundo grau iniciático.” .... ”Com todas as probabilidades, os antigos iniciados sabiam triunfar das dificuldades e perigos ligados a esta delicadíssima e complexa dissociação da personalidade, devido a uma série de circunstâncias que se encontravam reunidas sinergicamente nesses antiquíssimos centros esotéricos das Fraternidades iniciáticas: disciplina rigorosa, cuidada e meticulosa, na higiene do corpo e da alma; regime vegetariano, de preferência frugívoro; exercícios respiratórios, tão complicados quanto proveitosos, para a eclosão e desenvolvimento de determinadas faculdades supranormais; fortalecimento da vontade e do poder mental por exercícios apropriados de introspeção, preces, recolhimento reflexivo, concentração mental; estudo interpretativo dos livros sagrados, não no seu sentido literal, mas no sentido superlativo; o ritmo verbal dos mantras; a pureza moral obtida por continência, castidade, sinceridade, renúncia, altruísmo, domínio dos sentidos físicos e, por vezes, jejuns e mortificações. A meditação e os êxtases eram os complementos desta longa e disciplinada aprendizagem incompatível com a tumultuária e efervescente vida mundana.”


                       
Essas escolas tornaram-se famosas principalmente na Grécia, na Índia e no Egito, mas tem-se notícia que elas também se desenvolveram na Babilônia, na China e até mesmo em Israel. 





No livro dos  Números cap. 6 v 2,  fala-se da seita dos narizeus, em I Samuel cap.19, v. 20, fala sobre uma comunidade na qual viviam os profetas. O  livro dos I Reis cap. 22, vs. 6 e 7, é mais específico chegando mesmo a quantificar o número de quatrocentos profetas. Ainda o livro II Reis cap. 4 v.38, revela-nos que uma dessas comunidades da judéia localizava-se em Galgala. Essas escolas eram direcionadas principalmente ao aprendizado das verdades espirituais, as quais incluíam entre os temas a reencarnação, comunicação com os mortos através dos oráculos, projeção astral, aparições de Espíritos, profecias, conhecimento de todas as religiões existentes e devidos pontos de contato entre as mesmas. Os grandes iniciados na sua maioria eram homens, mas haviam mulheres, mas todos que possuíam esse título, albergavam em seus espíritos, grandes conhecimentos tanto cultural, filosófico como religioso. Estavam comprometidos a transmitir seus ensinamentos para aqueles que quisessem absorve-lo, encontrando-se sempre na vanguarda dos acontecimentos. Muitos desses  iniciados israelitas, deixaram  parte desse conhecimento em forma de enigmas nas Escrituras, daí percebemos a ambigüidade dos textos bíblicos. Eclesiástico no cap. 39 vs.1 a 3 , aborda o  assunto dessa maneira: ”O sábio procura cuidadosamente a sabedoria de todos os antigos, e apoia-se ao estudo dos profetas. Guarda no coração as narrativas dos homens célebres e penetra ao mesmo tempo nos mistérios das máximas. Penetra nos segredos dos provérbios, e vive com o sentido oculto das parábolas”. Segundo o Antigo Testamento, Sansão, era um “nazir”, e teria perdido temporariamente os seus poderes sobrenaturais quando os seus cabelos foram cortados. Coincidentemente na Índia, muitos iogues, devotos de Shiva, não cortam os cabelos e a barba, porque acreditam que os pelos funcionam como antenas, conectando o corpo físico do homem ao seus corpos sutis. Haveria uma ligação mística judaica e o shivaísmo indiano? Desta forma, percebe-se uma grande influência cabalística hindu sobre o livro de Ezequiel e sobre o livro das Revelações, o Apocalipse. Um exemplo disso é  na suposta descrição das quatro bestas, que dentro de uma visão esotérica, simbolizam simplesmente os quatro reinos elementares: terra, ar, fogo e água. Algumas passagens do livro de Jó cap.38, v.17, são extremamente semelhantes aos chamados portões da morte dos egípcios, mas somente percebida por aqueles que conhecem o “Livro dos Mortos”.




