terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Formação do Cânon Bíblico


A HISTÓRIA DA FORMAÇÃO DO CÂNON BÍBLICO


            O cânon farisaico, confere a uma lista de livros das escrituras, que foi considerada inalterável, não passível de qualquer acréscimo ou subtração. Em sua origem o termo cânon significa uma regra e, concretamente, no uso dos Padres da Igreja, compreende a uma lista fechada de livros definida como oficial para fé e práticas religiosas. A mais antiga definição clara de cânon fechado hebraica é encontrada em considerações expostas pelo escritor Flávio Josefo(37-95 a. C.), escrita em Roma na última década do século I da era cristã. Ele afirmava que existia um número fixo e imutável de livros “justamente aprovados”, perfazendo um total de vinte e dois.  Escreve: “Não temos dezenas de milhares de livros, em desarmonia e conflitos, mas só vinte e dois, contendo o registro de toda a história, os quais, conforme se crê, com justiça, são divinos.”. Depois de referir-se aos cinco livros de Moisés, aos treze dos profetas, e aos demais escritos, ele continua afirmando: “Desde Artaxerxes (sucessor de Xerxes) até nossos dias, tudo tem sido registrado, mas não tem sido considerado digno de crédito quanto aquilo que precedeu a esta época, visto que a sucessão dos profetas cessou. Mas a fé que depositamos em nossos próprios escritos é percebida através de nossa conduta; pois apesar de ter-se passado tanto tempo, ninguém jamais ousou acrescentar alguma coisa a eles, nem tirar deles coisa alguma, em alterar neles qualquer coisa que seja”. Sua autoridade fundamentava a sua origem num período de incontestada inspiração profética, começando com Moisés e terminando na época de Neemias. Coube a Esdras por volta de 458 antes de Cristo, estabelecer o que era em essência um Pentateuco canônico, mais curto, na verdade, excluindo todos os acréscimos e expansões. 


A Hilel,  grande expoente do judaísmo, sábio e filosofo, nascido na Babilônia, foi o principal responsável pela seleção dos manuscritos bíblicos proto-rabínicos, que serviram de base para a Recensão Rabínica logo após o exílio na Babilônia. Formou uma escola com a finalidade de representar o pensamento farisaico, sendo considerado uma das mentes mais inteligentes e  criativas de seu tempo. Vemos Esdras e Hilel como um dos primeiros responsáveis pela seleção, revisão e aceitação dos textos da do pentateuco da Bíblia Hebraica, segundo nos dizem as próprias escrituras em Esdras cap. 7, v. 14:“Porque foste enviado pelo rei e seus sete conselheiros, para fazer uma inspeção em Judá e em Jerusalém, e para ver  como está sendo observada a lei de eu Deus que tens em tuas mãos.



  Verificamos, nas passagens abaixo, como podemos constatar que a Bíblia foi escrita pelos próprios patriarcas como Moisés, Josué, e naturalmente por muitos outros profetas que se seguiram. Desta forma, os erros e as contradições que existem nas escrituras acontecem em virtude da abrangência de conhecimentos de cada autor. 

Êxodo cap.24, v.4
E Moisés escreveu todas as palavras do Senhor.

Deuteronômio cap 31 v. 24 a 26
Quando Moisés acabou de escrever todo o texto desta lei, deu aos levitas, que levaram a arca da aliança do Senhor, esta ordem: Tomai este livro da lei e colocai-o ao lado da arca da aliança do Senhor, vosso Deus, para aí servir de testemunho contra ti.

Josué cap.24 v. 26
Josué escreveu tudo isso no livro da lei de Deus, tomou em seguida uma pedra muito grande e erigiu-a ali, debaixo do carvalho que estava o santuário do Senhor.

 Já o cânon descrito pelo escritor judeu, Flávio Josefo, exclui especificamente as obras do período helenístico, que corresponde ao período de influencia grega no judaísmo, e por implicação, obras atribuídas aos patriarcas pré-mosaicos. Muito embora alguns livros fossem conceituados como apócrifos e excluídos da Bíblia, muitos o conheciam e a ele se reportavam. Observamos no Novo Testamento, mais precisamente na Epístola de Judas cap. 5 v. 24, esse fato mais claramente: “Também Enoc, que foi o oitavo patriarca depois de Adão, profetizou a respeito deles dizendo: “Eis que veio o Senhor entre milhares de seus santos”. Essa expressão não é conhecida da Bíblia, e só poderia vir dos livros(pergaminhos) excluídos do cânon hebraico, isso reforça a tese que mesmo excluídos, esses livros(pergaminhos) eram largamente consultados. O cânon descrito por Josefo consta vinte dois livros, e sem dúvida era o mesmo cânon hebraico tradicional que chegou a nós. Em 586, antes de Cristo, após do cativeiro da Babilônia, os judeus se dispersaram pelo mundo e fundaram inúmeras sinagogas. Mas era necessário para isso uma Bíblia, isso resultou numa revolução completa entre os escribas, assumindo normas rígidas e auto regulação como:  só poderiam escrever com peles de animais limpos, fossem essas peles para escrever ou encadernar livros; cada página não poderia ter menos de 48 linhas e não mais do que 60; a tinta usada deveria ser preta e de uma receita especial; deveriam pronunciar em voz alta cada palavra que estava sendo escrita e a cada vez que pronunciavam a palavra “Jeová deveriam limpar a caneta e lavar-se  de corpo inteiro; seus escritos deveriam ser reavaliados a cada 30 dias e se três páginas não estivessem em acordo todo o documento deveria ser refeito; as letras das palavras e dos parágrafos deveriam ser contados e o documento se tornava inválido se duas letras se juntassem. 