 Verificamos a analogia existente entre as festividades ao Senhor PTAH, Senhor do Mundo, no Egito e as comemorações de 23 de abril (São Jorge, Akdorge -teosofia) , festividades que tinham o seu ponto alto no Wesak ( lua cheia de maio). Em Números cap.10 v.10, verificamos certas festividades  e rituais realizados pelos hebreus, estava diretamente  associada ao culto das fases da lua, a qual funcionava como forte elemento de ligação com a divindade: “Nos nossos dias de alegria, vossas festas  e vossas luas-novas, tocaremos as trombetas, oferecendo holocaustos e os sacrifícios pacíficos, e elas lembrarão à memória do vosso Deus.” O salmista no Salmo cap. 80 v.4, ressalta: “Ressoai a trombeta na lua nova, na lua cheia, dia da grande festa.Em II Crônicas cap. 8 v.3 , observamos que esse culto foi introduzido por Moisés: “E isto segundo a ordem de cada dia, fazendo ofertas conforme o mandamento de Moisés, nos sábados e nas luas novas, e na festa dos pães ázimos, na festa das semanas, e na festa das tendas..”
 Os livros dos profetas estão saturados de palavras enigmáticas e simbólicas, constituindo um número parcialmente decifrado da ciência secreta dos hebreus. Esses escritos denotam se não total, um conhecimento e um intercâmbio muito estreito com esse tipo de filosofia iniciática nos tempos antigos. O véu da simbologia e os aparentes absurdos de certas passagens dos textos bíblicos, fazem com que milhões de pessoas desistam de tentar entender a verdadeira natureza e a real profundidade dos ensinamentos sagrados que ali se encontram, preferindo se ater a superficialidade das letras.
      Identificamos através do conhecimento iniciático mais profundo, que a dança que o rei Davi efetuava ao redor da Arca da Aliança, era na realidade uma cópia da dança circular que teria sido prescrita pelas amazonas para os  mistérios, tendo os seus resquícios entre os índios curandeiros norte-americanos, e pela tribo dos Sioux a qual a batizaram  de  “dança do urso”.  Como vemos em II Samuel cap. 6 v.5 e 16: “Davi e toda a casa de Israel dançavam com todo o entusiasmo diante do Senhor, e cantavam acompanhados de harpas, cítaras, de trombetas, de sistros e de címbalos.” Tal dança era conhecida como a dança das filhas de Shiloh, como vemos em Juizes, cap.21, vs. 21:  “Quando virdes as filhas de Siló saírem para dançar em coro, sai de repente das vinhas e cada um tome uma para mulher entre as filhas de Siló”, e também dos profetas de Baal em I Reis cap.18, v.26, decapitados erroneamente por ordem do profeta Elias.





 Tratava-se simplesmente de uma característica do culto sabeu, pois denotava o movimento dos planetas em torno do Sol, essa dança foi também incorporada aos mistérios de Baco, onde seus adeptos entravam em transe mediúnico denominado “frenesi báquico” tão comum nos rituais de mistérios.





 Os pentagramas tão utilizados desde os tempos de Ur na Caldeia, Grécia, Índia, China e Egito, como símbolo do bem. Foi associado pelos hebreus através do pentateuco(os cinco primeiros livros da Bíblia), representando a palavra de Deus aos homens. Somente no século XIV transformou-se em um símbolo maligno em virtude da perseguição de Felipe o Belo aos templários, os quais comumente utilizavam os pentagramas. A Bíblia é pródiga em relatos que caracterizam elementos ocultos só conhecidos por iniciados dos grandes mistérios da antigüidade, apresentando-se como um mosaico de passagens desconcertantes e contraditórias, a quais, sem ser devidamente decifradas, deturpam e confundem o sentido textual e geral. Na realidade ela é um manancial de sabedoria cosmológica secreta, além de incluir um registro da história religiosa primitiva dos hebreus que nunca é exposta ao público e cuja a existência as pessoas nem se quer imaginam. Segundo Edouard Schuré, Filho do Sol e seu equivalente Filho de Deus, eram títulos conferidos ao nível iniciático mais elevados nos templos da antigüidade. Filho de mulher designava estágio inferior da iniciação, mulher significando aqui,  natureza. Acima desse nível estavam os filhos dos homens, ou iniciados de espírito e da alma, os filhos dos deuses, ou iniciados da ciência cosmogônica e os Filhos de Deus, ou iniciados da ciência suprema. Jesus como o maior dos iniciados, ou seja detentor do conhecimento, não poderia fugir a essa regra. Ao  observarmos a frase atribuída a ele: “Tus es Pedro e sobre esta pedra edificarei minha igreja; e as portas do inferno não prevalecerão contra ela”, contém um significado bem abrangente,  para os hierofantes ou sacerdotes. Esse dizer, era nada mais nada menos, do que a interpretação transmitida pelo iniciador ao futuro intérprete escolhido. 




A partir desse momento, ele podia como mestre condutor como vemos em I Coríntios cap.3, v.10, e erigir um templo de sabedoria, naquela pedra para si mesmo, e tendo-o construído, permitir que “outros ali construíssem”já quem o próprio Jesus segundo Lucas cap. 17, v.21 assevera: “O reino de Deus está dentro de vós”. Em Atos dos Apóstolos cap. 17, v.24,  Lucas encerra esse pensamento de forma brilhante: ”O Senhor do Céu e da Terra, não habita templos feitos por mãos humanas”. A resposta de Jesus, quando os seus discípulos o interrogaram em virtude de ele ter falado a multidão por meio de parábolas é inequívoca: “A vós outros, disse ele, “vos é dado saber os mistérios do Reino dos Céu, mas a eles não lhes é concedido”, denota perfeitamente que aos Apóstolos, era reservado um conhecimento incomum, esotérico, somente transmitido aos “escolhidos”. Jesus, o grande pedagogo espiritual da Terra, conduziu seu ministério em dois níveis. Um para o grande público em linguagem simbólica para a grande massa, e os de caráter iniciatório, que eram conferidos individualmente à medida em que o discípulo tornava-se capacitado para aquela expansão da consciência transformadora. Jesus ensinou secretamente os mistérios aos discípulos, mas alertou-os severamente sobre os perigos decorrentes da revelação desses segredos. O aviso foi registrado numa passagem de Mateus cap. 7, v. 6, cuja linguagem é especialmente contundente: “Não deis aos cães o que é santo, nem atireis as vossas pérolas aos porcos, para que não pisem e, voltando-se contra vós, vos estraçalhem”.





 Na realidade o próprio Jesus como Moisés, teria se submetido a uma experiência iniciática, quando logo após ao o batismo, permaneceu no deserto da Judéia, jejuando durante 40 dias. A função das provas de uma forma geral, era a de submeter ao aspirante a uma condição de reclusão total, obrigando o indivíduo a se confrontar com lado sombrio de sua mente. Nos Evangelhos especialmente em Mateus, essa face obscura da psique humana foi simbolizada pelo Diabo, que assedia Jesus com três grandes tentações. No Evangelho Apócrifo de Felipe, existem várias passagens relacionadas com os sacramentos ou mistérios de Jesus. É interessante notar que Jesus teria instituído cinco e não sete sacramentos usados pela Igreja: “O senhor fez tudo num ministério, um batismo, uma crisma, uma eucaristia, uma redenção e uma câmara nupcial”. Esses sacramentos pareciam ter um caráter iniciático, e cada um era ministrado somente uma vez na vida do indivíduo.O profeta Joel, também faz menção a uma câmara nupcial, no cap. 2.v 16, de seu livro no Velho Testamento.
            Outro elemento de ligação de Jesus com as filosofias iniciáticas é a utilização do pão e o vinho em seu rituais espirituais. Sabe-se portanto, que durante os mistérios na Grécia, que o vinho representava o deus Baco, e o pão a deusa Ceres, os quais o  iniciador apresentava simbolicamente, antes da revelação final, o vinho e o pão ao candidato que tinha de comer e beber de ambos, em sinal de que o espírito viria a vivificar a matéria e a sabedoria divina iria entrar em seu corpo através do que lhe seria revelado.


 Jesus em sua fraseologia oriental, assimilava-se constantemente ao verdadeiro vinho(João cap.15, v. 1), além disso, na linguagem dos “mistérios”, o sacerdote era chamado de “Pai”. Em razão disso, deduzimos então, que quando Jesus disse: “Bebei... este é o meu sangue”, ele tinha em mente apenas uma comparação metafórica de si mesmo com  a  vinha, que produz, a uva, cujo suco é figurado como sendo seu sangue ingerido através do vinho. Seu  “Pai” (Deus) é o agricultor, ele (Jesus) a vinha, seus discípulos os ramos. Seus seguidores, por ignorarem esta terminologia dos mistérios, ficaram surpresos, tomando suas palavras como ofensa, o que não é de surpreender, considerando a proibição mosaica do sangue, já que a maioria dos seguidores de Jesus era composta por judeus que praticavam o judaísmo. O francês Leon Hipollite Denizard Rivail, grande iniciado nas verdades espirituais, popularmente conhecido por seu nome druida; Allan Kardec, codificador da Doutrina dos Espíritos, no século XIX,  usou como símbolo de Jesus, a vinicultura e a utilizou como elemento de decoração no prefácio de o “Livro dos Espíritos”.