Os documentos deveriam ser guardados nas sinagogas, e todos documentos velhos e usados,  deveriam ser enterrados através de uma cerimônia especial. Antes da invenção da imprensa esse processo sacrificante contribuiu para a notável precisão das escrituras comparadas as recentes descobertas arqueológicas conhecidas como os  “Manuscritos do Mar Morto”. A partir do ano de 323 antes de Cristo, após a morte de Alexandre o Grande, o mundo se tornou praticamente bilingüe e o grego, ficou sendo a segunda língua mais falada. Por esta razão tornou-se fundamental a tradução da Bíblia para a língua grega. Por volta do ano 285, haviam vários judeus que faziam parte da subcultura egípcia e de acordo com a tradição, Demétrio de Falero, responsável pela mundialmente Biblioteca de Alexandria, perguntou ao rei Ptolomeu Filadélfio, do Egito se ele conseguiria a tradução da lei Judaica para a fabulosa e universal biblioteca. Para realizar este feito, o rei Ptolomeu, liberou 100.000 escravos judeus que ele tinha sob seu domínio e os enviou como presente, para Eleazar, sumo sacerdote de Jerusalém para que ele pudesse, desta forma realizar o seu pedido. O rei Ptolomeu, desejava que fossem selecionados seis sábios de cada uma das 12 tribos de Israel, perfazendo assim, 72 sábios. Esses deveriam ir para Alexandria, para trabalhar nesta tradução. Ao chegarem  foram recepcionados com todas as pompas merecidas e imediatamente foram enviados para a ilha de Ferus,  especialmente preparada. Nesta ilha, haviam 72 cubículos; um para cada homem, e em 72 dias eles traduziram todo o Torá para a língua grega, assim eles batizaram este importantíssimo trabalho como Septuagina, que em grego significa setenta foi essa versão utilizada por Jesus em suas pregações. 




Desta tradução do Velho Testamento  surgiram outras. Teodocião, um prosélito judeu do século II, fez uma adaptação da septuagina que foi usada pelos cristãos. Áquila, pagão convertido, fez uma tradução do hebraico para o grego entre os anos de 117 a 118 da era cristã, que foi largamente divulgado entre os judeus. Simaco, um ebonita que viveu no fim do século II, traduziu o velho testamento para o grego para o culto nas sinagogas. Foram feitas traduções em aramaico língua pátria de Jesus, chamadas targum, as cópticas do Egito, as armênias, as etiópicas e outras.


O CÂNON DA BÍBLIA HEBRAICA E OS LIVROS EXCLUÍDOS

LIVROS INCLUÍDOS
LIVROS POSTERIORES INCLUÍDOS

Bíblia Hebraica

Pentateuco                           Profecias

Gênesis                                Josué
Êxodo                                  Juizes
Levítico                               Samuel
Números                              Reis
Deuteronômio                      Isaías
                                             Jeremias

Doze Profetas Menores       Escritos                 

Oséias          Naum                 Salmos
Joel              Habaduc             Provérbios
Amós           Sofonias             Jó
Abadias       Ageu                   Rute
Jonas           Zacarias              Lamentações 
Miquéias     Malaquias           Esdras/Neemias
                                                Crônicas




 Eclesiastes
 Cântico dos Cânticos
 Ester
 Ezequiel
 Daniel



LIVROS POSTERIORES EXCLUÍDOS
LIVROS POSTERIORES EXCLUÍDOS

Livros marginais atribuídos aos Patriarcas Pré-Mosaicos

Literatura de Enoque
Visão de Armam
Testamento dos Doze Patriarcas


Embora excluídos da Bíblia hebraica, foram incluídos na Septuaginta e posteriormente na Bíblia Católica em 8 de abril de 1546.


Ben Shira (Eclesiástico)
Macabeus
Tobias
Baruc
Sabedoria de Salomão
Epístola de Jeremias
Adições a Daniel(profecias)




                        O monge agostiniano, que se tornou protestante Martinho Lutero (1484-1546), querendo contestar o regime católico, resolveu adotar o cânon dos judeus da Palestina, deixando de lado os sete livros deuterocanônicos que a Igreja recebera dos judeus de Alexandria. 

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