            Jesus, na realidade se comporta todo o tempo como um grande iniciador, eis por que exclama em Lucas cap.11, v.52: “Ai de vós legisladores, pois tomaste as chaves do conhecimento. Vós mesmos não entrastes, e impedistes os que queiram entrar.” O conhecimento descrito por Jesus, é o conhecimento das verdades espirituais, o qual o iniciado só poderá alcançar adentrando a “porta estreita”, dessa maneira obterá o pleno conhecimento das “coisas do céu”, referência utilizada pelo Mestre Jesus, quando em seu colóquio com o rabino de Israel  Nicodemos, quando em passagem bíblica célebre falavam a respeito da reencarnação.



 A prática da meditação, hindu, largamente praticada pelos yoguis  também nos foi apresentada na Bíblia de forma velada através da oração, a qual Jesus prescrevia total recolhimento em Mateus cap. 6 v.6: “Tu porém, quando orares, entra no teu quarto e, fechando a porta, ora ao teu Pai, que está lá, no segredo; e o teu Pai, que vê no segredo, te recompensará”ou mesmo mais diretamente por Eclesiástico (cap. 30 v10), recorrendo a ela para a solução dos mistérios mais profundos: O Senhor orientará seus conselhos e seus ensinamentos. E ele meditará nos mistérios divinos. Orar em segredo portanto significa permanecer em absoluto silêncio, sem palavras e sem pensamentos, no que é conhecido na tradição monástica como sendo estado de contemplação. Além das práticas da oração, meditação encontramos nos evangelhos referências a outros rituais bem mais velados, como o que precedia a Santa Ceia,  referido como Hino de Jesus, citado na aparentemente enigmática menção do hino cantado por Jesus e seus discípulos em Mateus cap. 26, v. 30 e Marcos cap. 14, v. 26: ”Depois de terem cantado o hino, saíram para o monte das Oliveiras”. No documento apócrifo conhecido como Atos de São João ou Hino de Jesus, encontramos algumas referências sobre esse assunto. Nesse ritual/oração, os discípulos giravam ao redor de Jesus, que entoava invocações ao centro da roda, enquanto os discípulos respondiam “Amém”. Outro suposto rito atribuído a  Jesus, era ainda mais poderoso, está descrito de forma tão velada na Bíblia, que é geralmente referido e confundido como o milagre da ressurreição de Lázaro. Se examinarmos atentamente a longa passagem em João cap. 11, vs. 1 a 43, veremos que o relato é aparentemente incompatível com o comportamento de Jesus, segundo os próprios evangelhos. Consta que Jesus ao ser notificado pelas irmãs de Lázaro, Maria de Madalena e Marta, que Lázaro estava doente, Jesus a princípio não demonstra grandes preocupações pelo estado de saúde do amigo. Seu comentário ao receber o pedido de ajuda das irmãs, é que essa doença não é mortal, mas para a glória de Deus. Ainda assim, despreocupadamente,  Jesus permanece mais dois dias onde estava pregando e só então decide ir ao povoado de Betânia, onde ficava a residência de Lázaro. Ao dizer aos discípulos “Lázaro não morreu,Vamos para junto dele.” Tomé um dos  apóstolos mais cépticos surpreendentemente afirma: ”Vamos também nós, para morremos com ele!”. Indagamos ao leitor, como e de que maneira explicar esse desejo de Tomé de morrer com Lázaro, se nem mesmo com o Mestre eles quiseram fazer isso. Para muitos esotéricos e ocultistas essa passagem é meramente uma linguagem cifrada de um elevado ritual de mistério, no qual o iniciado entrava em transe por três dias, aparentando estar morto, afim de no terceiro dia, o hierofonte, no caso Jesus, usando as palavras de poder, desperta-lo do transe material. Tais iniciações eram comuns na Palestina e envolviam morte e renascimento simbólico. O indivíduo era colocado em uma tumba, que se transforma simbolicamente em útero para o renascimento do aspirante; um ritual, agora popularmente chamado batismo, com uma imersão simbólica em água; e um copo de vinho, identificado com o sangue do profeta ou mago que presidia a cerimônia.


 Elementos que o próprio Jesus utilizou na chamada última ceia, e que era uma prática comum entre os essênios gregos e egípcios. Um outro escrito considerado apócrifo interessante é o Evangelho sobre a Infância de Jesus, que data do século II ou anterior. Nele Jesus é retratado como uma criança brilhante e eminentemente humana e temperamental. Um fragmento curioso e importante sobre sua infância, refere-se a circuncisão de Jesus, onde seu prepúcio foi dado a uma velha mulher não identificada, que o preservou em uma "caixa  de alabastro que Maria, a pecadora buscou e despejou o óleo sobre a cabeça e os pés de Nosso Senhor Jesus Cristo".




 Esta unção, para muitos representa um importante ritual de iniciação, ressaltando que nesse caso é evidente que a unção havia sido prevista e preparada com muita antecedência. Sabe-se que a palavra Messias quer dizer “O Ungido”, e todos os reis untados na antiguidade eram Messias. O costume conhecido na Mesopotâmia, consistia numa prática de untar reis com gordura de um lagarto grande chamado Mus-hus, enquanto que no Egito este lagarto era chamado Messeh. O verbo hebreu para untar originou-se desse processo, o qual resultava no título de Messias para reis e faraós. O fato interessante sobre essa unção real é que eles só poderiam ser executados pela noiva Messiânica e assim nenhum homem  poderia se tornar um Messias até o dia de seu matrimônio. Na Judéia, como descrito nos Cânticos dos Cânticos do rei Salomão do Antigo Testamento, o óleo utilizado para esse ato de untar era um extrato de raiz do Himalaia chamado spikenard. A noiva real sempre untou a cabeça e os pés do seu marido com ungüento, enquanto ele estava sentado à mesa de seu banquete cerimonial. Este é precisamente o ritual descrito nos Evangelhos do Novo Testamento na ocasião em que Maria de Madalena untou a cabeça e os pés de Jesus com spikenard sentado à mesa de Simão, na vila Betânia. Esse incidente, como um todo implica uma conexão misteriosa e iniciática de Jesus, muito antes de embarcar em sua missão aos 30 anos de idade. Desta forma, a  família de Jesus não daria seu prepúcio preservado ao longo dos anos para Maria de Betânia (João cap.2 v.3), conhecida também por  Maria de Madalena, exceto, se ela fosse alguém não muito menos importante e apta a uma iniciação. Ela foi nomeada “Magdal-eder”, a “Vigia do Rebanho” e descendia dos sacerdotes hasmoneanos de Jerusalém, sendo filha do influente sacerdote Jairo, de Syro: Madalena era filha de Jairo da Parábola.



Esses princípios iniciáticos estão também disseminados nas Epístolas de Paulo de Tarso, através da linguagem técnica dos mistérios, principalmente quando dirige-se aos Coríntios, observamos diversas expressões sugeridas pelas iniciações de Sabazius e Eleusis e pelas leituras dos grandes filósofos gregos. Isso não é de se estranhar, pois que, Paulo possuía um grande cabedal de conhecimentos, dada a sua ampla cultura em razão de sua vivência na cidade cosmopolita de Tarso, na Cecília, a qual lhe deu o sobrenome. Em I Coríntios cap. 4 v.1, ele chega a considerar-se um dos conhecedores dos mais profundos mistérios da divindade. Escreve: “Que os homens nos considerem como ministros de Cristo e despenseiros dos mistérios de Deus.”



Rito  Eleusis

Paulo se considera uma pessoa ignorante no que concerne a palavra, mas não a gnoses ou conhecimento filosófico. Em I Coríntios cap.2 vs. 6 a 8 , após condenar os “sábios”, Paulo explica que ele ensina a sabedoria. “não a sabedoria deste mundo”, mas sim “a sabedoria de Deus oculta em mistério” , “ que nenhum dos arcontes deste mundo conheceu”. Portanto pregava os seus ensinamentos somente para os  perfeitos(I Coríntios cap.2 v.6), ou Iluminados(Hebreus cap.6 v.4) espécie de títulos concedido somente para aqueles que tinham conseguido alcançar um determinado grau compreensão das verdades espirituais. Refere-se o Apóstolo dos Gentios, mais claramente a isso numa comparação metafórica entre o leite e a comida sólida em Hebreus cap.12, vs. 22 e 23: “Teríamos muita  coisa a dizer sobre isso, e coisas bem difíceis de explicar, dada a vossa lentidão em compreender... A Julgar pelo tempo , já devíeis ser mestres... Ora quem se alimenta de leite não é capaz de entender doutrina profunda, porque é ainda criança. Mas, o alimento sólido é para os adultos, para aqueles que a experiência já exercitou na distinção do bem e do mal Para Paulo, o estágio mais elevado da evolução humana ocorre quando nasce o Cristo interior, ou seja, quando o homem começa a perceber a verdade de forma intuitiva, diretamente, e não através da mente lógica. Paulo refere-se a esse nascimento em linguagem hermética em Gálatas cap. 4, v.19:”Meus filhos, por quem eu sofro de novo as dores do parto, até que o Cristo seja formado em nós”. Em II Coríntios cap.12 , vs 2 a 4, impressionou a vários estudiosos, das questões espirituais quando escreveu:  ”conheci um certo homem que foi arrebatado ao paraíso- se em seu corpo, se fora do corpo, não sei. Deus o sabe – e que ouviu palavras inefáveis, que não é lícito a nenhuma homem repetir”. Essa expressão é bem comum entre os escritos de Proclo(412-485), Platão (428-347 a. C.), Jâmbico( séc. II), Herótodo (480-425 a. C.), todos conhecedores e praticantes dos mistérios antigos. O Apóstolo dos Gentios, era chamado de  “vaso de eleição”, interessante que esse título foi concedido a  Manés o maior herético de sua época aos olhos da Igreja, tendo o nome “Manes” o significado, na língua babilônica, de vaso ou receptáculo. Em função da dificuldade da compreensão de alguns pontos da doutrina superior velada existente nas cartas de Paulo de Tarso, o Apóstolo Pedro, em sua segunda carta,( cap. 3 v.16), advertia os mais incautos a esse respeito: “...Nelas há algumas passagens difíceis de entender, cujo sentido espíritos ignorantes ou pouco fortalecidos deturpam, para a sua própria ruína, como fazem também com as demais escrituras.
 As correlações com os mistérios encontram-se ramificadas por toda a Bíblia, assim como em todo o mundo antigo. A esse propósito, Maria de Madalena, em Lucas é descrita como a mulher "da qual vieram sete véus". Assume-se geralmente que esta frase se refere a uma espécie de exorcismo por parte de Jesus, significando que Madalena era "possuída", mas a frase pode igualmente se referir a algum tipo de conversão e/ou ritual de iniciação. O culto a Ishtar ou Astarte - deusa mãe e rainha do céu babilônica, envolvia, por  exemplo, uma iniciação de sete estágios, e poderiam estar representados pelos sete véus de Madalena. Antes de sua filiação a Jesus, Madalena pode ter associado a tal culto, em razão disso, Migdal ou Magdala era conhecido ao tempo de Jesus como "vilarejo das pombas", e existem evidências de que lá eram criadas pombas destinadas à sacrifícios, daí o sobrenome de Maria. A pomba, coincidência ou não, era o símbolo sagrado de Astarte e mais tarde tornou-se um dos símbolos do próprio cristianismo.




            Os escritos de João (Evangelho e Apocalipse), são os mais orientais, esotéricos e enigmáticos de todos os outros escritos bíblicos referentes ao Novo Testamento. Em razão disso, infere-se que essa característica foi absorvida em uma viagem ao continente asiático, realizada pelo apóstolo amado de Jesus,  alguns anos após a morte de Maria. Já que Jesus, na cruz  nos momentos derradeiros (João cap.19, vs. 26 e 27), o incumbiu da nobre missão de cuidar de sua mãe em sua ausência material. Esse fato narrados no evangelho, é ratificado por pelo Espírito Humberto de Campos em “Boa Nova”, onde declara que João instalou-se definitivamente em Éfeso, para cuidar de Maria. Desta forma, sua grande peregrinação afim de pregar a palavra de Cristo, deparou-se com uma região inóspita  governada por magos e imbuída de idéias indianas e zoroastrinas, repleta de missionários budistas, taoístas e confucionistas. Essa diversidade de religiões,  teria fornecido a inspiração e o entendimento teológico a João para escrever passagens da vida de Jesus sob uma ótica totalmente oriental, culminando com o livro das Revelações ou Apocalipse. Suas idéias do dragão, dá as narrativas proféticas um tom indiano, inteiramente desconhecido pela maioria dos apóstolos e que, relativas ao segundo advento, fazem de Cristo uma cópia fiel de Vishnu. As correspondências não param por aí, no  Zend Avesta, livro escrito por Zoroastro, o qual  representa a luta de Ahriman: as trevas e Ormasde: a luz, onde lê-se:  “Ele virá montado num cavalo branco e seguido por gênios bons, igualmente cavalgando corcéis brancos como o leite”. No Apocalipse cap.19, vs. 11 e 14, de João lê-se: “Eu vi o céu aberto, e eis que apareceu um cavalo branco, e o que estava montado em cima dele se chamava  o fiel e o verdadeiro...E seguiam-no os exércitos que estão nos céus em cavalos brancos.”




            Mais adiante no cap. 19, vs. 12 e 15, vemos: “E de sua boca saía uma espada com dois gumes...e na sua cabeça estavam postos muitos diademas”. Em virtude disso, freqüentemente Vishnu é representado com algumas coroas superpostas na cabeça, uma espécie de diadema. Além dessa enorme coincidência, é sempre representado como um peixe, símbolo adotado pelos cristãos ao tempo de Jesus. No Apocalipse cap.16, vs. 8 e 9, diz o   seguinte: “E o quarto anjo derramou sua taça sobre o Sol, e concedeu-lhe o poder de abrasar o homens pelo fogo. E os homens então abrasados por um calor intenso puseram-se a blasfemar contra o nome de Deus.”  Este escrito é verdadeiramente uma alegoria Pitagórica, na qual o grande matemático e filósofo grego colocava a esfera do fogo visível  no centro do universo, resultado de suas convicções, em uma alusão direta ao sistema heliocêntrico, onde o Sol, sempre  foi parte integrante dos mistérios. Ainda no Apocalipse cap.1, vs. 13 e 14, vemos: “Eu voltei-me e vi... no meio dos sete candeeiros alguém semelhante ao filho do homem... sua cabeça e seu cabelo pareciam brancos como neve; e seus olhos pareciam uma como chama de fogo...e seus pés eram semelhantes ao latão fino quando está numa fornalha ardente’. João repete nessa passagem, como bem se sabe ,as palavras de Daniel e de Ezequiel, as quais nitidamente apresentam fortes ingredientes da Cabala  Hebraica e do Hinduísmo. Muitas das visões apocalípticas reveladas a João pelo anjo enviado por Jesus, baseiam-se na descrição da cabeça branca de “Zohar”, obra principal da Cabala , o livro Zohar ou Livro do Esplendor,  também conhecido como “Livro das Reencarnações”, foi escrito inicialmente em língua armênia e explica os cinco livros do Pentateuco no sentido cabalístico do conceito de Deus. Sua autoria é atribuída ao rabino Simon Jochaai (130-170) d. C. A simbólica “cabeça branca”, oculta em seu crânio o espírito, sendo rodeada pelo fogo sutil, representando a imortalidade da alma. Desta forma, prossegue João no Apocalipse cap. 2, v. 17:  “ao vencedor darei de comer o maná oculto e uma pedra branca com um novo nome escrito”, a palavra que não conhece senão o que recebe”, qualquer conhecedor dos atuais processos iniciáticos maçons poderá identificar e reconhecer perfeitamente esse enigma, que na realidade se traduz pelo absorção do conhecimento através do auto-conhecimento. Esse ensinamento lapidado no Templo de Delfos e incorporado por Sócrates representa uma verdade cósmica e dessa maneira foi disseminado e perfeitamente entendido por todos os grande iniciados, inclusive por Paulo em I Coríntios, cap.11, v.28, ”Que cada um se examine a si mesmo...”
              Penso que já temos informações suficientes para admitir que o conhecimento oculto, existia de maneira velada na Bíblia, e fazia parte integrante do cabedal de conhecimentos daqueles que a escreveram, os quais buscaram em outras doutrinas o entendimento profundo sobre as aparentes  verdades espirituais até então conhecidas.

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